Amanhã, dia 28 de julho, Dia da Sobrecarga da Terra, assinala-se o momento em que esgotamos todos os recursos naturais que o nosso planeta consegue regenerar num ano, o que significa que a partir desta data passamos a viver em défice ecológico. 

O consumo alimentar, por si só, em Portugal, representa 32% da pegada ecológica nacional (comparativamente, o setor dos transportes e mobilidade contribui com cerca de 18%).

Tendo em conta este cenário, a Associação Vegetariana Portuguesa (AVP), em parceria com a associação ambiental ZERO, o projeto LeguCon e o laboratório colaborativo Food4Sustainability, lançou um novo projeto: o Proteína Verde. O relatório hoje divulgado demonstra que a produção intensiva de proteínas animais tem um peso particularmente significativo na pegada ecológica. A iniciativa visa promover a transição gradual para uma agricultura e sistema alimentar baseado predominantemente na proteína vegetal, contribuindo assim para a redução da pegada ecológica dos portugueses e para a mitigação dos impactos das alterações climáticas.

Um sistema alimentar insustentável

A atual forma de consumo global excede a capacidade que o nosso planeta tem de regenerar recursos naturais e de absorver resíduos (com particular incidência nos países desenvolvidos).

“As alterações climáticas e a sustentabilidade dos ecossistemas e da economia, face a um sistema planetário com claros limites físicos e biológicos, representam o problema mais grave e mais premente que se colocou à espécie humana nos últimos três quartos de século”, denota Pedro Ribeiro, da Associação Vegetariana Portuguesa, e que integra a equipa por detrás do projeto.

O relatório Proteína Verde: Plantar a Alimentação do Futuro conclui, entre outros e com base na informação científica recolhida, que “apesar do total dos setores associados à produção animal para consumo humano ocuparem cerca de 83% de toda a superfície agrícola do planeta, apenas contribuem para suprir 18% das necessidades calóricas da população e cerca de 37% das necessidades proteicas”.

“Todas as cadeias de produção alimentar implicam custos externos, tanto ao nível das alterações climáticas, como do agravamento da seca, contaminação da água, perda de habitats e extinção de espécies, mas a forma como produzimos atualmente alimento acarreta ainda mais custos do que aqueles que poderíamos ter, ou seja, é altamente ineficiente”, defende Joana Oliveira, da Associação Vegetariana Portuguesa e parte da equipa responsável pelo projeto.

A título de exemplo, 1 kg de bife de vaca, produzida em Portugal, em modo intensivo, contribui com uma emissão de cerca de 80 kg de CO2eq (equivalentes de CO2), o que pode ser equiparável a uma viagem de 230 km de carro. Comparativamente, a produção de 1 kg de feijão gera apenas 1 kg de CO2eq, ou seja, o bife de vaca contribui 80 vezes mais para a emissão de gases com efeito de estufa.

A transição proteica: uma questão de saúde pública e de inclusão

“Uma maior proporção de proteína vegetal na nossa alimentação não significa apenas uma dieta mais saudável e uma melhor qualidade de vida, é também um contributo muito significativo para a neutralidade climática, para a diminuição da desflorestação inerente às importações de mercadorias contidas na alimentação animal e para a diminuição de pressões sobre os recursos hídricos, solo e biodiversidade. Uma estratégia nacional para as leguminosas é essencial para a transição ecológica justa do sistema alimentar”, afirma Pedro Horta do grupo de trabalho de agricultura, floresta e biodiversidade da associação ambiental ZERO.

Segundo este relatório do projeto Proteína Verde, existem vantagens claras para a saúde dos portugueses se a sua principal fonte proteica for de base vegetal, elencando-se dados de especialistas (tais como os da The EAT-Lancet Commission), que defendem uma alimentação centrada em alimentos de origem vegetal, em linha com a transição para um cenário focado em proteína vegetal e num regresso às origens da alimentação mediterrânica.

Segundo os dados da balança alimentar de 2020, a nossa alimentação deveria ser constituída por 23% de legumes e consumimos apenas pouco mais de metade (14,4%). No caso da carne, ovos e pescado, deveria representar 5%, mas representa 16,9% (mais de 3 vezes o valor recomendado).

Nuno Alvim, presidente da Associação Vegetariana Portuguesa, realça ainda a necessidade de inclusão ao nível do sistema alimentar: “A Roda dos Alimentos Portuguesa é a roda dos alimentos de alguns portugueses, mas não de todos. Se analisarmos por um prisma mais amplo, ignora que existem pelo menos 1 milhão de pessoas em Portugal, de acordo com um estudo recente de 2021, que ao longo da semana preferem fazer refeições vegetarianas".

O Proteína Verde “pretende levantar o debate e é uma proposta de mudança”. O primeiro relatório do projeto designa-se de Plantar a Alimentação do Futuro e inclui 15 recomendações de políticas públicas ao governo português. Pode ser consultado gratuitamente em http://avp.org.pt/proteinaverde (as recomendações encontram-se a partir da página 104 do documento).