A 29 de novembro celebramos, a partir deste ano, o Dia Mundial das Doenças do Movimento, que é também o dia do nascimento do famoso neurologista francês Jean-Martin Charcot, que descreveu muitas das doenças que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Este mês passa também a ser marcado pela sensibilização para estas doenças.
As doenças do movimento representam um conjunto de doenças neurológicas caracterizadas por alteração do movimento – excesso (movimentos ou posturas involuntárias) ou redução (lentidão ou escassez) de movimento. A maioria destas doenças são causadas por processos neurodegenerativos que provocam disfunção progressiva de estruturas e circuitos cerebrais que controlam o movimento. As doenças do movimento mais comuns são o tremor essencial, a síndrome das pernas inquietas e a doença de Parkinson. Outras doenças do movimento incluem: Demência de Corpos de Lewy, Paralisia Supranuclear Progressiva (PSP), Atrofia Multissistémica (MSA), distonias, parkinsonismo vascular.
Embora os sintomas mais óbvios sejam as alterações do movimento, a maioria destas doenças apresentam outras manifestações, como alteração da tensão arterial, prisão de ventre, alterações urinárias ou depressão/ansiedade, que podem ser tão ou mais desconfortáveis. A gravidade da doença, a incapacidade e o impacto na qualidade de vida e no bem-estar é muito variável. Por outro lado, em muitos casos, algumas destas doenças podem até apresentar sintomas muito semelhantes, tornando-as difíceis de diferenciar. Assim, é fundamental que estes indivíduos sejam integrados na consulta de doenças do movimento para que o diagnóstico e tratamento sejam implementados o mais precocemente possível. O diagnóstico é baseado na avaliação inicial e no exame neurológico, permitindo a caracterização do movimento anormal. Posteriormente, a investigação pode ser complementada com alguns exames, como a Ressonância Magnética ou outros exames de medicina nuclear.
De facto, as causas destas doenças são inúmeras. Nos últimos anos, houve uma explosão de conhecimento na área da genética, assim como o aparecimento de novas doenças previamente desconhecidas, como algumas encefalites autoimunes.
O tratamento das doenças do movimento deve ser individualizado de acordo com a causa, o tipo de movimento anormal e o seu impacto profissional, social e nas atividades de vida diária. Embora os tratamentos de cura sejam decepcionantes, a maioria dos sintomas melhora substancialmente com medicação adequada e com a neurorreabilitação, incluindo a fisioterapia e a terapia da fala. Em alguns casos, o uso da cirurgia estimulação cerebral profunda ou tratamento com toxina botulínica pode melhorar significativamente a gravidade dos sintomas. Apesar de em Portugal existirem centros clínicos de excelência que disponibilizam estes tratamentos, nem todos os doentes conseguem aceder-lhes de forma ágil e rápida.
Por razões não esclarecidas, os dados mais recentes sugerem que o número de pessoas com doença de Parkinson irá duplicar nos próximos 25 anos, tornando-se a doença neurológica com maior crescimento. Estes dados apocalíticos implicam que toda a população deva ter conhecimento sobre as doenças do movimento para que possam procurar os profissionais de saúde competentes na área.
É fundamental que as instituições governamentais possam agir de forma a implementar algumas medidas que permitam prevenir o aparecimento destas doenças e disponibilizar tratamentos adequados de forma equitativa.
Um artigo da médica Ana Castro Caldas, especialista em Neurologia e Coordenadora Clínica no Campus Neurológico, a propósito do Dia Mundial das Doenças do Movimento.
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