O fenómeno da violência é uma realidade de há muito, mas apenas recentemente é considerada uma problemática social. A violência manifesta-se pela presença de comportamentos ativos (físicos, emocionais, sexuais), mas também passivos (negligência nos cuidados e/ou afetos, abandono, privação afetiva). Todas estas formas resultam em graves prejuízos para a saúde mental das crianças, afetando-as a nível comportamental, afetivo, emocional, cognitivo.

A violência na criança, a nível psicológico, é um problema ou ato que pode acontecer quando a criança é atingida diretamente ou quando é exposta a violência, ou seja, quando é testemunha silenciosa da mesma. Por exemplo, em casos de violência doméstica em que crianças assistem a violência interparental.

A primeira infância é uma fase decisiva e delicada no processo de desenvolvimento do ser humano e as relações parentais são muito importantes para a maturação de processos de crescimento bem estruturados. As emoções de uma criança começam a ser experienciadas e organizadas nos primeiros tempos de vida e essa realidade favorece o desenvolvimento saudável. As crianças e os adolescentes precisam de um ambiente familiar com relações contínuas, gratificantes, saudáveis e são essencialmente estas relações e as construídas e vividas com os pares que contribuem para o seu equilíbrio bio-psico-social.

Isto quer dizer que as crianças em fase de desenvolvimento expostas a situações de violência têm o crescimento psicológico comprometido, traçando inevitavelmente consequências para a sua construção individual. Estes danos emocionais, físicos e psicológicos traduzem-se, muitas vezes, em comportamentos de insegurança, agressividade, dificuldade de autocontrolo, dificuldade na aprendizagem, dificuldades na construção de relações sociais positivas ou depressão e podem permanecer ao longo da vida, com marcas irreparáveis.

O desenvolvimento da autoestima é, também, diretamente influenciado pelas relações que construímos com os outros, nomeadamente com as figuras parentais. Aquando o nascimento não temos uma imagem formada de nós e são as relações e experiências vivenciadas na infância que no permitem definir essa imagem. É a qualidade das relações e dos vínculos afetivos, assim como os sinais de que somos amados e capazes que define o nível de autoestima.

Quando a estrutura familiar é disfuncional, a atuação de todos os intervenientes não se revela satisfatória porque os estímulos não são saudáveis, isso torna a possibilidade de o amadurecimento emocional ter lacunas decisivas para o estabelecimento de relações sociais futuras organizadas e equilibradas.

A família é o lugar onde se procura colo, tranquilidade, segurança, proteção. A presença destes ingredientes influencia grandemente o desenvolvimento infantil e a sua ausência prejudica-o gravemente, sendo necessário cuidar das crianças sempre.

Sandra Helena, Psicóloga clínica e psicoterapeuta infanto-juvenil