É uma das bebidas preferidas de milhões de pessoas em todo o mundo e considerada um ritual incontornável para um despertar eficaz. É também o motivo ideal para uma pausa no trabalho ou o remate perfeito de um grande jantar. Se faz parte do seu clube de apreciadores, descubra, com a ajuda de uma nutricionista e de um especialista na matéria, quais os benefícios e os cuidados na hora de escolher e de tomar um café. Sabia que o mais quente é o melhor?
De acordo com um estudo científico da American Chemical Society (ACS), tornado público no início de abril de 2020, quanto mais elevada for a temperatura da água usada na sua preparação, maiores os benefícios para a saúde. "Eu aconselho sempre os consumidores a beber aquilo que gostam mas, se quiser preparar uma bebida de café a pensar nos antioxidantes ou na acidez, deve ter a torrefação em atenção", avisa ainda Niny Z. Rao, uma das investigadoras.
"Se a ideia é obter uma bebida com um grau de acidez baixo, deve usar um café de torrefação mais escura. Tenha, contudo, em conta que a diferença entre a quantidade de antioxidantes presentes num café quente ou num café frio é muito maior numa torrefação escura", garante a especialista, que integra o corpo docente da Universidade Thomas Jefferson, em Filadélfia, nos EUA. "Não existiam estudos sobre o processo a frio. Nós decidimos fazê-lo", justifica.
Os (muitos) efeitos benéficos
A ingestão moderada de cafeína, uma substância presente no café, aumenta o estado de alerta e potencia os níveis de energia. De acordo com Alexandra Bento, nutricionista e bastonária da Ordem dos Nutricionistas, para além de estimular o sistema nervoso central, a cafeína apresenta ação diurética, dilata as vias respiratórias, estimula a produção de ácido no estômago e aumenta ligeiramente a tensão arterial, dando a sensação de menor cansaço.
Segundo a especialista, alguns estudos sugerem que o consumo de café, sobretudo quando preparado à moda dos países escandinavos (fervido e não filtrado) ou em cafeteira (french coffee), está associado a um aumento dos níveis de colesterol total e colesterol LDL (mau colesterol), devido à presença de duas substâncias (cafestol e cafeol) que existem nos grãos de café. No entanto, quando o café é filtrado, ficam retidas no filtro de papel, perdendo essa influência.
A dose certa que não deve ultrapassar
O consumo de café, em doses moderadas, não provoca transtornos em pessoas que gozem de boa saúde física e mental. Assim, para adultos saudáveis, acrescenta, a ingestão de cafeína deve limitar-se a um máximo de 300 miligramas/dia, sendo que, de acordo com a Roda dos Alimentos, um café expresso comprido tem, em média, cerca de 125 miligramas de cafeína, enquanto um café curto tem aproximadamente 104 miligramas deste estimulante.
Contudo, o consumo de cafeína "pode criar habituação", avisa Alexandra Bento. A ingestão excessiva de café pode causar, entre outros efeitos secundários, ansiedade, insónia, irritabilidade e taquicardia, refere a nutricionista, sendo que uma pessoa que esteja habituada a tomar café regularmente, ao deixar de consumir de forma súbita e total, pode sentir, por exemplo, dores de cabeça, tremores, ansiedade e até letargia, sintomas de privação, numa fase inicial.
As espécies de café mais comuns
O café provém de uma planta com várias espécies, sendo a mais apreciada a que é originária dos planaltos etíopes. A espécie Arábica é produzida essencialmente na América Latina, na Africa de Leste e em algumas zonas da Ásia. De acordo com Rui Carneiro, engenheiro da Associação Industrial e Comercial do Café (AICC), é sabido que as misturas de Arábica produzem, por norma, melhor café, com elevada acidez, um aroma refinado e sabor residual a caramelo.
Existe ainda a Robusta, espécie que se produz mais facilmente, gerando maiores quantidades com menores custos. O Arábica tem menor teor de cafeína, mais intensidade de sabor e é menos amargo. Os valores médios para o café torrado e moído são 1,3% para o Arábica e 2,4% para o Robusta. A quantidade de cafeína ingerida numa chávena varia consoante o lote. Apesar das suas qualidades, o Arábica não produz um creme tão espumoso como o Robusta.
Segundo dados fornecidos pela cadeia de lojas espanhola El Corte Inglés, os lotes mais correntes, do Brasil e da Colômbia, rondam, em média, os 13 € e os 15 € por quilo. Se quiser apostar numa excentricidade, encontra o café Kopi Luwak, originário da Indonésia, que chega a ser vendido a 600 € por quilo. Na Ásia, há produtores que alimentam elefantes com grãos de café e que, depois, os recolhem das fezes dos animais para moer. Uma bica chega a custar 35 €.
Texto: Raquel Pires com Alexandra Bento (bastonária da Ordem dos Nutricionistas) e Rui Carneiro (engenheiro da Associação Industrial e Comercial do Café)
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