Celebrar a Páscoa é celebrar o renascimento e o recomeçar de uma nova experiência de vida, de um novo ciclo. Mas, para celebrar a Páscoa e o novo ciclo, invariavelmente, somos levados a deixar para trás hábitos, crenças e dores, ao quais estávamos habituados para, com energia renovada, recomeçar de forma livre e, tendencialmente, mais feliz.  

E quantas vezes nas nossas vidas - independentemente da nossa fé - não somos levados à decisão se queremos ou não celebrar a Páscoa? Isto é, quantas vezes não nos deparamos com encruzilhadas na nossa vida que, para as ultrapassarmos, temos de decidir se somos capazes de abandonar o nosso estado antigo ao qual estamos habituados?

A verdade é que, muitas vezes, não deixamos a Páscoa e o renascimento acontecer dentro de nós porque ficamos demasiado assustados com o novo, ficamos demasiado apreensivos com tudo aquilo que é diferente e com todos os papéis que renascer e recomeçar nos pode exigir. 

Mas, mais difícil de gerir do que o medo de recomeçar e do que está para vir de novo é o medo de deixarmos para trás as nossas dores. Porque muitas vezes é na dor que nos reconhecemos, é na dor que encontramos a atenção dos outros e é na dor que de alguma forma nos sentimos vivos. 

Apesar de todos termos tendência de, à primeira, rejeitar esta ideia, quantas vezes, não olhamos à nossa volta e não vemos pessoas que parecem ser o principal travão delas próprias? Que parecem querer manter as suas fragilidades, porque é uma posição confortável, na qual a pessoa se reconhece, quase como quem se vitimiza e, daí, obtém benefícios secundários?

Sempre que ficamos agarrados às nossas dores, impedimo-nos de evoluir e de recomeçar. Nestas circunstâncias, que nunca nos esqueçamos que para renascer e recomeçar de novo, precisamos - inevitavelmente - encontrarmo-nos a nós próprios, integrando tudo aquilo que nos tem magoado, mas sendo, principalmente, capazes de deixar tudo aquilo que essa dor implicava na definição de nós próprios para trás.

Desta forma, que todos nós aproveitemos a Páscoa para nos reinventarmos e nos permitirmos recomeçar um novo ciclo, livres de tudo aquilo que até aqui nos tem vindo a condicionar. Só assim, alinhados com o nosso interior, com tudo aquilo que queremos para nós próprios e com uma bagagem livre para coisas novas, se poderá fazer Páscoa no coração e no dia a dia de cada um de nós!

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.