"Sabemos que a atenção internacional está atualmente mais focada no Covid-19, mas (...) ainda precisamos de mais 20 milhões de dólares [cerca de 18 milhões de euros] para que a OMS mantenha a equipa no terreno, porque o Ébola também é uma questão de segurança sanitária global", disse o diretor-geral adjunto de Resposta e Emergência da OMS, Ibrahima-Socé Fall, numa conferência de imprensa para atualizar a situação da doença, que eclodiu em agosto de 2018 na RDCongo.
O responsável começou as suas declarações congratulando-se com a cura de Masiko, que esta terça-feira teve alta de um centro de tratamento de Ébola em Beni por estar curada, tratando-se do último paciente infetado com a doença no país.
Fall alertou no entanto que o surto pode não ter ainda terminado: isso só pode ser declarado quando a última pessoa a ter sido curada tiver um resultado negativo a um segundo teste após 42 dias.
O diretor geral-adjunto indicou que o perigo é iminente e que devem estar preparados caso surjam novos casos.
Ibrahima-Socé Fall indicou também que existem quatro fatores para a reincidência do vírus: “Primeiro, a transmissão do Ébola é possível fora dos grupos sob vigilância; segundo, o vírus Ébola pode persistir em agulhas, seringas ou frascos usados durante várias semanas; terceiro, o vírus pode persistir nos fluídos corporais das pessoas curadas durante meses, e pode ser transmitido após a sua recuperação ou, em casos mais raros, pode resultar numa recaída das vítimas; por fim, o vírus está presente num reservatório de animais na região, e há sempre o risco de uma nova propagação para as pessoas”.
O diretor geral-adjunto afirmou ainda que o programa ‘Sobrevivente’ tem de continuar a ser financiado porque “fornece cuidados de acompanhamento a quase todos os 1.169 sobreviventes em 26 áreas de saúde no Kivu Norte e Ituri [a leste e nordeste da RDCongo, respetivamente]".
"O programa também ajuda a reduzir os riscos de eventuais recaídas”, acrescentou.
Fall referiu-se ainda aos ataques de que foram alvos as equipas humanitárias na RDCongo, afetada por vários conflitos.
Desde que o surto foi declarado, houve 420 ataques a instalações de saúde na RDCongo, o que provocou 11 mortos e 86 feridos, entre funcionários da área da saúde e pacientes, declarou-
Segundo Ibrahima-Socé Fall, “no auge do surto, mais de 120 casos eram relatados a cada semana", tendo sido afetadas "28 zonas de saúde, com casos a aparecer a 1.200 quilómetros de distância”.
Como resposta ao surto, o responsável enumerou: 11 laboratórios foram criados para testar cerca de 3.500 amostras por semana; 11 centros de tratamento do Ébola foram criados; 300.000 pessoas foram vacinadas; foram realizados 26.000 funerais em segurança; foram identificadas mais de 3.000 unidades de saúde para a prevenção e controlo de infeções; foi aprovada uma vacina contra o Ébola; quase 160.000 milhões de pessoas foram rastreadas para detetar sintomas da doença”, declarou o diretor-geral adjunto durante a conferência.
Por fim, afirmou que o sistema de saúde “tem de ser forte para parar muito mais do que o Ébola".
"Tem que deter a malária, o sarampo, a cólera e agora o Covid-19 [novo coronavírus]”.
Desde que foi declarada a epidemia, em agosto de 2018, e até 01 de março, foram registados 3.444 casos de infeção pelo vírus do Ébola, dos quais 3.310 confirmados em laboratório.
A doença causou 2.264 mortes (2.130 confirmadas e 134 prováveis) e 1.168 pessoas ficaram curadas.
Esta epidemia, na RDCongo, é a segunda mais mortífera de Ébola de que há registo, sendo apenas ultrapassada pela que atingiu a África Ocidental entre 2014 e 2016 e que matou mais de 11.300 pessoas.
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