A Joana lançou anteriormente o livro Torna-te o Amor da Tua Vida. Agora, em 2024, apresenta-nos este seu A Coragem Para Seres Tu Própria. Há, nos temas, uma relação entre os dois livros?
Sim, há uma relação nos temas, uma vez que a autoestima está relacionada com a autenticidade, mas podem e devem ser lidos em separado. Quem lê o segundo livro não precisa de ler o primeiro livro em primeiro lugar. Pode ler apenas um, pode ler os dois, na ordem que entender. O que distingue os livros Torna-te o Amor da Tua Vida e A Coragem Para Seres Tu Própria é precisamente os temas. Enquanto o primeiro livro trabalha a autoestima e amor próprio, este segundo trabalha a coragem, a autenticidade e confiança. Neste novo livro trago um outro desafio: termos a coragem de olharmos para nós como seres únicos e imensamente válidos, aceitarmo-nos tal e qual como somos sem termos de ceder a pressões e às opiniões dos outros e, assim, escolhermo-nos todos os dias com amor. Escrevi este livro para que todas as pessoas que algum dia já sentiram que não eram boas o suficiente, tal como eram, possam dizer que foi a última vez que o acharam. Que possam dizer um “basta” a viver de acordo com o que os outros querem e julgam. Que possam dizer um “basta” à autocrítica. Que possam dizer um “basta” a relações não saudáveis. Que, ao invés disso, após esta leitura e prática de exercícios, saibam sempre que a sua voz importa. Neste segundo livro encontram muitas estratégias para lidar com o medo do julgamento dos outros e com a autocrítica que muitas vezes está presente. É preciso sair da nossa zona de conforto, libertarmo-nos destas críticas e julgamentos e avançar, para vivermos a vida que queremos viver. À semelhança do livro anterior, o tipo de escrita é o mesmo, e este conta, tal como o primeiro, com um discurso carinhoso e empático, reflexões, estudos científicos, ensinamentos, pesquisas e exercícios práticos.
No título do presente livro sobressai a palavra “coragem”. O termo tem implícito o sentido de superação. É um convite a uma mudança radical na vida das leitoras?
Não, radical não. Tem sim um convite à mudança, no sentido da evolução, do aumento da sua confiança e coragem, de conseguirem seguir os seus sonhos e lidar com o julgamento dos outros, mas de forma gradual. A mudança deve ser feita de forma gradual e acolhedora. Através dos exercícios e reflexões, de um discurso de força, motivacional e acolhedor. É isso que proponho às leitoras.
A Joana escreve que a coragem traz consigo a vulnerabilidade e o desconforto. Porquê?
O estudo de que a coragem implica vulnerabilidade foi realizado por Brené Brown, investigadora de renome na área das emoções, que como explico no livro descreve a coragem como sendo algo intrinsecamente ligado à vulnerabilidade. Defende que a coragem não é dos que não são vulneráveis, pelo contrário, é precisamente dos que são. Porque para se ser corajoso é-se vulnerável. São duas faces da mesma moeda, uma [a coragem] não existe sem a outra [a vulnerabilidade]. Quando somos corajosos, estamos fora da nossa zona de conforto, estamos vulneráveis ao que possa ser e como correr. Além disso, ser corajoso frequentemente significa enfrentar adversidades e lidar com críticas e julgamentos, o que pode ser emocionalmente difícil e causar desconforto. Por isso, o último capítulo do livro aborda a gestão de emoções, ensinando como podemos gerir as mesmas. Escrevo até no livro que muitas vexes se considera que as pessoas não querem lidar com o desconforto, mas eu acredito que as pessoas não sabem como lidar com esse desconforto, porque não foram ensinadas. Assim, o último capítulo do livro pretende ajudar a saber lidar com todas as emoções, incluindo as que nos são mais desconfortáveis, mas ainda assim importantes. A coragem não é ausência de medo, mas sim a capacidade de agir apesar do medo, e isso muitas vezes envolve enfrentar a vulnerabilidade e o desconforto.
Tendemos a acreditar que a coragem se prende aos grandes feitos. Contudo, esta também pode estar nos pequenos passos. Quer dar-nos alguns exemplos?
Sim, claro. As demonstrações de coragem, que podem ser diferentes para cada um. A maior regra da psicologia, para mim, é essa mesmo: cada caso é um caso, cada pessoa é única e todas válidas. Para algumas pessoas um ato de demonstração de coragem pode ser saltar de paraquedas, para outras fazer uma viagem de carro ou até sair de casa; para umas pode ser comprar uma casa, para outras voltar para casa dos pais; para umas pode ser dizer a alguém que se ama e para outras terminar um namoro ou noivado/casamento, pode ser até levantar da cama num dia difícil. Ou todos juntos.
A Joana refere-se com frequência aos padrões que são impostos às mulheres. Que padrões são estes?
Os padrões impostos às mulheres incluem expectativas e pressões relacionadas a diversos aspetos da vida, e dependem de cultura para cultura e época para época. No livro refiro-me aos padrões impostos ainda hoje na nossa sociedade, por exemplo relacionados com a aparência física, onde há a divulgação e promoção de padrões de beleza irrealistas e que podem levar a sérios problemas de baixa autoestima, problemas com a imagem corporal e até distúrbios alimentares; relacionados com o seu papel na família, em que se espera que as mulheres sejam mais cuidadoras e donas de casa do que apostarem na carreira; relacionados com a expectativa de sucesso na vida de uma mulher, que muitas vezes se prende com questões como, se a pessoa está solteira “quando encontras alguém?”, quando encontra “quando namoras?” depois “quando casas”, em seguida “quando tens filhos” e por aí em diante como se existisse um único caminho “correto” que devem percorrer.
Entre os padrões que refere algum é mais lesivo ao “eu” feminino?
É difícil determinar qual padrão é mais lesivo ao "eu" feminino, porque todos estes padrões, e outros que possa não ter mencionado, podem ter impacto negativo significativo na vida das mulheres, dependendo do contexto e das experiências individuais de cada uma. Cada caso é um caso e certos padrões ou até mesmo comentários de julgamento de pessoas relativamente ao atingimento ou não desses mesmos padrões podem ter consequências para a saúde mental como autoestima mais baixa, desenvolvimento de sintomatologia ansiosa, depressiva, distúrbios alimentares, sentimentos de frustração e inadequação, entre outros.
Ao longo do livro, a leitora encontra inúmeros exercícios. Qual é o objetivo que preside a estes exercícios?
Os exercícios ao longo do livro têm como objetivo proporcionar às leitoras material prático para aplicar os conceitos teóricos que refiro e as reflexões. Acredito que é na prática que conseguimos ver a transformação, e os exercícios visam promover a reflexão, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal, permitindo que quem lê o livro e pratica os exercícios se envolva de forma mais profunda e possa retirar aprendizagens valiosas para o seu dia a dia, com exercícios e estratégias que possa aplicar e sentir diferença. No entanto, é de extrema importância referir que o livro não tenta substituir a terapia e que se uma pessoa sente que está em sofrimento, deve pedir ajuda psicológica individual. Muitos dos exercícios que coloco no livro são exercícios que utilizo em consulta, mas em leitura não é algo personalizado e avaliado caso a caso. Caso a pessoa sinta que está em sofrimento e precisa de ajuda, deve pedir consulta de psicologia clínica.
A Joana leva para o seu livro várias histórias inspiradoras. Quer destacar alguma?
Trago no livro algumas histórias que exemplificam a coragem e que servem não só de inspiração a quem o ler, mas também como aprendizagens. Todas as histórias trazem consigo aprendizagens que todos podemos beneficiar no nosso dia a dia. Prefiro não destacar nenhuma em particular, porque todas têm a sua importância e são essenciais de ser lidas. Trazem, como disse, diferentes aprendizagens e umas podem ser mais úteis a umas pessoas do que outras. Recomendo a leitura para que as pessoas possam encontrar força e inspiração a cada história, possam perceber qual se enquadra melhor para si e possam, através dos exercícios de autoconhecimento entender que a sua própria história também é importante, digna e válida.
Diz-nos a Joana que a sociedade nos impõe inúmeros papéis. Será que conseguimos ser, verdadeiramente, nós mesmos?
Embora a sociedade possa impor inúmeros papéis, ainda temos o poder de procurar e cultivar o nosso verdadeiro eu, a nossa autenticidade. É de facto um processo e pode ser alcançado através da reflexão, do autoconhecimento, da autoaceitação e da prática contínua. É importante lembrarmo-nos que estamos sempre a evoluir e que, com isso, vamos mudando a nossa perceção, incluindo de nós próprios. O processo de autoconhecimento [de nos conhecermos] é realizado ao longo da vida, e por isso os exercícios serem tão importantes. Mesmo sendo um processo longo, se analisarmos o impacto que tem ao nível da saúde mental, podemos perceber, através dos estudos científicos que têm vindo a ser realizados, que a autenticidade percebida (ver caixa) está relacionada ao aumento do bem-estar e tem um papel de proteção contra algumas patologias como ansiedade e depressão. Em tópicos claros, estas são as conclusões de alguns de vários estudos que têm sido publicados no âmbito da autenticidade para entendermos a importância.
É comum escutarmos a expressão “sair da zona de conforto”. A Joana traz essa expressão para o seu livro. Conseguiremos superar sem “sair da zona de conforto”?
Sim, precisamos de sair da zona de conforto, e essa expressão não precisa de ser assustadora. Precisamos de sair da zona de conforto, indo para uma zona de aprendizagem gradual. Não se trata de fazermos o que temos mais medo e entrar numa zona de pânico. Trata sim de darmos oportunidades a novos desafios, a fazermos algo novo que ainda não fizemos antes, a aprender algo novo, a confiarmos em nós para evoluir de forma gradual, saudável.
Em que situações nos deve soar o alerta face ao julgamento dos outros a nosso respeito?
Infelizmente não é possível passarmos a vida toda sem que ninguém nos dirija uma crítica, ou uma opinião não solicitada. No entanto, nem todas são negativas. Críticas construtivas podem sempre ser uma excelente fonte de feedback, de melhoria e de aprendizagem. Quando a crítica é destrutiva precisamos de ter atenção e não “assumir como nossa”. Questionar o que ouvimos, sem colocarmos em causa o nosso valor. No livro trago um esquema que as pessoas podem utilizar que as vai ajudar a responder tanto a críticas construtivas como destrutivas, mas é importante saber distingui-las, pois as críticas podem ser construtivas ou destrutivas, dependendo do modo como são ditas e do seu conteúdo.
A Joana inclui no seu livro um Diário das Emoções. Quer explicar aos leitores do que se trata?
O Diário das Emoções é um dos mais de 30 exercícios que trago neste livro, que tem como objetivo ajudar as pessoas a ganhar maior consciência sobre as suas emoções, percebendo o que sentem, e validando essas mesmas emoções. A proposta do exercício é que seja preenchido um diário em forma de tabela, onde se deve ir registando as emoções sentidas no dia a dia e respondendo às questões em cada coluna da tabela. As questões são: “O que estava a acontecer? (situação)”; “O que senti? (emoções)”; “o que a emoção me estava a transmitir? (informação)”; “Se eu estivesse a apoiar uma amiga e quisesse validar a sua emoção, o que diria para apoiar e validar?”; “o que eu gostaria de ouvir ou precisava de ter ouvido neste momento é que:”
No entanto, também pode ser realizado sem tabela, escrevendo livremente, utilizando uma folha em branco, ou em escrita corrida como se de um verdadeiro diário se tratasse. O importante é que a pessoa consiga transportar para o papel as suas emoções e tentar compreendê-las de forma empática consigo mesma, validando-as e percebendo a informação que trazem.
Comentários