O esforço, seja este físico ou psicológico, é uma característica comum da vida diária. Constantemente, debatemo-nos com atividades que exigem esforço, sejam estas correr para apanhar um autocarro, aprender a tocar um instrumento musical, ou estudar para um teste.

Para algumas pessoas, o esforço pode ser uma experiência aversiva que deve ser evitada a todo o custo. É um fenómeno intrinsecamente desagradável e, muitas vezes, associado à dor, remetendo para expressões como “até me dói pensar tanto nisso”. De facto, o esforço e a dor partilham características entre si: as sensações desagradáveis, provocadas pelo esforço, promovem o evitamento de ações demasiado exigentes; a dor, por seu turno, consiste numa estratégia de proteção do organismo, que nos faz evitar o que nos magoa. Em ambos casos, há um evitamento da fonte de desconforto, no sentido de preservar a energia e integridade da pessoa.

Tudo isto remete para o facto de que o esforço traz custos e respostas aversivas. Produz sentimentos de ansiedade, stress, fadiga e frustração, que tornam as atividades exigentes aversivas. Adicionalmente, quando deparadas com duas opções de comportamento, com recompensas semelhantes, as pessoas tendem a escolher a opção que exija menos esforço, mesmo que a recompensa seja pior.

Mas se os humanos evitam tanto exercer esforço e se o esforço é um estímulo assim tão aversivo, porque é que as pessoas se envolvem em atividades exigentes por diversão? Porque é que fazem puzzles, escalam montanhas ou correm maratonas? A resposta a estas questões é complexa e envolve diversas hipóteses explicativas.

A primeira teoria sugere que pessoas com certos traços de personalidade estão mais dispostas a canalizar esforço para atingir objetivos. Neste sentido, pessoas mais conscienciosas (isto é, mais diligentes, perseverantes e deliberadas), tendem a esforçar-se mais em cada tarefa que realizam, no sentido de a cumprirem da melhor forma possível. Para estas pessoas, qualquer atividade só será bem feita ou enriquecedora se exigir esforço.

Por outro lado, a literatura sugere que, em determinadas circunstâncias, o esforço, por si só, atribui valor aos nossos atos. A teoria da dissonância cognitiva, estudada pelo psicólogo social Leon Festinger, em 1957, defende que, quanto mais esforço exercermos para obter um objeto, mais valor atribuímos, retrospetivamente, a esse objeto. Por exemplo, uma pessoa que participou num leilão e que se esforçou para obter um objeto irá valorizá-lo mais do que uma pessoa que se limitou a comprar esse objeto, sem exercer qualquer esforço. Aqui, o exercício do esforço provoca um estado que faz com que as recompensas subsequentes aparentam ser mais valiosas, por contraste.

Por outro lado, o valor das coisas também pode ser fomentado quando se antecipa o esforço que a sua aquisição irá exigir. Por isso é que pessoas estão mais dispostas a contribuir para uma causa solidária que exija correr uma maratona do que uma que exija participar num piquenique: há a crença de que, porque vai exigir mais esforço, será uma atividade mais recompensadora.

A última teoria explicativa está ligada à anterior e é a mais simples: aprendemos que o esforço está ligado a mais e melhores recompensas. Se um maior esforço for constantemente atribuído a melhores recompensas, passamos a associar um conceito ao outro e o esforço passa a ser visto como valioso em si; torna-se menos aversivo e tolerante, ao serviço da recompensa tão desejada. Estudantes universitários, que são recompensados por completar tarefas cognitivamente desafiantes, irão esforçar-se mais no futuro e persistir mais nas atividades, no sentido de voltar a adquirir essas recompensas e a atingir novas metas.

Todavia, há circunstâncias em que o esforço não aumenta o valor: as pessoas só estão dispostas a exercer esforço até certo ponto e qualquer recompensa que exija mais esforço para além desse ponto vai ser desvalorizada, quebrando o elo esforço-valor.

Em conclusão, não há dúvida que exercer esforço é desconfortável e que é mais fácil evitar situações que causem esse mal-estar, mesmo que tal signifique não alcançar metas tão desejáveis. Porém, é igualmente importante ter em mente que trabalho esforçado, contínuo e sistemático, levará a que, o que antes exigia esforço, passe a não ser tão esgotante e se torne, pelo contrário, fácil e recompensador.

Trabalhe no seu potencial. Não se deixe intimidar pelo esforço que a procura dos seus objetivos exige.

Um artigo dos psicólogos clínicos Mariana Moniz e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.