Há expectativas mais formais que a sociedade assume como um todo e há expectativas mais informais que vêm de quem está mais próximo de nós e de alguma forma insiste em sonhar a nossa vida. Assim, muitas vezes, é esperado que, após o percurso académico, se encontre um trabalho, se case, se tenha filhos e se cumpram os requisitos definidos pela sociedade.
Estudar, trabalhar, casar e ter filhos é ótimo, mas é essencial não nos esquecermos que também é ótimo não ter filhos, ter um trabalho alternativo e, por exemplo, não casar.
É verdade que, cada vez mais, vemos forças que irrompem estes padrões, que fazem diferente independentemente das expectativas e que nos dão esperança. Mas, também é verdade que em detrimento das expectativas dos outros, muitos de nós acabam por sucumbir a perfis de vida com os quais não se identificam ou que não os tornam a sua melhor versão de si próprios.
Isto acontece, por vezes de forma ainda mais exponenciada, com os padrões do corpo perfeito, dos fim-de-semana instagramavéis, das atividades desportivas e da forma como nos vestimos.
O grande problema é que tudo isto faz com que passemos demasiado tempo à procura de corresponder e de encaixar em padrões e, em detrimento disso, deixamos de encaixar em nós próprios e de corresponder a nós próprios. Assim, surge a tão tradicional angústia que, muitas vezes, não sabemos de onde vem, mas parece dominar-nos e até, por vezes, dá-nos a sensação que mais tarde ou mais cedo nos vai vencer. Como se perdêssemos a nossa individualidade e, ao fazê-lo, nos perdêssemos a nós próprios.
Neste cenário, é essencial sermos capazes de aceitar que, por muito que custe a todos os outros - seja à sociedade, seja aos familiares mais próximos - as caixas criadas pelos outros para nós não tem de ser utilizadas.
A maior beleza da Humanidade reside na sua capacidade de ser singular e de poder assumir diferentes formas de ser, de estar e de sentir. Por isso é importante que deixemos de insistir em padrões standard e assumamos que podemos ser singulares e cada um de nós pode assumir a sua verdadeira essência, sem que à custa disso, tenha de se sentir ‘desenquadrado’.
Quando formos verdadeiramente singulares e aceitarmos a singularidade dos outros seremos capazes de minimizar - pelo menos em parte - os nossos níveis de angústia e os dos outros.
Um artigo das psicólogas Cátia Lopo e Sara Almeida.
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