Sempre que me perguntam se sou feliz, eu respondo que sim, com um sorriso de orelha a orelha. É vulgar nas minhas saudações, até mesmo a pessoas que acabaram de me ser apresentadas, eu perguntar-lhes se estão felizes por terem nascido? Sinto que ser ou estar feliz é visto, por muita gente, quase como um tabu, como algo que não se pode assumir como um facto real. Quem diz ser feliz é, de um modo geral, visto como uma espécie de louco porque, afinal, ser feliz é, no conceito geral, uma miragem.
Normalmente, a resposta à questão sobre a felicidade de cada um é dada com um encolher de ombros ou com um erguer de sobrancelhas, o que me leva a expressões populares como "Vai-se andando" ou como "Vou como Deus quer”. Há ainda quem apresente outras, igualmente curiosas e desviantes, da responsabilidade que o próprio tem sobre a sua felicidade. Ser feliz, é algo que se deve comer, digamos assim, a todas as refeições. E em todos os intervalos das refeições. Enquanto estamos vivos.
Ser feliz tem muito a ver com muita da nossa capacidade de olhar em volta e de perceber tudo o que existe ao nosso redor, valorizando tudo o que compõe a nossa existência. Eu sou de facto um privilegiado, reconheço-o. Vivo a cerca de 40 quilómetros do trabalho e tenho a possibilidade de apreciar paisagens lindíssimas no caminho de e para o emprego. Por vezes, não poucas, perguntam-me porque não procuro residir mais perto do trabalho. Eu sorrio e algumas vezes explico. Quando saio de casa, vejo muitas vezes o nascer do sol e, quando regresso, vejo também o pôr do sol. Vejo montes, vejo pessoas, vejo o verde do meu norte e tenho ainda tempo para, entre tudo isto, desligar do trabalho ou focar-me para o trabalho. Tenho tempo para pensar, para ouvir as minhas músicas e as minhas rádios, para rir-me com programas matinais…
Desfruto da viagem, ao invés de a ver como um peso no meu dia. E no seu caso, costumo perguntar? De um modo geral, recebo uma resposta vaga, de quem, não se rendendo, também não terá muito para dizer ou contrapor. De um modo geral, na minha opinião, ser feliz é estar vivo. É ser capaz de enfrentar com vontade de vencer cada obstáculo que a vida nos coloca no caminho. E, por cada obstáculo que transponho, fico mais feliz porque, assim, acumulo mais uma vitória. É uma vitória sobre mim próprio.
Não é uma vitória comparativa com ninguém porque essas, sim, na realidade, são as conquistas que mais importam. A grande questão é que o ser humano tem sempre a tendência para viver a competir com tudo o que o rodeia, exceto consigo próprio porque, para isso, tem de olhar muito para dentro de si e isso, meus amigos, é muito difícil! É, não é? Também o reconhece? Isso obriga-nos a reconhecer as nossas fragilidades, as nossas incompetências, as nossas incongruências e as nossas incoerências.
E, o pior de tudo, obriga-nos a reconhecer a quantidade de vezes que cometemos o maior dos pecados que podemos cometer, que é mentirmo-nos a nós próprios. No meio de todo o alvoroço da minha viagem pela vida, também procuro o meu tempo. Procuro aquele tesouro que toda a gente diz não ter, que é o meu momento, aquele bocadinho no espaço temporal do dia em que me encontro… O tempo! Sim, ser feliz é estarmos dispostos a termos tempo para olhar para dentro de nós e sermos capazes de o fazer.
Mas mais do que isso, é ter a coragem de o fazer, algo que muitas vezes nos falta. Ser feliz é, talvez, acima de tudo, um ato de coragem que me obriga a ser diferente à vista do comum mortal, a ser visto como uma espécie de louco e a passar uma imagem que, nalguns casos, ao olhar de quem me vê, roça a irresponsabilidade, não o sendo de todo, na verdade. Ser feliz não é só ter um olhar crítico sobre tudo o que me envolve mas também, e principalmente, sobre quem sou e sobre quem (não) quero ser.
Texto: Pedro Quaresma da Silva (coach certificado pela ICU Portugal)
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