Somos um país com alto índice de doenças do foro psicológico e com alto índice de doenças físicas associadas a uma componente psicossomática. Somos, por isso, um país que devia dar atenção desde cedo à saúde mental e à educação emocional.
No entanto, por muito que atualmente, se fale acerca de saúde mental, não existem ações efetivas que promovam a saúde mental desde cedo, aquilo que tipicamente optamos é por ações de reparação, isto é, de intervenção quando as problemáticas já estão instaladas e, regra geral, altamente consolidadas.
Esta perspetiva faz com que a intervenção se torne muito mais difícil, demorada e dispendiosa. No fundo, estamos numa fase em que todos acreditamos que se está a dar palco e prioridade à saúde mental, mas em essência essa realidade não existe.
Porque priorizar a saúde mental não é apenas falar acerca dela, é tomar ações efetivas de prevenção é criar uma rede estruturada que permita a intervenção.
E tudo isto começa em cada um de nós, numa perspetiva microscópica a mudança precisa de começar em cada pessoa, em cada família, e isso implica que aprendamos a não desvalorizar as nossa emoções, que aprendamos a acolher as emoções do outro e que estejamos conscientes e atentos aos sinais. Ao invés de perante uma criança que levanta a mão aos pais para lhe bater, nos rirmos da atitude, devemos intervir. Ao invés de quando temos um amigo deprimido, lhe dizermos “isso, vai passar, ocupa a tua mente”, devemos dizer-lhe “isso é importante, está a fazer-te sofrer, procura ajuda”.
Só quando cada um de nós agir de forma diferente, podemos priorizar efetivamente a saúde mental.
Também macroscopicamente a mudança é urgente, é preciso que em cada escola, haja espaço à educação emocional, é urgente que quando alguém precisa de uma consulta de psicologia ela esteja disponível num centro de saúde, que em cada empresa haja um núcleo dedicado ao bem-estar profissional.
No fundo, a mudança precisa de começar em cada um de nós e de ser suportada pela estrutura de apoio à nossa volta. Só quando a estrutura de acesso aos cuidados de saúde mental for efetiva e quando todos nós olharmos para as dores emocionais, como olhamos para as dores físicas, podemos por fim, dizer que priorizamos a saúde mental!
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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