Apesar dos avanços na consciencialização e nas políticas públicas nos últimos anos, os menores com deficiência têm duas vezes mais hipótese de sofrer qualquer forma de violência desde a nascença até aos 18 anos, alerta um estudo publicado na The Lancet Child & Adolescent Health.
A investigação utilizou dados de mais de 16 milhões de crianças de 25 países, através de uma análise baseada em 98 estudos, realizados entre 1990 e 2020, sendo 75 com dados de países ricos e 23 de sete países de baixo ou médio rendimento.
Os autores do trabalho apontaram que, embora o estudo forneça um quadro mais abrangente de violência sofrida por crianças com deficiência em todo o mundo, há uma escassez de dados em países de baixo ou médio rendimento, especialmente no Sudeste e Ásia Central e na Europa Oriental.
No entanto, as descobertas salientam a necessidade urgente dos governos, assistentes sociais e instituições de saúde trabalharem em conjunto para aumentarem a consciencialização sobre todas as formas de violência e fortalecer os esforços de prevenção.
Os especialistas lembram que estas situações podem ter um impacto sério e duradouro na saúde e no bem-estar dos menores.
"Os nossos resultados revelam índices inaceitáveis e alarmantes de violência contra crianças com deficiência que não podem ser ignorados", sublinhou Jane Barlow , investigadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Crianças com deficiências cognitivas ou de aprendizagem ou problemas de saúde mental e aquelas com deficiências de origens em baixos rendimentos, são mais propensas a sofrer violência.
A grande maioria das crianças com deficiência - mais de 94% - vive em países de baixo ou médio rendimento, onde convergem múltiplos riscos.
A estigmatização, discriminação, falta de informação sobre deficiência e acesso inadequado a apoio social para cuidadores contribuem para os níveis mais altos de violência que as crianças com deficiência são alvo.
O risco pode ser agravado pela pobreza e isolamento social, bem como pelos desafios únicos que as crianças com deficiência enfrentam, como a incapacidade de verbalizar ou de se defenderem.
O estudo aponta que as taxas gerais de violência variaram de acordo com a deficiência e foram ligeiramente maiores entre crianças com transtornos mentais (34%) e deficiências cognitivas ou de aprendizagem (33%) do que entre aquelas com deficiências sensoriais (27%), limitações físicas ou mobilidade (26 %) e doenças crónicas (21%).
Os tipos de violência mais relatados foram a emocional e a física, sofridas por aproximadamente uma em cada três crianças e adolescentes com deficiência.
As estimativas sugerem que uma em cada cinco crianças com deficiência sofre negligência e uma em cada dez sofreu de violência sexual.
O estudo também chama a atenção para os altos níveis de bullying por parte de colegas, com cerca de 40% das crianças com deficiência a terem sido alvo deste tipo de ataque.
O bullying presencial (atos físicos, verbais ou sociais, como bater, pontapear, insultar, ameaçar ou excluir) é mais comum (37%) do que o cyberbullying (23%).
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