Tipicamente uma pessoa que está deprimida tem uma visão negativa de si, do mundo e do futuro. É geralmente assolada por uma onda gigantesca de desespero e de desesperança, na qual se sente arrastada por um turbilhão de pensamentos e filmes mentais recorrentes e intrusivos sobre um futuro sem saída, vislumbrando-o como um prolongamento indefinido do momento presente. Tudo acontece na sua cabeça como se não houvesse uma saída satisfatória ou, mesmo, feliz. Acredita que todos e quaisquer esforços serão sempre insuficientes para modificar o seu percurso de vida ou o seu estado presente.
A depressão invade sem pedir licença. Umas vezes de modo subtil e numa progressão lenta e dissimulada, podendo alcançar níveis de sofrimento significativos; outras vezes surge como se de um tsunami se tratasse, repentinamente, gigante, e com sintomas agressivos e consequências devastadoras que facilmente originam a perda de funcionalidade. Um imenso vazio... um imenso não querer saber de nada, mesmo nada...
A incapacidade de gerir a labilidade emocional: numa questão de minutos ou numa fração de segundos a pessoa que estava “relativamente bem” é dominada por uma profunda tristeza, ou pelo desassossego da irritabilidade.
Pouco a pouco é acometida pelo isolamento: ou porque não tem energia nem para si nem para os outros; ou porque não tem ânimo; ou, ainda, porque sente que não é boa companhia para ninguém. Afinal, nem mesmo para si consegue ser uma boa companhia.
O sentimento de desvalia de si próprio (por exemplo, “eu não valho nada”) e o de culpabilização excessiva (por exemplo, “se não fosse por causa de mim, nada disto teria acontecido”) são igualmente características de quem está deprimido.
Fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais participam na génese da depressão. Para um correto diagnóstico é importante avaliar se a pessoa está deprimida ou se é deprimida, consoante o seu quadro clínico decorra de circunstâncias externas capazes de causar sofrimento emocional, ou de historial com vários episódios em que apresentou sintomatologia depressiva, sem que houvesse motivo aparente ou, na sua existência, fosse desproporcional, quer na intensidade quer na duração.
No primeiro caso as pessoas têm depressão reativa ou psicogénica e no segundo a pessoa é deprimida.
Também na depressão reativa, qualquer episódio depressivo pode ter uma duração longa de vários meses ou anos, quando não tratado.
Tal como nos outros tipos de depressão, falta ânimo para tudo. E tudo o que é feito parece ser arrancado com muito esforço do fundo da sua interioridade, apenas porque ainda lhes resta uma vozinha que imerge do seu mecanismo de defesas que lhes diz que “tem que ser”.
Quando uma pessoa é diagnosticada com depressão reativa significa que houve uma combinação de fatores, sobretudo, vindos do meio, que contribuíram para desencadear respostas que comprometeram a sua saúde mental e física. Esta forma de depressão ocorre, portanto, quando face a condições ou circunstâncias externas percecionadas como adversas, de muito stress, ou de tensão, há dificuldade em gerar recursos cognitivos (por exemplo, pensamentos, emoções) e comportamentais que respondam adequadamente às exigências do meio.
A perda de um familiar, uma situação de doença, a separação do cônjuge ou de alguém significativo, a mudança de casa ou de trabalho, o desemprego, ou relações de conflito são exemplos ilustrativos de fatores do meio com impacto negativo na saúde mental e física.
A depressão reativa, tal como outra perturbação do humor, não deve ser confundida com estados de tristeza ou de “sentir-se em baixo”. A depressão reativa apresenta um quadro sintomático que, ainda que variável em cada pessoa ou face a circunstâncias diferentes, tem critérios de diagnóstico específicos, designadamente, humor deprimido quase todos os dias, anedonia (perda de satisfação, interesse diminuído ou desprazer), fadiga ou perda de energia, apatia, diminuição das capacidades cognitivas, angustia e tristeza, sentimentos de culpa ou baixa autoestima, desespero e desesperança. Na sua forma mais severa podem surgir pensamentos de morte e tentativas de suicídio.
O prejuízo no funcionamento pessoal, familiar, social e profissional é a razão que, regra geral, leva a pessoa deprimida a procurar a ajuda do profissional de saúde mental. No entanto, e mesmo perante esta condição de prejuízo e sofrimento, muitas pessoas ainda não estão consciencializadas ou sensibilizadas para a necessidade de receber ajuda.
Atualmente, a psicologia clínica tem meios muito eficazes na prevenção, avaliação e tratamento da depressão. Procurar ajuda é um comportamento de amor por nós mesmos e pelas pessoas que amamos. Não hesite, cuide de si!
As informações partilhadas são de Lina Raimundo, Psicóloga Clínica da Mind – Psicologia Clínica e Forense (www.mind.com.pt)
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