As quatro estações do ano já não são o que eram e os dias começam a apanhar-nos completamente desprevenidos. Ainda assim, como terá certamente percebido, o verão chegou completamente e em força. Quente, muito quente. Há quem tenha resistência ao calor mas há também pessoas mais suscetíveis, como as crianças e os idosos, que devem tomar precauções. Surgem, com o tempo, alguns problemas de saúde decorrentes das ondas de calor que se vão fazendo notar e que importa acautelar.

"O calor tem sempre uma série de efeitos no corpo humano. Para começar, surge a desidratação porque as células do organismo necessitam de água", esclarece Olga Xavier, médica de medicina geral e familiar. As células são a composição de todos os órgãos do corpo humano. "Se estiverem desidratadas, não cumprem a sua função e os órgãos adoecem, deixando de funcionar adequadamente", acrescenta. Tome, de seguida, nota dos conselhos para aproveitar o calor sem que este interfira no seu bem-estar.

Os grupos de maior risco

A população em geral deve, toda ela, sem exceção, respeitar algumas regras mas é conveniente que os grupos de risco tenham ainda mais cuidados. Os idosos desidratam mais rapidamente, tal como as crianças, constituindo os principais grupos de risco face ao calor em excesso. "As células em formação nas crianças e pelo envelhecimento natural nos idosos, entram em falência mais facilmente do que nas pessoas novas, que têm mais reservas e maior vivacidade para aguentar a desidratação", explica ainda Olga Xavier.

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As doenças crónicas também não gostam das temperaturas altas. "As grávidas constituem também um grupo de risco, isto apesar da gravidez ser algo natural. Não é uma doença e, normalmente, corre bem mas, como estão dois corpos a formarem-se dentro de um só, recomenda-se que haja um reforço da hidratação", indica a especialista. Já pessoas com insuficiência venosa crónica não devem expor-se ao sol. "A partir de determinada idade, as válvulas dos membros inferiores tornam-se menos competentes, o que faz surgir inchaços nas pernas e dilatações varicosas", refere a médica.

"Estes doentes podem molhar as pernas com regularidade mas devem, todavia, tapá-las depois de saírem da água evitando exporem-nas ao calor", alerta Olga Xavier. Também os diabéticos devem ter muita atenção ao aumento das temperaturas, uma vez que, à semelhança de outras exceções, integram o grupo das pessoas mais vulneráveis às altas temperaturas. "A secura dos pés gera calosidades e pode originar feridas que, se não forem tratadas convenientemente, podem trazer graves complicações", avisa.

As duas proteções obrigatórias

Hidratar-se ao longo do dia é essencial mas há outros comportamentos preventivos a adotar. "As pessoas não se devem esquecer de aplicar um protetor solar com um índice de proteção muito elevado e resistente à água e essa proteção deve ter início logo em casa, 20 minutos antes de saírem para a praia ou para a rua", adianta a especialista, lembrando que "o couro cabeludo não deve ser esquecido, sobretudo nas crianças e nos idosos". As palmas das mãos e a parte de trás do pescoço também devem levar creme.

A segunda regra da hidratação é a ingestão de água. Seja qual for a altura do ano, recomenda-se que qualquer pessoa beba cerca de litro e meio de água diariamente. "Mas, no verão, devido às altas temperaturas, cada um de nós deve beber, pelo menos, dois litros de água", aconselha a médica. Nestes dois litros, há espaço para as limonadas e para as sopas, que podem ser frias, como o gaspacho, para se tornarem mais apelativas e refrescantes, assim como os chás e o leite, que também podem ser bebidos com gelo.

"Para quem não tem uma boa relação com a água ou não tem o hábito de beber litro e meio por dia, estas podem ser boas alternativas que conduzem a uma boa hidratação", indica a especialista de medicina geral e familiar. Se for bebendo pequenas quantidades de líquidos ao longo do dia, poderá antecipar a sensação de sede e prevenir a desidratação. Se não tem este hábito, saiba que existem aplicações móveis que alertam para a necessidade de bebermos água ao longo do dia, como a Hydro Coach e a iHydrate.

O tipo de roupa a evitar

Se não tem hipótese de fugir do calor, deve recorrer a estratégias úteis de prevenção que maximizem o seu bem-estar. Mantenha-se em casa se tiver essa possibilidade. Se tiver aparelhos de ar condicionado em casa ou no trabalho, tome algumas precauções. "Beba muita água porque aqueles aparelhos secam as mucosas", adverte Olga Xavier. "Use soro fisiológico e garanta que a manutenção do aparelho é assegurada", solicita ainda. Não baixar a temperatura do aparelho para menos de 21º C é outra medida importante.

Quando não existe ar condicionado, as ventoinhas são uma boa alternativa, "porque permitem a passagem do ar", sublinha a especialista. Outro truque anti-calor passa por usar roupa leve, não apertada e de cores claras. "A roupa escura acumula muito calor e deve ser evitada", avisa, apesar de haver especialistas que defendem precisamente o contrário, garantindo que a roupa negra protege mais os que a usam nos momento de maior calor, ainda que a branca reflita mais os raios solares. Essa é, pelo menos, a teoria.

Para além de beber água, deve molhar-se regularmente, se estiver na praia ou na piscina ou até mesmo em casa, tomando um duche rápido com água tépida. Por mais calor que sinta, evite, todavia, tomar duches de água gelada, pois esse é um dos erros mais comuns que as pessoas cometem nos dias de maior calor. "As mudanças de temperatura bruscas não são benéficas para o corpo", garante Olga Xavier. "A pessoa deve respeitar a sua temperatura corporal e os choques térmicos não são favoráveis", esclarece a médica.

Texto: Cláudia Pinto com Olga Xavier (médica de medicina geral e familiar)