A verdade é que sim. Por muita informação que exista disponível, a maioria das crianças e jovens ainda prefere ouvir informação dos seus pais.
Por um lado, têm a garantia de ser mais fidedigna, do que páginas aleatórias online, ou pior do que isso, do que as famosas conversas de balneário, por outro, têm a certeza que vão ser conversas mais privadas, com mais significado. E o mais adequado é deixar que as conversas sobre a puberdade (e sobre o período) possam ir acontecendo ao ritmo de cada criança. Sem agenda ou datas específicas para acontecer.
Mas o que é que as crianças quererão saber?
Pois bem, TUDO. Sabemos que os miúdos são naturalmente curiosos, por isso, preparem-se!
As meninas quererão saber o que é o período, porque acontece, o que significa, quanto tempo dura, se poderão fazer a sua vida normal e se dói.
Os meninos quererão saber porque só acontece às meninas, se alguma coisa semelhante lhes poderá acontecer a eles, o que significa, se dói e se as meninas poderão fazer a sua vida normalmente.
Assim, nada melhor do que explicar que o período ou menstruação é um sangramento uterino normal que acontece ciclicamente em todas as meninas, quando finalmente atingem o seu desenvolvimento pubertário.
Habitualmente, esta hemorragia acontece a cada 25 a 45 dias (contados desde o primeiro dia da menstruação, até ao primeiro dia da menstruação seguinte), dura entre 3 dias e 1 semana e habitualmente corresponde a uma perda de sangue quantificada entre 30 a 60 mL. O sangue pode ser vermelho vivo, quando o fluxo é mais intenso, ou pode ser mais acastanhado. Em ambas as situações, é normal. Este sangue corresponde à normal eliminação do revestimento interno do útero, caso não se verifique uma gravidez. Acontece ciclicamente, cerca de 2 semanas após a ovulação.
Esta perda hemática significa que o corpo da menina se transformou num corpo de mulher capaz de gerar um bebé novinho em folha. E isso é uma grande mudança na vida de qualquer rapariga. De igual forma, quando o período deixa de existir, pelos 45-50 anos, significa que terminaram as hipóteses reprodutivas naturais para aquela mulher.
As raparigas preocupam-se sobre a dor do período e é importante explicar que sim, é suposto experienciar uma dor tipo moinha na região abdominal, que é sobretudo mais evidente nos primeiros dias da perda de sangue e corresponde às pequenas contrações uterinas que acontecem para expulsar o revestimento interno do útero – o endométrio. Por outro lado, é importante explicar que frequentemente, na semana que antecede o período, a rapariga pode sentir-se mais sensível, com dor de cabeça, humor mais triste e isto habitualmente é descrito como Tensão Pré-Menstrual (TPM).
Durante o período, a rapariga pode e deve fazer a sua vida de forma absolutamente normal, mesmo que inclua nadar. Havia um largo preconceito com o uso de tampões, pelo alegado risco de interferir com a integridade do hímen das mulheres virgens. O que sabemos hoje em dia é que as dimensões dos tampões são adequadas, mesmo para as raparigas com hímenes intactos.
O que temos assistido no último século é que as mulheres, dada a melhoria franca do estado nutricional das populações, têm o seu período mais precocemente. Pelos anos 1900, as raparigas eram menstruadas pelos 15-16 anos, mas atualmente a idade alvo situa-se pelos 12-13 anos, com um número crescente de meninas a terem a primeira menstruação pelos 9-10 anos.
Como introduzir o tópico período na conversa?
Valerá a pena falar com miúdos pequenos, vá 3, 4 ou 5 anos, sobre algo que só vai acontecer 10 anos depois?
Sim, apenas e só se perguntarem. A educação sobre o nosso corpo deve começar bem cedo, até mais cedo do que isso. Os miúdos fazem naturalmente perguntas que devemos responder sem rodeios, com linguagem apropriada, mas sobretudo, com a verdade.
Começar por chamar os órgãos genitais pelos nomes certos é muito aconselhável. Chamar a vagina por vagina e o pénis por pénis é muito importante. Não quer dizer que não se usem outros nomes, mas as crianças devem conhecer estes também.
Depois, os miúdos são curiosos, vêm as embalagens de pensos higiénicos e tampões e perguntam... Podemos começar por explicar para que servem: as mulheres perdem um pouco de sangue todos os meses e precisam de usar estes dispositivos. Esta conversa pode surgir espontaneamente no supermercado quando estamos a comprar pensos higiénicos, ou mesmo na casa-de-banho, se andarem a vasculhar o armário debaixo do lavatório e acidentalmente encontrarem um tampão ou um penso higiénico.
Mais tarde, podem surgir perguntas enquanto vêm anúncios na televisão para medicamentos que proporcionam alívio das dores menstruais, ou quando estudam o corpo humano e o sistema reprodutivo na escola.
O ideal mesmo seria nunca deixar esta conversa para a véspera da menarca – por menarca entende-se o termo médico para a data da primeira menstruação.
Se vemos os nossos filhos a crescer, com os primeiros pelos nas axilas ou na região púbica, provavelmente estaremos num bom momento para começar a falar sobre estes temas, quer sejam meninas ou meninos. Também é importante nunca deixar de lhes passar a ideia que os corpos são privados e que devem ser integralmente respeitados por todas as pessoas.
Se como pais não se sentem muito à vontade para falar sobre estes temas, podem sempre munir-se de alguns livros ilustrados sobre o desenvolvimento pubertário e fazer perguntas abertas, do género “o que já sabes sobre isto?”, vão ver que vão ser surpreendidos pela quantidade de coisas que os miúdos já sabem.
Um artigo da médica pediatra Joana Martins.
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