O documento, da autoria do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), aponta diversos estudos que concluem que os governos deverão investir em áreas críticas como a capacidade de adaptação e de aprendizagem, de alinhamento dos serviços públicos com as necessidades dos cidadãos, de governação de sistemas de produção resilientes e na capacidade de gerir dados e plataformas digitais.
O Relatório de Primavera 2022 — “E agora?”, que hoje é apresentado na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e que analisa a governação do sistema de saúde português, lembra a redução na atividade assistencial, mas sublinha o esforço dos Cuidados de Saúde Primários (CSP).
“Os CSP, apesar de algumas quebras, evidenciaram um esforço notável na procura de formas alternativas de resposta aos seus utilizadores, a par com o seguimento de doentes com covid-19 e de todo o trabalho que foi necessário desenvolver no processo de vacinação”, sublinha.
O OPSS recorda a redução nas consultas presenciais nos CSP no período 2019/2020 e o aumento de 14,3% em 2020/2021, mas sublinha que este não foi suficiente para recuperar a atividade pré-pandemia, “uma vez que se regista uma redução de 29,7% entre 2019/2021”.
Os cuidados ao domicílio seguem a mesma tendência, que é alterada nas consultas não presenciais, que mais do que duplicaram no período 2019/2020, continuando a aumentar em 2020/2021, refere o documento, que destaca o facto de o serviços terem procurado formas alternativas de dar resposta aos utentes.
Nas consultas médicas hospitalares, sublinha que a atividade anterior à pandemia ainda não foi completamente recuperada, tendência que se repete para as primeiras consultas.
A mesma tendência de queda — refere o relatório — é encontrada nos Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT) entre 2019/2020.
No período 2020/2021, o documento aponta para um aumento total de 39% dos atos aceites de MCDT, referindo que o aumento é generalizado em praticamente todas as áreas, com exceção da neurofisiologia (redução de 29,7%).
Em relação aos níveis de atividade, o relatório defende que em Portugal se deve ponderar se no pós-pandemia se pretende repor em todas as linhas os níveis verificados na pré-pandemia.
“Por exemplo, tendo em conta as queixas dos hospitais relativamente ao excesso de procura nas urgências antes da pandemia, sugerindo que os problemas poderiam e deveriam ser resolvidos noutras áreas de cuidados, nomeadamente nos CSP, esta reposição poderá ser equacionada e estendida a outras áreas de cuidados”, sugere.
Diz ainda que a análise da redução global na utilização de serviços de saúde e os níveis que se pretendem repor, bem como o aumento das necessidades não satisfeitas em saúde, devem ser analisadas em conjunto para ajudar na definição de estratégias coerentes que respondam às necessidades identificadas e que permitam melhorar a saúde de forma eficiente.
Sobre o recurso à telemedicina e outras variantes da telessaúde – alternativas encontradas para responder à necessidade de respostas alternativas aos utentes -, o Relatório de Primavera defende que deve ser garantida “a sustentabilidade dos respetivos investimentos necessários nesta área (infraestruturas, tecnológicos, humanos, formação, etc.) e o sistema de incentivos para a manutenção e até extensão das boas práticas comprovadas”
No entanto, alerta, a adoção da telessaúde “deverá ser equacionada para perceber se responde integralmente às necessidades da procura que se verificaram nos diversos níveis de cuidados, não podendo ser adotada como uma panaceia para todas as atividades de saúde”.
O Observatório Português dos Sistemas de Saúde é constituído por uma rede de investigadores e instituições académicas dedicadas ao estudo dos sistemas de saúde.
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