Quando um amigo ou familiar nos procura e deposita em nós as suas frustrações, confiando-nos o seu desabafo, o nosso instinto, sendo uma pessoa importante para nós, é ajudá-la. Ouvi-la, consolá-la, aliviando a sua dor, dando alternativas e soluções, opinando e comentando. Muitas das vezes, sem querer, este impulso leva-nos a dizer ou a fazer coisas que desvalorizam a dor partilhada e não correspondem ao acompanhamento que era esperado de nós. Como podemos agir de melhor forma?

Há seis anos escrevi aqui, no SAPO Lifestyle, um artigo com o tema “Quando um amigo o procura, sabe o que não deve dizer?”. Visava alguns exemplos de frases banais que usamos quase de forma automática. Na altura, o feedback que recebi do artigo mostrou a sua importância e a pouca perceção que temos do que aqui foi explanado. Muitos disseram não perceber porque haveriam coisas mais certas do que outras para se dizer a alguém. Outros pediam sugestões diretas de frases feitas para se dizerem nestas situações. Outros ainda, diziam que não sabiam o que dizer mais além das frases que indiquei.

Não saberei sobre as pessoas mais do que elas próprias, nem me avogo a tal feito. Tento sim, com este artigo, aumentar a consciência para a forma como comunicamos uns com os outros e, se possível, torná-la mais humana e cuidada, mais próxima e afetuosa, mais completa e eficaz.

O primeiro passo é pensarmos em nós. Quando estamos na situação que aqui descrevo, de precisarmos de falar com alguém, num ímpeto de sofrimento que precisa de ser partilhado, como nos sentimos? Incapazes? Inseguros? Expostos? Tristes? Zangados? Angustiados? Talvez um deles ou até todos de uma vez. Importa perceber que sempre que procuramos alguém, não estamos regulados emocionalmente e procurar apoio num familiar ou amigo pode ser uma boa estratégia de realizar essa regulação. Desta forma, pensando em nós, melhor iremos perceber em que contexto nos procura alguém.

Depois é escutar. Não apenas ouvir o outro, mas sim escutar o que nos está a dizer. A sua intensidade, a forma, a emoção que partilha e como a acompanha. Se escutarmos atentamente, saberemos usar a grande ferramenta que nos torno humanos: a empatia. A empatia permite-nos estar no lugar do outro sem o termos de perceber. Conseguirmos compreender que algo pode ser um problema para outro sem ter de o ser para mim, é dos mecanismos de comunicação humana mais importante que podemos ter. No entanto, implica treino, implica escutar o outro mais do que a mim em muitos momentos, significa tolerar mais do que avançar e significa, mais que tudo, escutar em vez de falar.

É neste ponto que as frases feitas não funcionam. São frases de conforto para nós que as dizemos e não de empatia para quem as recebe. Muitas das vezes, dizemo-las por precisarmos, também nós, de dizer algo, numa tentativa de quebrar o sofrimento da nossa pessoa que está connosco, mas quem as ouve pode sentir-se desvalorizado e invalidado nos seus anseios partilhados.

A empatia irá permitir que surja a assertividade, tão necessária para que se digam coisas acertadas ao momento, respeitando o outro e a si próprio. Sendo assertivo, dirá o que as suas emoções lhe estão a sinalizar do que está a ouvir. Será assertivo a comunicar e, assim, ajudará e apoiará quem o procurou. Na maioria das vezes, quem o procura apenas precisa que esteja lá. Que não mude de assunto, que lhe dê importância e que lhe diga, num momento empático e assertivo, palavras de aconchego.

Por fim, pense no que quereria ouvir. Se fosse consigo, o que o ajudaria? Haveria algo que quisesse ouvir? Bastaria um abraço? Um toque? Bastaria o olhar e o sentir que está acompanhado? Ou gostaria, por exemplo, que lhe dissessem para ter calma? Ou que o tempo resolve tudo?

Este pensamento pode ser um bom treino de empatia que o pode dirigir para caminhos diferentes das frases feitas. Perceber como gostamos de ser ouvidos é um bom indicador de como devemos ouvir os outros, percebendo a sua individualidade e necessidades.

Empatia e assertividade aliadas são a chave da comunicação entre pessoas. Não as descure nem as desvalorize. Elas são também importantes para si próprio. Quantas vezes nos esquecemos de empatizar com o nosso sofrimento? De nos dizermos coisas acertadas que precisamos de ouvir?

Neste Natal, em que várias memórias surgem, muitos pensamentos flutuam e trazem emoções ao de cima, ou mesmo, novas situações para lidar com todas as pressões que existem nestas quadras, pense em oferecer empatia e assertividade aos que o rodeiam. Tenha em consciência as suas necessidades psicológicas e funcione para elas, potenciando a sua empatia por si e pelos outros. Estas são as melhores prendas que pode dar aos outros e a si próprio.

Tiago A. G. Fonseca - Psicólogo clínico