“Porque não, da próxima vez que houver uma pandemia, em vez de ser a União Europeia a comprar vacinas, a UE e a União Africana (UA) comprarem em conjunto”, questionou o antigo presidente da Comissão Europeia, durante a sua intervenção no Fórum Eurafrica, que termina hoje em Carcavelos, nos arredores de Lisboa.

“A questão que deixo aqui é: e se a Europa e África juntassem esforços e trabalho, com autonomia total? Não sugiro fazer tudo em conjunto, mas em convergência, são 50 países na Europa e 54 em África, a realidade é que Europa e África podem mostrar convergência e fazer propostas em conjunto” em várias organizações internacionais, defendeu Durão Barroso.

Na intervenção, que passou em revista os principais desenvolvimento geoestratégicos e geopolíticos, entre os quais destacou “o ambiente de guerra fria entre os Estados Unidos e a China, o desenvolvimento mais importante dos últimos 30 anos”, Durão Barroso defendeu que os cidadãos têm de sentir esta diferença de enquadramento nas relações entre os dois continentes.

“O problema é que há boas intenções, há uma lista de coisas boas, e documentos muito bonitos, mas depois as pessoas não veem as coisas em concreto, precisamos de exemplos fortes de cooperação, e o gás pode ser outro aspeto desta cooperação”, disse o antigo primeiro-ministro português, depois de defender a compra em conjunto de vacinas para os países dos dois continentes.

“Espanha e Portugal não importam gás da Rússia, mas a Itália importa, e conseguiu reduzir a sua dependência energética de 40% para 2%, comprando aos países do norte de África”, afirmou, salientando que “são exemplos concretos de como se consegue atingir um interesse comum através da integração económica, que foi o ponto de partida da União Europeia”.

Senão, alertou, haverá “um cenário de guerra fria, com a UE e os EUA de um lado, e a Rússia e a China de outro, a tentarem comprar apoio individualmente aos países africanos”.

Para Durão Barroso, isto criaria, concluiu, uma situação que “não seria boa para África, que terá de escolher entre ficar numa posição de recetora de propostas, ou escolher juntar-se como bloco liderado pela UA e colocar-se, de forma inteligente, a ser ela própria a fazer as propostas”.