
Nos últimos anos, o consumo de carne - especialmente carnes processadas e carnes vermelhas - tem estado no centro de muitos debates sobre saúde.
Carnes vermelhas e carnes processadas: qual a diferença?
Carnes vermelhas: incluem todo o músculo de mamíferos como vaca, porco, cordeiro, cabra, veado ou cavalo.
Carnes processadas: são carnes submetidas a processos de transformação como salgar, curar, fumar, fermentar ou outros que potenciem o sabor ou aumentar o tempo de conservação. Exemplos: fiambre, salame, bacon, chouriço, salsichas, patês, entre outros produtos de charcutaria.
O que diz a ciência sobre carne e risco de cancro?
A Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC), da Organização Mundial da Saúde, classifica:
- As carnes processadas como carcinogénico do Grupo 1 - há evidência suficiente de que causam cancro em humanos.
- As carnes vermelhas como carcinogénico do Grupo 2A - há evidência limitada de que podem causar cancro.
Vários estudos indicam que uma percentagem significativa dos casos de cancro colorretal pode estar associada ao consumo destes tipos de carne.
De que forma aumentam o risco?
Alguns mecanismos associados ao risco incluem:
- Aditivos químicos como nitritos e nitratos, usados na conservação de carnes processadas, podem reagir e formar compostos cancerígenos no organismo após a ingestão.
- Métodos de confeção a altas temperaturas, como grelhar ou cozinhar diretamente sobre chamas, promovem a formação de aminas heterocíclicas (AH) e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP) - substâncias associadas ao desenvolvimento de cancro colorretal em estudos experimentais.
Quais são as recomendações para um consumo seguro?
A World Cancer Research Fund recomenda a limitação do consumo destes alimentos entre as duas 10 principais recomendações para a prevenção de cancro:
- Consumir quantidades moderadas de carne vermelha:até 3 porções por semana, o que corresponde a 350-500 g de carne cozinhada (ou 700-750 g em cru).
- Evitar ou limitar ao máximo o consumo de carnes processadas.
Como reduzir o consumo de carne vermelha e processada?
Aqui ficam algumas sugestões práticas:
- Substitua carnes vermelhas por frango, peru, pescado ou ovo.
- Inclua “dias sem carne” ao longo da semana. Experimente proteínas vegetais como feijão, lentilhas, grão-de-bico, tofu ou tempeh.
- Reduza as porções habituais: por exemplo, opte por uma fatia de fiambre em vez de duas, ou escolha peças de carne de menor dimensão.
- Use especiarias, ervas e plantas aromáticas como pimentão doce (colorau), alho ou cebola como alternativa ao chouriço para dar sabor aos pratos.
- Dê destaque aos hortícolas, leguminosas e cereais integrais, tornando-os o centro da refeição.
- Inove nos grelhados de verão: cogumelos, pimentos e tomate grelhados são alternativas saborosas ao bacon e às salsichas.
- Evite produtos com os termos “curado”, “salgado”, “fumado”, “com nitritos” ou “nitratos” - são indicadores de uma carne processada.
Conclusão: carne causa cancro?
A evidência sobre a relação entre o consumo frequente de carnes vermelhas ou processadas e o desenvolvimento de cancro colorretal é sólida.
No entanto, não significa que a carne precise ser completamente eliminada da alimentação. A chave está na moderação e na realização de escolhas informadas.
Como parte de uma alimentação saudável, equilibrada e variada, dê preferência a alimentos de origem vegetal: fruta, hortícolas, cereais integrais e leguminosas devem ocupar um lugar central na sua alimentação - e são protetores do risco de cancro.
Um artigo da nutricionista Patrícia Almeida Oliveira, Coordenadora do Serviço Nutrição do Hospital Cruz Vermelha.
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