A palavra significa grande vida, o que pressupõe mais do que um mero regime alimentar. No horizonte da filosofia macrobiótica, seguida por milhões de pessoas no mundo, incluindo celebridades como Madonna, está o objetivo de uma vida mais longa, plena e feliz. Na sua base, a ideia de que cada um deve responsabilizar-se pela sua vida, o que inclui manter e recuperar a saúde, nomeadamente através da alimentação e de uma seleção de ingredientes adequada.

No centro desta abordagem holística, está a energia ki, uma qualidade subtil que, segundo a tradição oriental, está na origem de todas as coisas e se manifesta através de dois pólos opostos e complementares, o yin e o yang. Tal como a noite e o dia, o homem e a mulher ou ainda a dicotomia entre o animal e o vegetal, também os alimentos podem ter características yin ou yang. Do equilíbrio entre estas forças distintas dependem a saúde e o bem-estar de cada um.

A sua saúde e o seu bem-estar resultam da moderação na ingestão de alimentos yin e yang e da preferência pelos centrais, que contribuem para nos adaptarmos melhor ao ambiente e estarmos em equilíbrio. Para a garantir, antes de optar pelo regime alimentar que defende este tipo de fundamentação, deve conhecer previamente o que caracteriza e distingue este tipo de ingredientes e também as melhores formas de os combinar para conseguir alcançar o equilíbrio.

O que são os alimentos yin

Este conceito representa leveza e calma, sendo símbolo de atitude gentil, refletida, estética, geralmente associada a um caráter depressivo, inerte, dependente. Fazem parte deste grupo os seguintes alimentos:

- Vegetais de origem tropical como a batata, o tomate, a curgete, os espargos, a beringela e o pimento

- Laticínios como o leite, o queijo fresco, o iogurte, as natas e o requeijão

- Frutos tropicais como a banana, a manga, o ananás, a papaia e o dióspiro

- Especiarias e temperos como o sal marinho integral, o molho de soja, a pasta de miso, o gomásio e o vinagre de arroz

- Bebidas alcoólicas como a cerveja, o vinho e a aguardente de arroz

- Doces como o mel, o mel de arroz, o xarope de agave e o concentrado de maçã

- Refrigerantes com sabores gaseificados como as bebidas de cola, de fruta e de extratos de plantas

O que são os alimentos yang

Este conceito está associado ao peso, à rapidez, a uma atitude ativa, dinâmica e extrovertida e a um caráter agressivo, impaciente e dominador. Fazem parte deste grupo os seguintes alimentos:

- Peixes de carne vermelha como o salmão e o atum

- Gambas

- Carne de porco, de vaca, de vitela e de aves

- Sal

- Ovos

- Queijos duros e salgados

Como se consegue o equilíbrio

Os alimentos que representam o equilíbrio são os que encontra na lista que se segue:

- Peixes como a truta, a pescada, o linguado, o peixe-espada e a sardinha

- Moluscos e frutos do mar como as lulas, as ostras, o mexilhão e as amêijoas

- Cereais integrais

- Leguminosas

- Algas

- Vegetais

- Sementes e oleaginosas

- Frutos de clima temperado

Os temperos e os condimentos a que pode recorrer

Estes são, de acordo com os especialistas em macrobiótica, os mais recomendados:

- Azeite extra-virgem, óleo de sésamo, óleo de girassol e óleo de milho

- Sal marinho não refinado

- Miso, uma massa fermentada, produzida à base de cevada ou de soja, muito usada na gastronomia oriental

- Vinagre de arroz integral

- Sementes de sésamo

- Umeboshi, um pickle de ameixa muito apreciado em países asiáticos, como é o caso da China e do Japão

- Molho de soja

- Gengibre

O que vai poder comer se aderir à macrobiótica

A adaptação às características individuais, nomeadamente ao género, à idade e à saúde de cada um, entre outros fatores que também podem ter uma influência determinante, são, a par da própria geografia em que nos movemos, duas premissas desta filosofia alimentar que milhões de pessoas em todo o mundo decidiram, um dia, começar a seguir. Eis as recomendações para climas temperados, como o nosso, tradicionalmente mais associado à dieta mediterrânica:

- Cereais integrais

Estes devem representar entre 50 a 60% dos alimentos diários. Contêm açúcares complexos, cuja energia é absorvida de forma gradual. Consumidos regularmente, asseguram níveis regulares de energia e vitalidade, reduzindo o cansaço. Opte por cereais integrais em grão, como a cevada, o millet, a aveia, o milho, o trigo, o centeio e trigo-sarraceno.

A lista de alimentos recomendados inclui, ainda, o cuscuz, o bulgur, os flocos de aveia ou de cevada, que pode ingerir todos os dias, tal como também sucede com o carolo de milho. Também pode ingerir, além de arroz integral e massa integral, as farinhas integrais em pão e em produtos de confeitaria, moderando todavia o seu consumo.

- Vegetais

Devem representar entre 25% a 35% dos alimentos diários. As suas refeições devem incluir alguns vegetais cozinhados durante, no máximo, um minuto, além de legumes crus e de outros vegetais, esses bem cozinhados. Opte por cebolas, cenouras, abóboras, brócolos, couves, agriões, nabos, couve-de-bruxelas, cogumelos, germinados e nabiças.

A batata, o tomate, a beringela e o pimento devem ser evitados, pois contêm alcaloides, substâncias que, em pessoas sensíveis, podem provocar problemas digestivos, nervosos, musculares, articulares e cutâneos. Os pickles ajudam a digestão e fortalecem a flora intestinal, pelo que a sua ingestão regular também é aconselhada pelos especialistas.

- Leguminosas

Devem representar entre 10 a 15% dos alimentos diários. Quando combinadas com cereais, permitem que o organismo obtenha proteína completa (todos os aminoácidos essenciais). Opte pelo grão-de-bico, pelas lentilhas, pelo feijão-azuki, pelo feijão-frade, pelo feijão-catarino e pelo feijão-manteiga e outros, além de derivados das leguminosas como o tofu, o tempeh, o natto e o seitan, um popular alimento derivado do trigo que é (re)conhecido pelo seu alto teor proteico.

- Algas

Usadas em pequena quantidade e cozinhadas com os vegetais, leguminosas ou cereais, são muito ricas em minerais, particularmente o cálcio, mas também ferro, iodo e oligoelementos, proteína, hidratos de carbono e vitaminas. Opte pela wakame, pela kombu, pela aramé, pela hiziki e pela nori, as mais fáceis de encontrar à venda no mercado.

- Sopa

Deve constituir uma a duas refeições do dia. A mais comum é, normalmente, de vegetais, mas pode incluir cereais, leguminosas, vegetais e/ou peixe. A de miso ou de pasta de soja é aconselhada devido aos benefícios para a reconstrução da flora intestinal.

Os alimentos que exigem um consumo moderado

Nenhum alimento é considerado totalmente proibido, mas há vários que são desaconselhados e que, por isso, devem ser ingeridos apenas esporadicamente, nomeadamente:

- Carne

A estrutura do tubo digestivo humano torna-o mais apto a digerir vegetais. Não é essencial comer carne para obter a proteína necessária. O seu consumo regular parece estar associado a problemas como o cancro do cólon, o cancro da mama, as doenças cardiovasculares e a osteoporose, entre outros, têm alertado inúmeros estudos.

- Laticínios

É possível obter cálcio de outros alimentos e ele é igualmente ou melhor absorvido. O seu consumo está associado a intolerância à lactose, aumento de risco de cancro da próstata e, possivelmente, dos ovários. Contêm gordura saturada, que está na origem de doenças cardiovasculares.

- Açúcar

É nutricionalmente vazio. Tem calorias, mas não tem valor proteico, mineral ou vitamínico, apontam os seus detratores. Provoca picos de glicemia no sangue prejudiciais ao organismo. Está relacionado com doenças civilizacionais, como a diabetes e a obesidade.

- Café e chá preto

São oriundos de um clima tropical. Afetam o funcionamento dos rins e bexiga. Esgotam rapidamente as reservas de energia do organismo, reduzindo a vitalidade e a imunidade.

Os métodos culinários que deverá usar

Os métodos culinários alteram a qualidade dos alimentos, pelo que devem ser o mais variados possível. Eis os seus efeitos nos alimentos e no organismo, segundo esta filosofia alimentar. Estes são os mais recomendados:

- Cocção a vapor

Encurta o tempo de preparação, confere maior humidade e realça o sabor de cada vegetal. O recurso a este método de confeção é bom para o fígado, para a vesícula biliar, para o coração e para o intestino delgado. Ajuda a eliminar a proteína e a gordura animal do organismo.

- Confeção sem água

Este método permite que os vegetais cozinhem no seu próprio suco, realçando o seu sabor doce. É bom para o pâncreas, para o baço e para estômago. Promove a estabilidade emocional.

- Salteados em óleo

Realça o sabor dos vegetais e torna-os mais secos e crocantes. Esta forma de preparação dos alimentos é boa para os pulmões e para o intestino grosso. Melhora a resistência física e aumenta a temperatura corporal. Quem tem problemas de fígado deve saltear os ingredientes alimentares que consome em água.

- Cozedura na panela de pressão

Permite concentrar os nutrientes e sucos dos alimentos. Este é um bom método para confecionar cereais, feijões e outros alimentos mais duros. É bom para os rins e para a bexiga.

- Confeção no forno

Torna os alimentos mais secos e quentes, realçando a sua doçura e aumentando a quantidade de gordura. Esta forma de preparação de ingredientes alimentares é boa para aquecer o organismo e para melhorar a resistência física.

As recomendações dos seguidores do regime

O mel de arroz, o mel de cevada e o concentrado de maçã são os adoçantes mais usados. Feitos à base de cereais em grão, são menos refinados do que os convencionais. Use-os nos seus preparados. Evite comer ovos e alimentos processados, sobretudo os que contêm gordura hidrogenada. O corte dos alimentos deve garantir equilíbrio entre a energia yin e yang do alimento. Por exemplo, a cebola deve ser cortada longitudinalmente. Já a cenoura, em diagonal.

Texto: Rita Miguel