É bastante bom cuidarmos de nós - além do efeito evidente sobre o nosso bem-estar, felicidade, satisfação com a vida, autoestima e saúde mental, é muito provável que reduza o risco de doença coronária e que até nos faça viver mais tempo. Desde que excluamos perspectivas filosóficas determinísticas, cuidar de nós tem ainda a enorme vantagem de estar nas nossas mãos. É perfeitamente possível decidirmos jogar golf, passar a ferro, falarmos com pessoas de quem gostamos, comermos a melhor refeição do mundo em casa dos nossos pais, fazermos uma para os nossos netos, ou até pedirmos a alguém para nos coçar as costas.

E as férias? Também são uma forma de cuidar de nós?

Estranhamente, não é assim tão claro! Ir de férias implica afastar-se do stress do trabalho, o que é bom, mas também pode implicar tropeçar em empregados de hotel rudes, em ter de comer aquele horroroso guisado de uma tia ou receber um amável email de um colega a lembrar o prazo para entrega de um relatório que, pelo menos, vai salvar o mundo.

Num excelente artigo de revisão recente, em que participou uma das pessoas que mais tem publicado neste tema, Jessica de Bloom, aceita-se que não se sabe assim tanto sobre este assunto (Yan et al, 2024). Ainda assim, são identificados 3 grupos de fatores que influenciam o bem-estar durante as férias: as características das férias em si, as do destino de férias e as das atividades realizadas. Estão associadas a bem-estar coisas como estar com outras pessoas (por exemplo tentar integrar-se com as pessoas que vivem nas regiões que se visita), novidades boas (especialmente se foram surpreendentes, tipo serendipidade) e escolher fazer coisas que se gosta (a autonomia é mesmo importante!). A perspetiva com que se olha para as coisas também foi considerada importante - é muito melhor tentar ver que as coisas têm o seu lado bom, valorizá-lo, e dar um significado pessoal às férias (por exemplo, sentir-se em ligação com mundo ou ter experiências de ajudar os outros).

A partir daqui não há propriamente estudos comparativos para comprovar a utilidade destes fatores. Seria preciso, por exemplo, pegar num grupo de pessoas, dividi-los aleatoriamente em dois grupos e sujeitar cada grupo à mesma experiência de férias, mas com durações diferentes.

Ou seja, a extrapolação para conselhos práticos é mais difícil de ser feito com rigor científico. Contudo, parece ser mais importante a forma das férias, do que o seu conteúdo (que é individual e depende do gosto das pessoas). Ainda assim, provavelmente é bom para si se tiver em conta estes fatores:

-Férias com pelo menos oito dias tendem a ter efeitos mais duradouros no bem-estar.

-Planeie fazer o que gosta, escolhendo atividades que lhe deem prazer e sentido, em vez de pensar pela cabeça dos outros.

-Esteja com pessoas de quem gosta e procure conhecer gente nova nos locais que visita.

-Permita-se a surpresa e deixe espaço para o inesperado e para a descoberta.

-Evite levar o trabalho consigo.

-Dê significado pessoal às experiências, veja as férias como uma forma de se conectar com o mundo e com os seus próprios valores.

Frederico Simões do Couto - Professor associado de Psiquiatria e Psicofarmacologia na Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa

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