É por estas e por outras que preferencialmente tendo a não utilizar o termo acne neonatal. Gera confusão e como todo o mecanismo subjacente, curso clínico e terapêutica em nada coincide com o acne do adolescente, acabo por dizer que se trata de uma pustulose cefálica, ou, como os antigos diziam, trata-se da "medragem", um eritema com pequenas vesículas de conteúdo branco (vulgo borbulhas) que se estendem da face (especialmente a zona das bochechas) até à metade superior do tronco, com início na segunda/terceira semanas de vida e frequentemente com resolução depois das 8-10 semanas.
Acomete 20% dos bebés recém-nascidos e é absolutamente benigno. Reparem, não requer tratamento especializado, nem significa que o bebé tem uma pele especialmente sensível ou passível de desenvolver condições alérgicas cutâneas.
Pensa-se que o acne neonatal esteja relacionado com a influência hormonal materna e a adaptação da pele do recém-nascido a um ambiente exterior onde será naturalmente colonizada por bactérias. Nunca se deve desinfetar as áreas afetadas e muito menos espremer as lesões, porque para além da dor que provoca ao recém nascido, há o risco de criar uma porta de entrada de microorganismos na pele e contribuir para uma infeção grave totalmente evitável.
E o acne na adolescência?
Por outro lado, o acne na adolescência é uma condição inflamatória da pele em que os folículos pilosos produzem uma quantidade anormalmente elevada de gordura e acabam por ficar ocluídos, gerando assim zonas papulares inflamadas, borbulhas e comedões (vulgo pontos negros).
Afeta sobretudo adolescentes e está intimamente relacionado com a resposta dos folículos pilosos ao estímulo hormonal, mas pode manter-se ativo durante a idade adulta.
Localiza-se frequentemente na face, tronco e ombros e requer uso de produtos adequados para a higiene e hidratação da pele.
O mais tenebroso do acne são as cicatrizes, tanto mais profundas quanto maior a incidência de pústulas e de trauma secundário às borbulhas espremidas. As cicatrizes, por sua vez, se não forem protegidas do sol, acabam por sofrer alterações da coloração, tornando o resultado bastante mais inestético.
Existem gamas de produtos específicos para o cuidado das peles acneicas e o seu uso é fundamental. Infelizmente, nem todos os tipos de acne ficam controlados com estes produtos e pode ser necessário recorrer ao acompanhamento clínico pela dermatologia e iniciar tratamentos específicos.
Assim, apesar de ambas as condições serem chamadas de acne, em nada se comparam: o acne neonatal é benigno, auto-limitado e não deixa qualquer cicatriz; já o acne na adolescência tem diferentes graus de gravidade, podendo ser uma patologia muito grave, com necessidade de tratamentos específicos com reguladores da secreção sebácea e antibióticos, com uma elevada probabilidade de gerar processos cicatriciais anómalos.
Um artigo da médica Joana Martins, especialista em Pediatria.
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