Ser criança é, por si só, sinónimo de energia, de alegria e de movimento. É inequívoco que as crianças aprendem com o corpo todo, expressam-se através do corpo todo e, muitas vezes, comunicam mais pelo corpo do que pela palavra.
É, por isso, tão importante termos consciência de que ter energia não é estar permanentemente agitado, e que nunca devemos desvalorizar a agitação de uma criança com base na ideia de que ‘ser criança é estar em movimento’.
No fundo, não são raras as vezes em que nos deparamos com crianças que estão em profundo sofrimento emocional e a forma que têm de acalmar os seus fantasmas internos é uma inquietude e agitação de base, que as impede de pensar e de sentir de forma plena tudo aquilo que estão a vivenciar.
Sendo assim, enquanto dão cambalhotas, se levantam na sala de aula, ou jantam em posturas quase acrobáticas, não se confrontam com o seu mundo interno, com as suas dores.
No fundo, são crianças que não se permitem parar, porque caso parem não conseguem fazer frente e lidar com tudo aquilo que vive dentro delas.
É, desta forma, absolutamente essencial que tenhamos consciência, que mesmo as crianças com mais energia do mundo, precisam em determinados momentos de parar, de sossegar, ou de simplesmente se permitirem a estar tranquilamente no colo de um adulto. E, este é um dos pontos que nos permite diferenciar energia de agitação, se a par com a energia existem, ou não, tempo de tranquilidade, tempos para atividades mais serenas, seja um desenho, um conjunto de legos ou histórias, por exemplo. Quando existe este equilíbrio, regra geral, temos crianças energéticas e isso, é por si só, uma alavanca para todo o seu desenvolvimento.
Quando por outro lado, temos criança ‘ligadas à ficha’, que seja em que circunstância for, são incapazes de parar e de tranquilizar, então temos uma criança repleta de agitação e que, através de todo o corpo nos está a pedir ajuda e a mostrar que - seja lá porque motivo for - precisamos de lhe dar atenção e ficar atentos às suas dores e às suas necessidades.
Só quando somos capazes de olhar para a agitação como um sinal de alerta, podemos, passo a passo, ajudar uma criança a olhar para tudo aquilo que é o seu mundo, a tranquilizar e, por fim, a permitir-se sair de um registo de agitação e a passar para um registo de energia e de movimento saudável e essencial ao pleno desenvolvimento de uma criança.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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