O crescimento das crianças implica muitas e constantes mudanças. O desenvolvimento das funções cognitivas permite avanços na capacidade de regulação emocional e comportamental da criança, nomeadamente através da capacidade para se colocar no lugar do outro, percebendo as suas necessidades e compreendendo que pode ter pensamentos, interesses e intenções diferentes.

Este contínuo crescimento acontece numa dança perfeita entre o potencial inato de cada criança e o seu meio externo, incluindo aquilo que observa no que a rodeia e as interações que vai tendo com os outros, que lhe vão colocando exigências importantes e desafios estimulantes à sua capacidade de regulação.

Numa fase inicial do desenvolvimento infantil, é expectável que a criança ainda sinta dificuldade em gerir aquilo que sente e a forma como se comporta. Durante esta fase, a criança dependerá de figuras significativas que a ajudem a adquirir estas competências de regulação emocional.

Os cuidadores (p.e. pais, avós, educadores/professores) assumem aqui um papel fundamental, mas nem sempre é fácil para o adulto perceber o que pode fazer e qual o limite entre ajudar a criança neste processo e estar “a fazer por ela”.

A posição a assumir, por parte dos cuidadores, varia consoante as situações que desencadearam determinada resposta emocional. No entanto, é sempre importante ter uma postura compreensiva, ouvindo a criança, sem assumir uma conclusão prévia ou precipitada. Desta forma, perceber-se-á melhor o que motivou determinada reação e adequar-se-á a resposta parental (ou de outras figuras cuidadoras).

A validação das emoções assume também grande importância, mostrando à criança que pode sentir aquilo que está a sentir e que as emoções não são perigosas nem devem ser evitadas. Todas as emoções devem ser acolhidas, mesmo as que são tipicamente conotadas como negativas, porque todas elas têm uma função importante na expressão, regulação e gestão emocionais.

Aceitar as emoções não significa concordar com a expressão dessas mesmas emoções. Por exemplo, podemos aceitar que a criança esteja a sentir zanga, mas não aceitar a forma como a criança a expressa, quando isso implica dano para si mesma ou para o outro. Ajudar a criança a expressar de forma adequada as suas emoções é essencial para uma boa saúde mental.

Para além disto, o papel do adulto passa também por:

  • Mostrar à criança como poderá agir e gerir as suas emoções;
  • Eecompensar respostas adequadas da criança, valorizando expressamente os seus esforços;
  • Valorizar as componentes verbal e não verbal na comunicação com a criança e adequá-las à mensagem que pretende transmitir;
  • Mostrar à criança quais os limites do que é considerado aceitável.

Ao longo da infância e da adolescência, a capacidade de autorregulação vai sendo adquirida progressivamente, à medida que se aprendem novas estratégias para gerir emoções e comportamentos. Isto não significa, contudo, que o papel dos cuidadores não continue a assumir grande relevância.

Para além de se tratar de um processo contínuo e gradual, sempre com etapas novas, vão também surgindo diferentes desafios, que exigem novas competências, continuando a orientação dos cuidadores a ser importante.

Texto: Patrícia Castanheiro, Psicóloga