É verdade que ser família é um passo significativo para que exista movimentos de amor, de bondade e de gratidão. Mas, também é verdade que se não fizermos por isso, com o correr dos dias e os momentos menos bons de cada elemento de uma família, rapidamente uma família se pode tornar apenas funcional e perder o seu lado mais bonito de colo e de suporte, que transporta cada um de nós para a sensação de “casa” e para o sentimento de se sermos “habitados por dentro”.
As famílias são um lugar de desafios, em que é preciso conjugar todos num só e conciliar ritmos, abrindo espaço para que cada um possa continuar a ser ele próprio, sem medos e sem receios.
Mas, o maior desafio de ser família, é aceitar que - por muito que não queiramos - uma família nunca está à margem do conflito e do atrito.
Todos sabemos que não há crescimento e transformação sem alguma dor, mas no que toca à família, esperamos que o crescimento se dê com a dor reduzida à mínima e, por isso mesmo, muito vezes, ficamos aquém de ser família, porque não nos permitimos à dor e ao conflito. E sempre que uma família não se permite ao conflito, não se transforma e torna-se cada vez mais funcional, cumprindo os desafio mínimos, mas não se tornando uma “casa” por dentro de cada um.
Uma família saudável, permite-se à discórdia, permite-se a opiniões diferentes, permite-se a falhar, para daí ser capaz de chegar ao amor de forma plena e ao ser família em todos os seus sentidos. Assim, se em cada desafio uma família aceitar olhá-lo de frente e enfrentá-lo, tem sempre espaço para ser cada vez mais família e cada vez mais “casa”.
Com isto, não nos devemos esquecer que apesar de aceitarmos o conflito, devemos sempre lembrarmo-nos que as pessoas mais importantes para nós são aquelas a quem exigimos mais, e que são as pessoas mais importantes para nós que mais nos magoam, porque a nossa expectativa é tão maior, quanto mais importante for a relação. Assim, é importante colocarmos limites nos conflitos e nunca uma família deve permitir um conflito com violência que magoe e que deixe cicatrizes. Esses conflitos emersos em violência, não nos fazem crescer como família, fazem-nos criar nódulos que cada vez nos afastam mais uns dos outros.
Por isso, em comemoração do dia internacional da família, é importante não nos esquecermos que para que uma família se torne verdadeiramente uma família tem de existir dedicação, comunicação e movimentos abertos e claros de afeto, de bondade e espaço para opiniões diferentes, para falhas e para conflitos. Tendo sempre presente que de uma relação importante e especial - como é uma relação de uma família - exigimos sempre mais e esperamos que atrás de um conflito, exista um “gosto muito de ti”, para conseguirmos sempre regressar ao nosso sentimento de “casa habitada por dentro”.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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