A alergia alimentar afeta milhões de pessoas em todo o mundo e ocorre devido a uma resposta imunológica adversa a determinados alimentos. Trata-se atualmente de um problema crescente de saúde pública: o número de pessoas afetadas tem aumentado muito nas últimas décadas, bem como a gravidade das reações que desenvolvem. Esta situação requer assim uma maior consciencialização da sociedade para garantir a segurança, saúde e qualidade de vida das pessoas com alergia.
A alergia alimentar envolve um conjunto alargado de manifestações clínicas, sendo a anafilaxia a de maior gravidade e que pode ser, inclusivamente, fatal. Em muitos casos, a falta de informações claras sobre a presença de alergénios nos alimentos, bem como a contaminação cruzada durante a preparação dos mesmos, contribuem significativamente para a ocorrência de anafilaxia.
Porque é que a prevalência da alergia alimentar está a aumentar?
Embora qualquer pessoa possa sofrer de alergia alimentar, têm sido identificados diversos fatores que podem influenciar a sua ocorrência. Uns fatores dependem do próprio (história genética e familiar), enquanto outros fatores são externos e podem ser modificáveis. Acredita-se que estes fatores externos (fatores ambientais) possam explicar, em grande parte, o aumento da alergia alimentar nas últimas décadas. Alterações nos padrões alimentares, o sedentarismo, a toma indiscriminada de medicamentos como antiácidos, hábitos tabágicos e contacto reduzido com ambientes naturais são alguns exemplos destes fatores ambientais.
Podemos prevenir a alergia alimentar?
Apesar do progresso significativo na identificação de fatores de risco para a alergia alimentar, infelizmente ainda há pouco que possa ser comprovadamente recomendado para prevenir a doença.
Assim, o alvo das recomendações atualmente para a prevenção da alergia alimentar passa por alterar os fatores de risco modificáveis, através da adoção de um estilo de vida saudável e do contacto com ambientes naturais.
Que cuidados devemos ter?
O documento mais recente elaborado pela Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica (EAACI) sobre este tema é de 2020 e emite sugestões sobre comportamentos a adotar e a evitar.
É sugerido, assim, evitar o uso de fórmula adaptada como alimento suplementar em bebés amamentados na primeira semana de vida,introduzir ovo bem cozido, mas não ovo cru ou mal-cozinhado - de acordo com os estudos, estima-se que a melhor idade seja entre os 4 e 6 meses de vida e introduzir amendoim, numa forma apropriada para a idade, como parte da alimentação complementar, em populações onde existe uma alta prevalência de alergia ao amendoim, entre os 4 e 6 meses de vida.
Por outro lado, a Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica recomenda não evitar alergénios alimentares durante a gravidez ou amamentação e não usar fórmula à base de proteína de soja nos primeiros 6 meses de vida como meio de prevenção de alergia alimentar.
Para além destas recomendações, será importante reforçar outros conselhos práticos que permitam a construção e a melhoria da nossa tolerância imunológica, como:
- promover a amamentação e a diversidade alimentar durante a alimentação complementar, promover o contacto com ambientais naturais
- praticar atividade física de forma regular
- ter uma alimentação saudável (seguindo o pressuposto de padrões alimentares saudáveis como a Dieta Mediterrânica)
- consumir alimentos com probióticos (como alimentos fermentados)
- utilizar medicamentos como antibióticos apenas de acordo com a prescrição médica
- evitar/reduzir hábitos tabágicos.
Um artigo de Inês Pádua, Nutricionista no Hospital CUF Trindade e Mariana Couto, Imunoalergologista no Hospital CUF Trindade.
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