Em declarações à Lusa, António Guerner, docente e membro da Comissão do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da FCUP, afirmou hoje que a decisão tomada pelo reitor da Universidade de Coimbra (UC) foi "demasiado drástica".
"As medidas não devem ser adotadas de forma drástica, porque isto pode ser um exemplo interessante, que pode dar um pequeno contributo para a diminuição do aquecimento global, mas vai criar um alarmismo social e outro tipo de problemas junto da cadeia económica de produção de carne de vaca", salientou.
Para António Guerner, esta medida pode não ser "totalmente eficaz", uma vez que deveria ter sido "acompanhada de uma campanha de consciencialização do consumidor" e dar a "liberdade ao consumidor consciente de escolher aquilo que prefere".
Em causa está a libertação do gás produzido pelos dejetos dos bovinos, o gás metano, que segundo António Guerner, em estado de decomposição e fermentação "contribui de forma mais acentuada do que o CO2 [dióxido de carbono] para o aquecimento global".
"Em termos técnicos, uma molécula de gás metano tem um contributo para o aquecimento global muito superior do que uma molécula de CO2", explicou, alertando que os dejetos de todos os animais libertam este gás.
"Todos os dejetos de qualquer animais produzem metano, produzem é em diferentes concentrações e quantidades", frisou.
Na sua perspetiva, o Estado, à semelhança do que fez com os produtos que continham excesso de sal e de açúcar, "também poderia taxar o consumo de carne de vaca", lembrando existirem ainda outras "alternativas mais amigas do ambiente".
"O metano produzido pela fermentação dos dejetos dos bovinos poderia ser aproveitado para produzir eletricidade. Há instalações experimentais em algumas pecuárias na Europa que conseguem canalizar o metano produzido e esse metano é transformado em eletricidade", concluiu.
O reitor da Universidade de Coimbra (UC) anunciou na terça-feira que vai eliminar o consumo de carne de vaca nas cantinas universitárias a partir de janeiro de 2020, por razões ambientais.
Segundo o reitor da universidade, Amílcar Falcão, a eliminação do consumo de carne nas cantinas universitárias a partir de janeiro de 2020 será o primeiro passo para, até 2030, tornar a UC "a primeira universidade portuguesa neutra em carbono".
"Vivemos um tempo de emergência climática e temos de colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada", sublinhou, na sua intervenção, perante centenas de alunos.
A carne de vaca será substituída "por outros nutrientes que irão ser estudados, mas que será também uma forma de diminuir aquela que é a fonte de maior produção de CO2 que existe ao nível da produção de carne animal".
Por ano, cerca de 20 toneladas de carne de vaca são consumidas nas 14 cantinas universitárias da UC.
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