Garrafeira Nacional
O espírito em cada vinho
Independentemente de se gostar mais ou menos de vinhos e espirituosos há, no seu mundo uma dimensão que nos desperta: o apelo que nos fazem a todos os sentidos. Um vinho bebe-se, cheira-se, olha-se e, de certa forma, tomamos-lhe a textura.
Nos vinhos e bebidas espirituosas encontramos também história, cultura e um saber fazer ancestral, expressão que assume particular significado no caso de Portugal, pais vitivinícola por excelência. Visitar a Garrafeira Nacional, na Rua de Santa Justa, na Baixa de Lisboa, é para além da oportunidade de comprar um bom vinho e bebida espirituosa, uma verdadeira viagem para os sentidos, uma viagem que começa assim que transpomos a porta e descobrimos na arquitectura do espaço o cunho genuinamente pombalino expresso, por exemplo, nas largas arcadas em pedra. Ali, percebemos que o vinho se trata por “tu”, se acarinha e, só depois, se vende.
Vinhos de Mesa, Vinhos Madeira, Portos, moscatéis, licores, champanhes e espumantes, gins, whiskies, entre muitas outras bebidas, moldam literalmente o espaço, conferem-lhe alma, impõem-se a quem ali entra. Há expositores, prateleiras, cestos, balcões, repletos com garrafas de vinhos e espirituosos, em cores, formas e rótulos que apelam à descoberta.
A casa, fundada em 1927 (embora já antes funciona-se como mercearia tradicional), mantém-se como um negócio familiar desde 1943, um projecto hoje entregue a pai e filho, respectivamente Jaime Vaz e Jaime Vaz Filho.
É Jaime Vaz Filho que nos faz uma apresentação do espaço e seguimos as suas palavras, acompanhando-o pela loja numa visita guiada para os sentidos. O espaço viu-se renovado nos anos 90 do século XX. Hoje já não se expõe o bacalhau e o azeite que em tempos deram nome à casa e os frutos secos também já não assumem a importância de outras épocas. Uns e outros deram, então, lugar às verdadeiras prima-donas da Casa, os vinhos e espirituosos, com a Garrafeira Nacional a enveredar pela especialização.
O espaço divide-se entre a loja, aberta à rua, e o “Museu”, como carinhosamente é chamado o coração do estabelecimento, uma sala interior climatizada onde têm a devida honra e repouso algumas das preciosidades da Casa. Através dos expositores empreendemos uma verdadeira viagem no tempo, celebrando sabores e formas que desfilam como que acabados de chegar directamente do passado, repousando solenemente no presente.
É o espírito do passado que se descobre nestes vinhos depois de retirada a rolha, que leva estudiosos do fenómeno enológico e coleccionadores a procurar a loja, adquirindo vinhos, tentando capturar-lhes a sua evolução através dos séculos. Isto mesmo nos conta Jaime Vaz Filho, apontando aqui e ali algumas das preciosidades expostas. Em jeito de tentação, destaque para um Vinho Madeira, o Sercial Solera Leacock de 1860, um Porto Ferreirinha Garrafeira de 1815, ou um vinho de mesa tinto Caves da Montanha 1957.
Deixamos o casulo do tempo e perdemo-nos no espaço de loja propriamente dito, descobrindo entre vinhos de mesa, portos, madeiras, moscatéis, whiskies, brandis, licores, verdadeiras tentações e, gratas surpresas, pois os preços, regra geral são bastante acessíveis. Desafiamos Jaime Vaz Filho a destacar alguns dos néctares expostos. O proprietário embora se sinta como peixe na água no microcosmos que é a sua Loja, revela que não é tarefa simples,
destacar este ou aquele, entre as mais de 5000 escolhas que ali repousam. Mesmo assim, com gestos e palavras conhecedoras, Jaime Vaz Filho lá vai seleccionando alguns entre vinhos de mesa, Madeira, portos, moscatéis, whiskies, neste caso com mais de 400 escolhas, desde os blended, passando pelos bourbon até aos de malte, alguns bastante difíceis de encontrar em Portugal, caso do whisky de Malte japonês. A Garrafeira Nacional apresenta, ainda, uma boa oferta de licores, Brandi, Armagnac e Conhaque, Champanhe, Espumante e Gin.
O negócio corre bem, as encomendas são muitas e a distribuição, a clientela mantém-se fiel e, regra geral, é conhecedora. Mesmo que não haja na loja ou no armazém, quase de certeza que se arranja.
Recentemente a Garrafeira Nacional abriu uma nova porta, desta vez no virtual com o lançamento da sua loja online expondo grande parte dos produtos que se encontram no estabelecimento, espaço físico. Os clientes têm assim a possibilidade de, à distância, efectuar a sua encomenda.
Cícero, orador nato do Império Romano, terá tido à sua época, o século I a.C., que: "os vinhos são como os homens: com o tempo, os maus azedam e os bons apuram." No presente caso no que respeita à Garrafeira Nacional, não se pode negar que ao aproximar-se do século de existência, está melhor, constituindo uma boa opção quando nos queremos mimar, ou aos próximos, com um bom vinho ou espirituoso.
Jorge Andrade
Muito e bom pode-se destacar da oferta da Garrafeira Nacional no que respeita a vinhos e espirituosos. A escolha não obedece a nenhum critério específico, nem de gostos pessoais.
Licores:
Absinto Hapsburg, 85º
Grande Mainier Cordon Rouge
Dranbuie
Glenfidich
Whisky:
Ballentine´s 12 anos
Chivas Regal 12 anos garrafa castanha
Logan 12 Years Old
Champanhes:
Champagne Louis Moederer Cristal Bruto
Don Perignion
Moet & Chandon
Moscatéis e vinhos generosos :
Moscatel Setúbal 20 anos
Carcavelos Quinta do Barão 30 anos
Vinho Madeira:
1940 Sercial Miles
1966 Verdelho Oliveiras
Vinho do Porto:
1830 Ferreira Garrafeira
Ferreira Duque de Bragança
Comentários