A guarda partilhada, não sendo uma panaceia aplicada a todos os casos, é um sistema que procura promover uma responsabilidade dividida pelos dois progenitores, sendo que se for gerida corretamente fomenta benefícios para a criança e para uma relação cordial e saudável entre todos, em particular para o desenvolvimento sadio da criança.
Durante e após o confinamento as dinâmicas familiares dos progenitores que se divorciaram ou separaram sofreram inegáveis alterações. Segundo algumas investigações, os pais que têm uma residência alternada foram os que menos problemas tiveram durante a quarentena, continuando a organizarem-se de acordo com as semanas ou quinzenas pré-estabelecidas. Em alguns casos, foram alteradas as visitas a favor do outro progenitor, tentando evitar deslocações desnecessárias e potencialmente arriscadas para a saúde de todos. Todavia, noutros casos, verificou-se o não cumprimento de visitas, interpretações abusivas de medidas entre pais e filhos ou decisões unilaterais de um dos pais em relação ao outro, acentuando uma relação de conflito que tem repercussões inevitáveis no(s) filho(s).
Apesar da situação excecional que vivemos, a distribuição de tempo com ambos os pais deve continuar a ser cumprida, excetuando os casos em que haja um evidente risco para as crianças. A cordialidade dos pais é favorável, na adaptação a esta situação, sobretudo se houver abertura e sensibilidade de ambos. Deve-se ter sempre em mente o interesse e bem-estar da criança, mas não se deve usá-lo como pretexto para legitimar afastamentos injustificados de alguns pais.
Com bom senso, existe sempre a possibilidade de recuperar parte dos dias “perdidos” sem se revelar inconveniente para a criança ou sujeitá-la a conflitos desnecessários. A título de exemplo, o prolongamento dos períodos de férias de verão podem ser uma solução para todas as partes, pois não só não interfere no quotidiano escolar das crianças, como fomenta a vinculação com ambos os progenitores. Além disso, se um dos progenitores mora perto da escola da criança, é possível estender a estadia das crianças mais uma noite (de domingo para segunda, por exemplo). O importante será procurar uma solução adaptada a cada família, a cada criança.
A partilha equilibrada do tempo do(s) filho(s) com os dois progenitores é o modelo que deve ser assegurado em prol da criança. Eis algumas dicas a considerar:
- Garanta que o ambiente com o outro progenitor é saudável e cordial. Desta forma, os pais podem compartilhar a convivência com os filhos, adotando medidas de segurança, não somente em tempos de pandemia, mas em qualquer situação em que exista risco de saúde.
- Use o seu bom senso. Coloque a(s) criança(s) em primeiro lugar e evite usar o pretexto da pandemia para afastar os seus filhos do outro progenitor e/ou acertar contas do passado. Os filhos não são uma arma de arremesso.
- Atente a que o período de incubação da COVID-19 é à volta de 14 dias. É importante acordar como será a divisão nesse período, sendo que a sugestão é que a criança passe 15 dias com cada progenitor. Desta forma, segundo os especialistas, é possível ir controlando o estado de saúde e o tempo de incubação da doença, sempre com cuidados indispensáveis (por exemplo, medir a temperatura diariamente). Optando por um período de 15 dias é indispensável que ocorram chamadas várias e, preferencialmente, videochamadas.
- Pode haver pais que são contra o distanciamento social, mas não facilite! É necessário preservar a saúde dos filhos e das pessoas com quem convive. Existindo provas de que houve alguma exposição indevida da criança ao risco de contaminação, uma das soluções é precisamente o seu isolamento.
- O acesso a pessoas com idade avançada, como os avós, também deve ser acautelado. Se algum dos progenitores teve convívio diário com idosos, é essencial redobrar o cuidado, uma vez que esses estão no grupo de risco e as crianças, em sua maior parte, são assintomáticas.
- Mantenha o diálogo com o outro progenitor quando tem o(s) filho(s) consigo, transmitindo toda a informação que considere relevante. A partilha de informação incrementa a confiança da outra parte e baixa eventuais defesas.
A convivência familiar é de extrema importância para as crianças e deve ser preservada. É fundamental que os pais se ajudem mutuamente e comuniquem com frequência, de forma a atender as necessidades dos filhos. O diálogo – o saber comunicar – é, pois, a peça fundamental, especialmente nos tempos que vivemos.
Devem ser incitados os esforços para o ajustamento de medidas que não diminuam o direito de a criança estar com ambos os progenitores, ao mesmo tempo que se deve preservar a saúde de todos, de forma consciente e responsável. Se esta gestão está a resultar complicada, ponderem, enquanto progenitores, a procura de ajuda especializada para se construir decisões que se ajustem às necessidades específicas da família da criança.
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND - Psicologia Clínica e Forense.
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