"A grande mensagem é que identificamos um novo mecanismo, um novo fator causal da doença e, para além disso, não só conseguimos identificá-lo, como transformá-lo numa ferramenta com utilidade clínica, porque a sua deteção permite estratificar e dar um prognóstico ao doente", afirmou a investigadora Salomé Pinho, líder do grupo 'Immunology, Cancer & GlycoMedicine' do i3S.
Num artigo publicado na revista científica 'Gastroenterology', que, disse a investigadora, compila evidências científicas de quase uma década, o estudo mostra a "importância dos açúcares que revestem e modificam as proteínas das células no diagnóstico e prognóstico" da doença inflamatória intestinal.
A Doença Inflamatória Intestinal (Colite Ulcerosa e Doença de Crohn) é uma doença crónica do trato gastrointestinal que afeta sobretudo indivíduos jovens em idade ativa, entre os 15 e 30 anos. Em Portugal, estima-se que cerca de 15 a 20 mil indivíduos sofram desta doença, cuja prevalência "tem vindo a aumentar" na Europa.
Apesar de ainda “não se saber verdadeiramente qual a causa" da doença, a descoberta deste "novo mecanismo causal" surge como "uma janela de oportunidade" na intervenção terapêutica, uma vez que nos doentes com o diagnóstico inicial, este poderá "evitar e prevenir o avanço" da patologia.
"Verificámos que os açúcares que revestem/modificam as proteínas das células tinham falhas de expressão nestes doentes e que essa deficiência promovia uma resposta inflamatória mais exacerbada e exuberante. Tudo isto abriu a possibilidade de identificarmos um novo biomarcador nestes doentes e desenvolver métodos e estratégias terapêuticas anti-inflamatórias", explicou.
À Lusa, Salomé Pinho adiantou que, tendo em conta as evidências reunidas, o objetivo passa agora por "atuar cedo no decurso da doença, no diagnóstico precoce e prevenir o seu desenvolvimento para uma fase mais severa e complicada".
"Os testes em laboratório estão concluídos, publicados e validados. As evidências científicas de que estes açúcares têm um papel anti-inflamatório estão demonstradas. O passo agora é o ensaio clínico, para perceber de que forma é que o tratamento destes doentes com estes açúcares é benéfico", concluiu.
No artigo, que resultou de um convite da revista científica à investigadora portuguesa, participaram também membros da equipa do 'Immunology, Cancer & GlycoMedicine' do i3S, do Hospital Universitário de Ghent (Bélgica), da Universidade Católica de Lovaina (Bélgica), da Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai (Nova Iorque) e do VIB Medical Biotechnology Center (Bélgica).
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