No que diz respeito ao sexo, homens e mulheres não são assim tão diferentes, como se pensava. Uma investigação internacional apresentada há uns anos veio comprovar que, afinal, nós, mulheres, somos tão (ou mais) carnais do que eles. O que querem realmente as mulheres? Esta pergunta é também o título do um dos livros de Daniel Bergner, um jornalista americano que estudou durante oito anos o prazer feminino.
Este repórter surpreendeu os Estados Unidos da América ao deitar por terra as principais crenças sobre a sexualidade feminina, responsáveis por muitas das ideias pré-estabelecidas que, muitas vezes, condicionam o modo como os mulheres olham para as mulheres e também a maneira como elas se encaram a elas próprias. Muitas delas originaram mesmo mitos sobre a sexualidade, como pode ver de seguida.
Muitas destas ideias, que encaramos como verdades absolutas, não são mais do que estereótipos, sem fundamentação científica. Investigações citadas na sua obra "What do women want?" demonstram como a sexualidade feminina ainda é muito reprimida. O autor defende que "muito do que acreditamos ter origem em diferenças genéticas entre homens e mulheres, não passam, na verdade, de conceitos construídos culturalmente".
No que respeita às mulheres portuguesas, achámos que a realidade não seria muito diferente... E, afinal, parece que não nos enganámos! Pedimos ajuda à psicóloga clínica mestre em sexologia Vânia Beliz e ela aceitou comentar os principais mitos referidos pelo autor norte-americano Daniel Bergner e que abrem uma nova perspetiva sobre o nosso desejo. Bem vistas as coisas, será que são mesmo assim tão diferentes?
1. A monogamia faz parte da natureza feminina
O autor diz que este é um dos principais mitos difundidos ao longo da história e que a ideia de que as mulheres são mais propensas a procurar um companheiro para a vida não passa de um conto de fadas. A monogamia, para ele, é o que mantém a sociedade coesa mas não faz parte da natureza humana, inclusivamente das mulheres.
Vânia Beliz também reconhece que "muitas mulheres ainda são apontadas como libertinas se viverem durante a sua vida várias experiências sexuais". No entanto, "apesar da monogamia fazer parte da nossa educação e socialização, não faz parte da nossa natureza", sublinha a especialista.
Um estudo realizado na Universidade de Guelph, no Canadá, em meados da década de 2010, concluiu que 19% das mulheres confessou já ter sido infiel, face a 23% dos homens. Números que revelam uma diferença muito pequena entre a percentagem de homens e mulheres que admitem já ter traído, ao contrário do que muitos defenderiam anos antes.
2. As mulheres têm menos interesse sexual que os homens
De acordo com Daniel Bergner, a força da líbido feminina ainda é largamente subestimada pela sociedade e a teoria de que as mulheres ligam menos ao sexo é uma construção cultural, pois não há provas científicas disso. O que muitas vezes reduz fortemente o desejo feminino, segundo o escritor, são as relações duradouras e monogâmicas.
A sexóloga Vânia Beliz confirma o mito e alerta para as consequências que esta crença pode ter. "Os homens não estão sempre prontos e também têm momentos em que não conseguem desejar. É verdade que muitas mulheres não valorizam tanto a sexualidade, mas não devemos estranhar uma recusa masculina", realça a especialista.
3. O desejo sexual feminino depende do grau de intimidade que existe com o parceiro
O escritor norte-americano diz que "o desejo feminino, em grande parte, não é desencadeado pela intimidade. Para ele, as mulheres assim como os homens, podem tomar decisões amorosas baseadas nessas premissas. Mas, quando se trata puramente de sexo, não são esses fatores que estimulam a líbido". A sexóloga Vânia Beliz também não considera que o desejo aumente com a intimidade.
"As mulheres valorizam mais a afetividade e o romance, sim, mas isso não está relacionado com o facto de termos mais ou menos intimidade com o parceiro", assegura a especialista portuguesa. Tanto um com outro alertam que, todavia, ainda há muito para esclarecer sobre o desejo sexual feminino e que, atualmente, estamos a viver uma fase de transição, marcada por uma quebra de paradigmas.
4. As mulheres procuram compromisso e não sexo prioritariamente
Daniel Bergner defende que, tal como a teoria da monogamia, esta também não passa de "uma construção social", como a descreve, usada para manter a estabilidade da família. Vânia Beliz afirma que "as mulheres procuram tanto o compromisso, como sexo. Depende muito do momento em que se encontram. Elas podem ser tão carnais como os homens e até mais frias e implacáveis", realça a sexóloga.
5. As mulheres são mais exigentes na hora de escolher um parceiro
O escritor alerta na sua obra que "a psicologia silenciou" a libido feminina ao propagar que as mulheres estão programadas para procurar um parceiro para a vida. Vânia Beliz concorda com a tese. "Está na natureza das mulheres escolher aquele que mais condições pode dar a si e à sua família, isto numa visão a longo prazo, claro. As mulheres gostam e procuram um homem que as façam sentir seguras", constata.
"Em quase todas as espécies são as fêmeas que escolhem, e talvez seja por isso que na espécie humana não é diferente. As mulheres podem ter preferência por homens bonitos, inteligentes, fortes, portadores de potenciais bons genes por acreditarem que esses serão melhores companheiros", refere. No entanto, há especialistas que defendem que quando a escolha é para o sexo eventual, a mulher pode ser menos exigente.
Texto: Sofia Santos Cardoso com Vânia Beliz (psicóloga clínica mestre em sexologia)
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