Em competições de futebol, vemos recorrentemente este tipo de traumatismos ocorrer. Na verdade, os requisitos em alta competição, nomeadamente quando se pretende o rápido retorno do atleta à competição, muitas vezes durante o próprio jogo em que ocorre o traumatismo, impõe medidas, por vezes, de carácter provisório e que possam ser levadas à prática no próprio local.
Os tecidos cutâneos da face são bem irrigados pelo que pequenas feridas podem traduzir-se por sangramento relevante que pode preocupar quem esteja junto da vítima. A aplicação de compressão durante dois minutos (sem aliviar a pressão) sobre uma compressa esterilizada ou, em alternativa, um pano bem limpo, é quase sempre o suficiente para reduzir o aparato da situação com o controlo da hemorragia.
A lavagem profusa da ferida com soro fisiológico é uma medida importante em caso de feridas conspurcadas com terra ou outros detritos. Em alternativa a água limpa poderá ser utilizada embora habitualmente se traduza por mais dor.
A desinfecção é também um passo importante no processo de forma a reduzir a probabilidade de infecção. As soluções iodadas, não alcoólicas, são as mais utilizadas. Ao contrário do que muitas vezes é dito, a antibioterapia não é necessária na grande maioria das situações, devendo habitualmente ser reservada para infecções estabelecidas.
A maioria das feridas necessitam de protecção adequada com penso estéril existindo muitos disponíveis no mercado. Preferencialmente devem ser utilizados pensos com interface não aderente para evitar sangramento e dor na mudança dos pensos.
Naturalmente nem todas as feridas são iguais dependendo da sua localização, profundidade ou perda de tecidos nomeadamente pele. Estas últimas necessitam habitualmente de atenção de um especialista em Cirurgia Plástica para aplicação de soluções mais complexas.
As pequenas escoriações (feridas superficiais) são adequadamente tratadas com lavagem e desinfecção deixando a superfície ao ar, aplicando desinfecção uma a duas vezes por dia. Habitualmente formam-se crostas mais ou menos irregulares ou extensas que não devem ser activamente removidas mas sim deixarem-se evoluir de forma espontânea até de destacarem. Por essa altura, normalmente, já temos o tecido da pelerestabelecido sob estas.
Muitas das feridas apresentam, no entanto, alguma profundidade com afastamento dos seus bordos, sendo necessário tomar medidas para a sua aproximação e manutenção. Para feridas em que os bordos sejam lineares (não irregulares) e pouco extensas o encerramento destas pode ser conseguido com tiras adesivas esterilizadas que devem ser mantidas no lugar aproximadamente 7 dias. Outra alternativa para feridas com estas características é a utilização de colas apropriadas para o efeito. Estas, no entanto, devem ser aplicadas por quem tem experiência de forma a não penetrarem na ferida propriamente dita dificultando a cicatrização. Outro risco é a utilização destas colas em algumas zonas podendo conduzir a aderência indesejável entre as pálpebras ou os lábios, por exemplo.
A utilização de suturas, os habitualmente denominados pontos, é a solução utilizada com maior frequência para feridas com alguma profundidade. Devem ser efectuadas por médico e em condições de assepsia. Habitualmente é efetuada com suturas finas e removida precocemente (5 a 8 dias) para evitar “marcas” dos “pontos”.
É necessário ter presente que algumas dessas feridas, dependendo da sua localização e intensidade do trauma, se podem associar a lesões de outras estruturas como fracturas de ossos do nariz ou outros na face, lesões ocular ou outros problemas pelo que o exame clínico é muitas das vezes necessário.
Outro aspecto a considerar são os cuidados a longo prazo que podem implicar massagem da cicatriz para redução de aderências, hidratação da pele, proteção solar da pele durante meses de forma a reduzir alterações da pigmentação ou aplicação de tiras de silicone para
reduzir as cicatrizes hipertróficas (mais volumosas). A necessidade de consultar um Cirurgião Plástico pode ser relevante quando a evolução cicatricial é inadequada com deformações e retrações. Com efeito, existem técnicas de Cirurgia Plástica que podem ser aplicadas de forma a melhorar as cicatrizes onde se incluem, por exemplo, plásticas cirúrgicas ou dermoabrasões.
É conveniente ter à mão durante a prática desportiva, nomeadamente futebol, um kit de primeiros socorros de forma a que possam ser instituídas no local as medidas acima descritas. E, se necessário, não hesitar em procurar ajuda médica para uma correta avaliação e tratamento.
Um artigo do médico Prof. Doutor Manuel Caneira, Coordenador de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética nos Hospitais CUF Descobertas e CUF Tejo. Especialista integra a equipa multidisciplinar da Unidade de Medicina Desportiva e Performance da CUF.
Comentários