O extremismo é um mecanismo inerente a todos os seres humanos e tem como objetivo ajudá-los a enfrentar situações de crise e sobreviver. Segundo os psicólogos americanos Arie Kruglanski e Sophia Moskalenko, especializados no tema, pressupõe um estado psicológico provocado por um desequilíbrio que ocorre, quando uma necessidade básica (seja ela fome, diversão, amor, entre outras) se torna de tal forma gritante que abafa as restantes.

Quando tal acontece, os filtros e o controlo que são, normalmente, exercidos sobre o comportamento são diminuídos, ou até mesmo removidos, legitimando comportamentos extremos que tenham como objetivo suprir a necessidade em questão e que estariam suprimidos noutra circunstância. Por isso mesmo, em situações extremas, as pessoas são capazes de comportamentos radicais, usualmente inibidos (por exemplo, matar para sobreviver, ou comer carne humana face a fome extrema). De facto, todas as pessoas têm potencial de agir de forma extremista, sob condições específicas. Por isso mesmo, não é exclusivo a nenhuma religião ou posição política específica.

Até aqui tudo bem, não fosse, atualmente, tão fácil instaurar a sensação de que há um grande perigo, a partir da exposição constante a notícias, ou simplesmente rumores, contra o qual é necessário agir de forma extrema. Nos últimos tempos, situações como a pandemia de COVID-19, a ocorrência de sismos, as guerras recorrentes nos noticiários, assim como o recente apagão e o aumento da criminalidade em Portugal podem ter contribuído para uma perceção de risco elevada, potenciando que os portugueses adotem comportamentos e apoiem ideologias extremistas que os prometam proteger.

Com tudo isto, ideologias, atos e grupos extremistas parecem surgir cada vez mais. Segundo os investigadores já mencionados, a introdução das redes sociais no quotidiano agravou variáveis como a competição social e busca de atenção, que podem contribuir ainda mais para o aumento de comportamentos extremistas. Com a possibilidade de exposição associada às redes, as pessoas tornam-se capazes de partilhar ideias e comportamentos perigosos e extremos para se destacarem, terem atenção e serem “virais” na Internet.

A investigação tem apontado ainda dois outros fatores que interagem em conjunto nos movimentos extremistas: a narrativa ideológica e a rede de contactos. No primeiro, referimo-nos à justificação que estes movimentos dão para legitimar os seus comportamentos extremistas; e, no segundo, referimo-nos ao agrupamento de pessoas que pensam de forma idêntica e que, por isso, reforça as crenças subjacentes aos seus comportamentos extremistas.

Assim, um sinal de que alguém poderá estar a aproximar-se de uma ideologia extremista é a pessoa retirar-se dos círculos sociais comuns e passar mais tempo sozinho, ou com um grupo social completamente diferente. Caso conheça alguém que esteja a passar por isso e o queira ajudar, não discuta ou tente convencer. Em vez disso, procure compreender aquilo que a pessoa está a sentir (por exemplo, em crise/ perigo) e o que a faz estar disposto a sacrificar tanto. A literatura refere que fazê-lo, de forma apoiante e genuína, é a melhor forma de ajudar alguém a sair de situações extremistas.

O extremismo não tem de ser algo estritamente negativo e, por vezes, pode levar a atingir grandes feitos. Vários avanços científicos, artísticos, políticos e societais partiram de comportamentos radicais, e são exemplo disso a oposição de Galileu Galilei às crenças geocentristas, ou a defesa radical, e não violenta, de Gandhi pela justiça social e independência da Índia. No entanto, um estudo de 2021 de Kruglanski e colaboradores, publicado na revista Psychological Review, verificou que o extremismo tem também consequências negativas para o bem-estar da pessoa extremista. O facto de a pessoa suprimir as restantes necessidades em prol de uma necessidade contribui para um grande sofrimento.

É importante perceber que agir de forma extrema, mesmo quando “corre como desejado”, traz consequências negativas para o próprio e para os que o rodeiam. Procure o equilíbrio e o bem-estar, e, se necessário, junto de um profissional de saúde.

Um artigo dos psicólogos clínicos Samuel Silva e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.