“O sistema de saúde mental em Portugal sempre esteve em atraso em comparação com a evolução da psiquiatria europeia, no que respeita ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento da doença mental (…). Nunca houve um compromisso político sério em investir neste setor”, refere o relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde que é hoje divulgado em Lisboa.
O documento, a que agência Lusa teve acesso, recorda que Portugal ocupa o primeiro lugar, entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no consumo de psicofármacos e tem uma prevalência de doenças mentais (por período igual ou superior a 12 meses) de 21%.
Apesar disso, apenas 15% da população recorre a médicos psiquiatras e 9% a psicólogos, sendo que 80% dos utentes que necessitou recorreu a um médico de família para consultas de saúde mental.
Dados de 2016 mostram que existiam 1.613 profissionais de saúde mental nos serviços públicos de adultos, sendo que no SNS estavam integrados apenas 262 psicólogos. Na mesma linha, estatísticas de 2015 do SNS indicam que há 12 médicos psiquiatras por cada 100 mil habitantes.
Quanto aos psicólogos, o rácio em Portugal em 2015 correspondia a 0,285 profissionais por 5.000 habitantes, quando as recomendações internacionais apontam para um psicólogo por 5.000 pessoas.
Assim, haveria um défice de mais de 1.600 psicólogos, apesar de o relatório assinalar a contratação de 40 psicólogos para o SNS decida em 2018.
O relatório recomenda um reforço de psicólogos nos cuidados de saúde primários, que poderia permitir a diminuição de problemas de saúde mental, bem como a poupança em cerca de 20% a 30% dos custos e diminuição das idas às urgências ou das hospitalizações.
O Relatório da Primavera 2019, a que a agência Lusa teve acesso, analisa ainda as mudanças recentes e as previsões futuras quando à infeção por VIH/sida.
Apesar dos progressos feitos, Portugal continua a ser um dos países europeus com maior número de diagnósticos por 100 mil habitantes.
“Continua a faltar planeamento, estratégia, informação sobre quanto se investe em promoção da saúde e prevenção do VIH, e o estigma e a discriminação continuam presentes”, alertam os autores do relatório, sublinhando também “o silêncio mediático e nas políticas de saúde” sobre a “ameaça que a infeção ainda representa em Portugal”.
Segundo o documento, é “um claro contraste com o período de entusiasmo e mobilização que se vive atualmente, ao nível internacional, em torno do objetivo definido pelo programa ONUSIDA: que até 2030 o VIH deixe de ser uma ameaça à saúde pública”.
Apesar destes avisos, o relatório destaca o “excelente trabalho de Portugal no diagnóstico de mulheres grávidas”, que permitiu “a eliminação da transmissão mãe-filho ao nível nacional”, bem como o empenho das equipas comunitárias.
Na semana passada, a Direção-geral da Saúde anunciou que Portugal já atingiu as metas definidas pelas Nações Unidas no que respeita à infeção VIH/sida para 2020: 90% dos infetados com diagnóstico, 90% dos diagnosticados em tratamento e 90% dos que são tratados com carga viral indetetável.
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