Não há muitos anos, o mediático chefe de cozinha Jamie Oliver escandalizava o mundo ao denunciar e executar, num programa em direto, a forma cruel como são abatidos pintos de aviário e criadas as galinhas poedeiras, assim como as que fornecem carne aos apetites humanos.
Em Lisboa, neste janeiro de 2018, uma das várias cadeias de franchising geridas e controladas pelo chefe de cozinha britânico, a Jamie´s Italian, abriu as suas portas no passado dia 27. No espaço capaz de acolher simultaneamente 174 comensais, Jamie Oliver é fiel aos mesmos princípios que o levaram a produzir e apresentar a reportagem atrás citada.
Todos os ovos provêm de “galinhas felizes”, uma máxima que podemos ler num dos muitos quadros em ardósia espalhados pelo estabelecimento, amplo, com mais de 500 metros quadrados, distribuídos por três pisos. “Todos os dias preparamos massas frescas com farinha `00`, ovos free range e muito amor”. Free range, o mesmo é dizer, proveniente de animais criados ao ar livre. E como é importante um ovo não stressado quando ele está na base dos muitos quilos de massa fresca que saem da máquina instalada em plena sala para as dezenas de propostas da carta.
Vamos por partes, porque antes de trincarmos, também temos de alimentar os olhos e cinco centenas de metros quadrados acomodam muito para distrair a vista.
O conceito
Nesta sua primeira abertura em Portugal, Jamie Oliver apresenta-se com um dos seus franchisings de maior sucesso. Uma cadeia de restaurantes informais, nascida em Oxford em 2008, trabalhando em parceria com fornecedores locais e que conta com mais de 60 estabelecimentos em todo o mundo, do Brasil ao Canadá, da Dinamarca à África do Sul.
Aqui, Jamie traz-nos cozinha italiana, embora com algumas cedências ao país onde autoriza a instalação dos espaços. Jamie´s Italian é, antes de mais, a concretização da paixão do chefe britânico pela mesa transalpina e, em particular, a um dos mentores da sua cozinha inspirada nos sabores meridionais, o chefe italiano Gennaro Contaldo, sediado há muito em Londres, capital inglesa.
Um conceito que, em Lisboa, segue à risca os predicados da marca, mesmo no que respeita à equipa. Um pequeno exército de 47 pessoas a servir as três salas, uma delas privada, e os dois espaços exteriores deste restaurante.
Todos os colaboradores que se movem neste Jamie´s Italian receberam formação em Londres e Lisboa. A encabeçar a equipa, o gerente Liam Pasley. Na cozinha vamos encontrar o chefe Paul Galli, conhecedor dos meandros desta cadeia de cozinha italiana. Galli iniciou a sua experiência no restaurante de Glasgow, chegando a Sous Chef. Com mulher portuguesa – assim como Liam Pasley – acabou por ser natural a viagem até ao cantinho soalheiro da Europa.
O ambiente
Nesta visita ao Jamie´s Italian o SAPO Lifestyle tem como anfitriã Rita. É com a sua simpatia que fazemos a transição da buliçosa Praça do Príncipe Real para o ambiente mais recatado do restaurante. “Mais recatado”, embora animado, porque é buliçoso o ritmo deste Jamie´s, tal como o é o da figura que lhe dá o nome e o representa.
Desengane-se quem julga encontrar nesta sua visita à porta número 28A, um típico italiano. Nada de toalhas axadrezadas, muito menos música com a pitada de nostalgia capaz de causar indigestões, nem grandes queijos e enchidos em debochada exposição. O ambiente tem o seu quanto baste de industrial – ferraria, tubagens, pintura em tons azul acinzentados - , temperado com a rusticidade conferida pelas madeiras, expressas no soalho, nas mesas despojadas de aparatos têxteis, painéis até meia parede, tijolo cru e mobiliário digno de um bom ambiente campestre. Não faltam, obviamente, as fotografias de Jamie a meter literalmente a mão na massa. Um espaço de boa e acolhedora iluminação, a competir com a luz natural que se empenha em esparramar boa disposição de sol meridional nas salas.
A mesa
Dirá o leitor, “tanta conversa para chegarmos ao que realmente interessa, a `paparoca`”. Pois tem toda a razão, afinal de contas é por ela, e pela notoriedade e responsabilidade de Jamie Oliver que esperamos lugar à porta – o que não aconteceu desta feita, a entrada para almoço fez-se escorreita.
A carta é, usando uma expressão de pendor geográfico, vasta. Tão ampla quanto consegue ser uma carta para um patamar de qualidade, a preço acessível e com cozinha de boa apresentação. Uma carta com mais de 50 sugestões, o que inclui um menu infantil, a vários tempos, com Petiscos Rápidos, Antipasti (entradas), Pasta (massas frescas), Secondi e Pizza.
Ampliando o conceito de vastidão para a mesa, tomemos como exemplo a tábua de abertura , a "Classic Meat" - há duas sugestões, uma delas vegetariana. Mais de cinquenta centímetros de madeira onde “caem” os petiscos, com mortadela, salame, mini-mozzarellas de búfala, salada roxa e prosciutto (15,00 euros). Há, aqui, uma particularidade que nos é explicada por Rita: “As tábuas, fabricadas em Portugal, são sempre servidas sobre latas de tomate em conserva. Isto porque Jamie valoriza a partilha. A primeira vez que serviu as tábuas a única coisa que tinha à mão eram as latas”. Fica, como é apanágio de Jamie, o mito.
A não desmerecer um pão de alho como é raro ver. Carnudo, alto, bem tostado e ensopadinho (q.b.) de sabores (4,75 euros). Também a memorizar, as gordas azeitonas verdes que nos são apresentadas como as “melhores do mundo”.
Já a quente, seguimos para umas lulinhas fritas com chili, alho, salsa, prontas para mergulharem na maionese (7,50 euros). Boa fritura, estaladiça, lulas com corpo sem aquele trincar mirrado da carne demasiado frita. Ainda na petiscaria, neste caso os Antipasti, a não ignorar as crocantes bolinhas panadas de risotto com abóbora assada e pecorino, servidas com molho de queijo (4,50 euros).
Nas pastas, um linguine de gambi, o mesmo e dizer, linguine com camarão, com molho passata (quanto baste de picante), rematado com rúcula para refrescar. Boa massa fresca, negra como a tinta de choco que lha dá o tom. Camarões bem cozidos e envoltos no sabor da massa. Fiel ao conceito do restaurante, todo o marisco provém de pesca sustentável.
Capítulo pizza, páginas sempre sensíveis e emotivas em italiano que se preze. Das oito pizzas - Jiulietta, Funghi, The Carne, Gennaro´s Spicy Sausage, Gamberi, Prosciutto, Florentina - preços na casa dos 12,00 euros -, provamos a menina bonita, a Truffle Shuffle (15,95 euros). Massa estaladiça, fininha com um rebordo delicado, suficientemente alto para conter a maciez da cobertura de molho branco, cebola aromatizada em vinagre balsâmico e um ovo inteirinho, mais a trufa preta. “Não fatiamos previamente a pizza para que possam experiênciar na mesa o momento em que a gema se mistura com os restantes ingredientes”, cita Rita da cartilha de apresentação da ementa deste Jamie´s Italian.
Nos Secondi, impactante no sentido gustativo e visual, as costeletinhas de borrego grelhadas de “queimar os dedos” como nos informa Rita. Isto porque, de acordo com Jamie, são tão apetitosas que a tentação de as picar ainda na travessa supera eventuais traumas nas impressões digitais. Carne tenra, bem temperada, suculenta como se usa dizer. A acompanhar uns belíssimos pimentos agridoces, cebolas assadas, molho verde e polenta frita (17,95 euros).
Ainda no pratos de resistência, de salientar o "The Jamie´s Italian Burger" (12,95 euros) - hambúrguer de carne de vaca, com pancetta, cebola em balsâmico, queijo da ilha, tomate e molho especial. Entra num pão brioche e chega servido com batatas fritas.
A carta de vinhos traz perto de vinte referências repartidas entre o reportório nacional e italiano. Provamos o alentejano proveniente da Quinta da Confeiteira, o tinto Incendi (castas: Touriga Franca, Syrah, Aragonez), nascido da história de amor entre um português e uma norte-americana. Apaixonam-se e compram uma quinta no Alentejo onde produzem vinhos tendo por mote os cinco elementos naturais. Das vinhas transalpinas para os copos deste Jamie´s Italian, um branco Anselmi, da região de Venetto. Um vinho com toques tropicais.
Também a não desmerecer a interessante carta de cocktails. Cite-se, por exemplo, o “Amalfi Collins” (gin, licor de sabugueiro, limoncello, sumo de limão e soda), e o “Tuscan Mule” (Licor Tuaca, sumo de lima e cerveja de gengibre).
Feita a festa só faltou mesmo a figura cimeira, o omnipresente Jamie. Não apareceu por hoje, nem podemos prometer que apareça. Mas está no restaurante a equipa apadrinhada pelo britânico, talvez a maior estrela mediática que as Terras de Sua Majestade exportam atualmente.
Praça do Príncipe Real, 28A, Lisboa
Horário: Aberto de domingo a quinta-feira, entre as 12h00 e as 23h00 e de sexta a sábado até às 24h00.
Contacto: Tel.: 925 301 411
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