O fogo que queima quase 3% do território português em comparação com os cerca de 1% da média dos anos anteriores mostra como as palavras sem ação se desperdiçam no fumo e nos ventos.

Num processo de mudança de comportamento e de literacia em saúde para sociedades mais saudáveis e ativadas são precisos mais mecanismos efetivos. Com apenas teorias não se puxam carroças, não se melhoram serviços de saúde, não se evitam fogos. É essencial acionar mecanismos de prevenção e de dissuasão com o rigor da monitorização.

A ciência está-nos sempre a dizer que é preciso evidência científica. É quase uma redundância afirmar que os investigadores das ciências sociais, naturais e exatas combinam as estratégias de políticas públicas para um país mais produtivo, mais robusto e mais feliz.

E o que acontece neste limbo de transição entre a palavra e a ação?

Sem aplicação concreta no terreno dos tais conceitos teóricos nas práticas vivenciais, o país geme nos estilhaços da floresta e casas ardidas, no desespero das produções agrícolas perdidas e nas vidas roubadas de esperança para o futuro.

Apesar de a comunicação poder ser hoje mais reveladora e mostrar mais casos críticos de saúde que não deviam acontecer num país desenvolvido como o nosso — como o caso do bebé que nasceu na rua, ou as pessoas que morreram por falha de ambulância —, o certo é que há algo que não está certo.

Nas urgências hospitalares do SNS, em 2024, os números ultrapassam os 6 milhões de episódios. Se olharmos para as mortes atribuíveis à poluição do ar, o total cresce para 3.600 mortes em Portugal por exposição prolongada à poluição em comparação com 2.500 em 2022.

O aumento dos casos de cancro para mais de 60.000 novos casos, e sobretudo o aumento entre os jovens, faz-nos pensar. Em 2024, as pessoas sem médico de família eram cerca de 1,5 milhões ao longo. Os fatores genéticos ponderam cerca de 10% das doenças.

Tudo o que a ciência nos dá como efeito positivo e caminho devia quase ser obrigatório seguir, pelo menos em projetos pilotos aplicados a nível regional e local. Estamos a arder por fora e por dentro com as falhas tão evidentes a que assistimos num país considerado desenvolvido.

Esta na hora da maior ação. Ardemos por dentro para nos deixarem fazer o que tem de ser feito: prevenção, dissuasão e monitorização.