Abrangendo cerca de 350 miúdos com idades dos 3 aos 6 anos, a iniciativa, financiada pela Fundação La Caixa, tem como principal objetivo ajudá-los a identificar e a gerir nove emoções básicas: a alegria, tristeza, medo, raiva, vergonha, surpresa e nojo. Mas porque nesse concelho do distrito de Aveiro a pandemia de covid-19 teve um peso especial, devido ao cerco sanitário que sujeitou a população a um mês de confinamento e restrições várias, o projeto também procura identificar problemas emocionais e psicológicos surgidos ou agravados nesse período concreto, de março a abril de 2020, ou manifestados em data posterior, “já que a pandemia continua presente” na vida de todos.
Como diretora do Centro Comunitário de Esmoriz, Jacinta Valente diz à Lusa que o tema deve ser uma preocupação de famílias e escolas: “Não é para gerar alarme, mas os pais e professores têm que estar alertas, porque é nestas faixas etárias que a inteligência emocional se desenvolve e a covid-19 mudou o que devia ser o crescimento normal destas crianças”.
Após o cerco sanitário em Ovar, a referida instituição implementou uma consulta de psicologia infantil para ajudar crianças com sintomatologia já identificada, mas a psicóloga Ana Carvalho afirma que eventuais problemas podem ainda não estar a ser devidamente identificados. “Há tendência para se achar que as mudanças no comportamento dos miúdos são por eles estarem a crescer, mas a realidade é que as crianças foram um dos grupos sociais mais afetados pelo confinamento – por ficarem privadas de ir à escola e de estar com os amiguinhos, numa idade em que o convício social é muito importante”, explica.
Há duas mudanças a que pais e educadores devem ficar particularmente atentos: “Se a criança já era mais fechada e isolada, convém que tentem perceber se isso se agravou e se ela agora, por exemplo, evita contacto com os colegas ou fica triste ou contrariada com pessoas de fora do agregado familiar. Se a criança até era calma, outro sintoma de que algo não está bem é se, com o confinamento e as máscaras, ela se tornou mais explosiva”.
Ajuda especializada é essencial para um diagnóstico correto, mas a forma como pais e professores lidam com a pandemia terá os seus próprios efeitos no comportamento infantil. Na Escola EB1 e Jardim-de-infância da Relva, por exemplo, a educadora Esequiela Resende acredita que o cerco sanitário e a pandemia “não pesaram mais do que o normal” na vida dos seus alunos.
“Nesta turma são muito poucas as crianças reservadas ou tímidas, o que já é bom para as fazer falar do que sentem. Mas acho que o principal motivo para não terem problemas relacionados com a covid é que, neste tempo todo, tentámos não passar a vida a falar sempre da mesma coisa e continuámos a fazer muitas atividades, para eles se distraírem do que se passava lá fora”, defende.
Quanto ao desenvolvimento emocional que o projeto “Lupas – Detetive de Emoções” pretende promover nessas crianças, a educadora avalia-o pela reação dos próprios participantes: “Os miúdos gostam muito e estão sempre ansiosos por fazer as atividades que o Lupas e a Mi propõem. São sempre muito participativos e é ótimo vê-los a pôr cá para fora aquilo que sentem e pensam”.
No dia em que a equipa do Centro Comunitário de Esmoriz se dedicou a explorar o conceito de medo, Esequiela Resende aponta esse sentimento como um daqueles em que uma boa estratégia emocional é “crucial” para ajudar a superá-lo.
“Os miúdos ficam assustados quando sabem que vão mudar-se para o 1.º Ciclo, mas, se os soubermos questionar sobre isso e responder a todas as dúvidas, eles percebem que não é um bicho-de-sete-cabeças, acalmam-se e ficam a sentir-se preparados”, conclui.
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