A morte do nosso melhor amigo de duas ou quatro patas pode ser uma verdadeira experiência traumática. Este processo de luto pode ser emocionalmente mais violento do que a morte de um ser humano, com o qual não tínhamos a mesma conexão, intimidade emocional, aceitação incondicional e colo constante.

Após a experiência de amar e ser amado por um animal de companhia e, tendo em conta os benefícios para a saúde física e mental de adotar um melhor amigo, as famílias tendem a ponderar uma nova adoção.

Os estudos apontam que, para algumas pessoas, é importante um certo tempo e espaço emocional para considerar ter outro animal, pela sensação de que estariam a trair o animal perdido; outras recusam-se a pensar na ideia da adoção pelo medo de vivenciar, novamente, a experiência avassaladora da perda. 

No entanto, a maioria das famílias, apesar de os tutores sentirem que cada animal é único e insubstituível, descreve sentir que são incapazes de viver sem o amor inerente a esta relação (“perder o Hulk foi a pior experiência da minha vida, mas os anos em que ele esteve ao meu lado foram os mais felizes. Não consigo imaginar um futuro sem um patudo à minha espera. Depois de sermos amados por um animal, nunca mais somos os mesmos”).

As investigações apontam que, quando existe disponibilidade emocional para uma nova adoção, o novo animal de companhia tende a ser uma fonte de suporte emocional e ajuda o tutor, ao dar-lhe colo emocional, assim como auxiliar a gerir a tristeza, o vazio e a zanga provocados pelo processo de luto, facilitando a aceitação e integração da perda na identidade.

Neste sentido, é importante que a pessoa e/ou a família reflitam sobre o porquê da adoção: é uma tentativa de substituir o animal perdido? Quais são as expectativas em relação ao animal? Estarei preparado para viver com um animal com um comportamento e personalidade diferente ou estarei “à procura” do animal perdido? Será que já disponho de energia mental para as brincadeiras e também para impor regras e limites? Como me sinto no contacto com outros animais?

Inclusive, aquando de uma perda, algumas pessoas sentem um distanciamento emocional em relação aos outros animais com os quais partilham a sua vida. A título de exemplo: um casal, cada um deles com um animal de companhia, que tomam a decisão de residir os quatro na mesma casa, como uma família. Para a pessoa que perde o seu animal, com o qual já tinha partilhado uma vida a dois, pode ter dificuldades em interagir com o animal que ainda habita na casa.

Algumas pessoas sentem-se incapazes de cumprir com os passeios higiénicos, por faltar um animal de companhia. Naturalmente que estas situações levam a sentimentos de culpa, pois o tutor tende a sentir que está a ser negligente com o bem-estar do animal que ainda se encontra ao seu lado. Estas reações tendem a ser normativas durante os primeiros meses de luto, particularmente os primeiros seis - uma referência temporal que pode ser importante para o reconhecimento da necessidade de recorrer a ajuda psicológica.

Se for importante para a pessoa e/ou família em luto ter um animal da mesma raça, pode ser benéfico que o animal seja de um sexo diferente e que o nome atribuído não seja o mesmo (ainda que, em termos culturais, fosse frequente, no passado, colocar o mesmo nome como forma de homenagear o animal perdido, mas pode levar a sentimentos de confusão emocional e a comparações causadores de sofrimento para o tutor e para o animal).

É igualmente imperativo recordar as famílias para não fazerem surpresas: pais, por favor, não surpreendam o vosso filho com um animal, ele pode não estar preparado para amar o novo animal e vai-se sentir culpado por isso. Cada um dos membros da família vive um processo de luto único e, por isso, a tomada de decisão deve ser ponderada e discutida no seio familiar.

A adoção de um animal de companhia, mais do que um ato de amor, é um ato de responsabilidade e compromisso. Neste sentido, tendo em conta que cada relação e processo de luto são únicos, pode ser importante recorrer a ajuda psicológica aquando desta importante tomada de decisão. Peça ajuda! Não se encontra sozinho(a).

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.