O pai iniciou o projeto e o filho deu-lhe seguimento. Situada em Freixial de Cima, na freguesia da Ventosa, no concelho de Alenquer, a Quinta do Monte d'Oiro é um caso de sucesso, nacional e internacional. Em março deste ano, a Revista de Vinhos atribuiu-lhes o prémio Produtor do Ano 2021. Quinze meses antes, a prestigiada publicação especializada norte-americana Wine Enthusiast tinha atribuído 91 pontos, o máximo eram 100, a um dos tintos de 2017.
"A Madame de Rothschild [produtora de vinhos francesa falecida em 2014] disse, um dia, que fazer vinhos é a coisa mais fácil do mundo. Só os primeiros 200 anos é que são complicados. Nós andamos nisto há 35. Temos uma idade média de vinhos à volta dos 25 anos. Este ano, celebramos o vigésimo-quinto aniversário da nossa primeira vindima", revela Francisco Bento dos Santos, filho de José Bento dos Santos, o empresário que iniciou o negócio da vinificação.
"Um projeto precisa de maturidade. Ainda temos muito para aprender mas já vamos tendo alguma experiência. Uma vinha com 25 anos já começa a ter uma complexidade muito interessante", orgulha-se o diretor-geral da Quinta do Monte d'Oiro. "Em 2017, plantámos vinha nova e, este ano, vamos colher, pela primeira vez, o produto das novas videiras. Estamos muito entusiasmados com a possibilidade de termos vinhos dessas parcelas para usar nos nossos lotes. Não sabemos ainda se os vamos usar ou não", ressalva, todavia, o produtor vitivinícola. "A maturidade de um projeto também se faz disto", considera.
"Temos uma equipa que, apesar de terem havido algumas alterações, é muito estável há muito tempo", sublinha. "Trabalhamos de forma biológica desde 2005. Há 17 anos que não entram químicos, pesticidas ou herbicidas na vinha. Estamos a ter uma base de trabalho muito interessante. Nós queremos fazer vinhos fiéis ao terroir, honestos e coerentes. E isso só se consegue com o tempo", garante Francisco Bento dos Santos, um homem apaixonado pelo que faz.
Elegância e frescura são duas das características que o produtor vitivinícola do distrito de Lisboa atribui às produções vínicas que desenvolve e comercializa. "Eu gostava de poder dizer que nós produzimos vinhos que sabem à Quinta do Monte d'Oiro, vinhos que expressam a identidade do nosso terroir. São vinhos muito gastronómicos, vinhos desenhados para beber à mesa. Podem ser consumidos isoladamente mas ganham com a parceria com a mesa", afiança.
"Fazem brilhar os pratos que acompanham", assegura o produtor. "São vinhos muito frescos, com uma salinidade muito natural, uma vez que estamos a 20 quilómetros do mar em linha reta. São vinhos que envelhecem bem em garrafa. São vinhos muito do Velho Mundo. Não têm nada a ver com os do Novo Mundo, da Austrália, da Nova Zelândia, da África do Sul ou até mesmo da Califórnia. Os vinhos que fazemos são europeus", ressalva Francisco Bento dos Santos.
"São vinhos clássicos no bom sentido do termo. No sentido em que são vinhos como aqueles que aprendemos a beber à mesa", refere. Muitas das colheitas que são produzidas na Quinta do Monte d'Oiro não são imediatamente lançadas. "Andamos um bocadinho atrasados em relação ao mercado", assume. A explicação é simples. "Os nossos vinhos têm uma capacidade de envelhecimento incrível. Nos primeiros anos, não conseguimos perceber logo isso", lamenta.
A pressa é inimiga da perfeição e, mesmo adiando o retorno do investimento, Francisco Bento dos Santos prefere esperar. "Agora que temos vinhos desde 1997, conseguimos afinar isso. As pessoas em casa e os restaurantes nas suas garrafeiras é que deveriam fazer esse trabalho de deixar envelhecer o vinho. Como muitos não têm essa capacidade, é uma forma de os ajudar. Não queremos lançar os vinhos acabados de engarrafar, ainda muito jovens", justifica.
"Lançámos, no final do ano passado, o nosso Quinta do Monte d'Oiro Reserva Tinto 2011. Na altura, guardámos 2.011 garrafas e, em 2021, 10 anos depois, chamámos-lhe Quinta do Monte d'Oiro Reserva Late Release Tinto 2011. Foi também uma forma de comemorar os 10 anos do nascimento do meu primeiro filho. Neste caso, fizemos ainda mais do que costumamos fazer. Em vez de guardar um vinho dois ou três anos, guardámo-lo 10", refere o produtor.
"Mas temos as nossas colheitas de branco e rosé de 2021 que vão sair agora para o mercado. São vinhos que vão fazer o grosso do verão. Vamos também lançar um Touriga Nacional e um Tinta Roriz. Mais do que monocastas, são monoparcelares. São provenientes de duas pequenas parcelas dessas duas castas que temos na quinta. São dois vinhos de 2019. Depois, haveremos de lançar mais vinhos em setembro, as novas colheitas dos nossos reservas", anuncia ainda.
Metade da produção da Quinta do Monte d'Oiro é escoada em território nacional. O resto é vendido para fora. "Atualmente, exportamos cerca de 50% dos vinhos que fazemos mas estamos presentes em mercados muito diferentes", refere Francisco Bento dos Santos. "Estamos na China, que é um mercado gigantesco. Depois, temos países como a Suíça, um país pequeno que compra vinhos de grande qualidade e que os compra em quantidade", esclarece.
"Temos mercados que não seriam prioritários estrategicamente porque nos apareceu alguém de lá com quem se criou uma relação e que trabalha bem os nossos vinhos e há outros em que era fundamental estar mas não conseguimos encontrar o parceiro certo ou deixámos de trabalhar com os que tínhamos", sublinha. Além da produção e comercialização de vinho, esta quinta também organiza visitas, provas, programas de enoturismo e refeições gastronómicas.
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