Uma equipa de investigadores da Universidade de Cardiff, no País de Gales, descobriu um novo tipo de célula T, que poderá combater e destruir a grande maioria dos cancros. O estudo científico que os especialistas desenvolveram nos últimos 24 meses, publicado na revista científica Nature Immunology, ainda está numa fase relativamente inicial. No entanto, já é encarado por muitos profissionais do setor como uma esperança para encontrar uma terapia universal para o combate ao cancro num futuro a médio prazo.
Curiosamente, esta foi "uma descoberta acidental", como revelou o responsável pela investigação, Andrew Sewell, professor universitário e investigador especializado em imunidade e infecciologia à estação de televisão britânica BBC, já que ninguém da sua equipa sabia da existência destas células mas, ao comprovarem-se os seus benefícios, "têm muito potencial", acredita o cientista. O nosso sistema imunológico defende o nosso organismo contra ameaças desconhecidas como é o caso dos vírus e das bactérias.
A célula T encontrada na pesquisa levada a cabo tem a particularidade de identificar e destruir uma grande diversidade de células cancerosas, sem atacar as saudáveis. As novas células têm uma espécie de recetor que consegue sinalizar o metabolismo que ocorre numa célula cancerosa. Esta não é, no entanto, a primeira vez que se fala de imunoterapia com as células T para tratar casos de cancro mas, até agora, só tinha sido usada para alguns tipos específicos da doença. Neste caso, nos testes feitos em laboratório, foi possível encontrar e matar células cancerosas nos pulmões, na pele, no sangue, no cólon, na mama, nos ossos e na próstata.
Os cientistas também as conseguiram remover com êxito dos ovários, dos rins e do colo do útero. O tratamento com esta nova célula será semelhante ao que já é feito na terapia CART-T, consistindo na recolha de uma amostra de sangue do doente para extrair as células T, que serão, depois, geneticamente modificadas e reprogramadas para produzir o recetor que encontra o cancro. Essas células serão, de seguida, cultivadas em largas quantidades em laboratório e reinseridas, depois, no organismo do paciente oncológico.
"Esperamos que esta nova célula ofereça um caminho diferente para detetar e destruir um amplo grupo de cancros em todos os indivíduos", refere Andrew Sewell. Nos últimos meses, a equipa tem tentado perceber se essas células são comuns no organismo humano. Depois disso, o próximo passo é começar os testes em humanos. A previsão inicial era arrancá-los ainda em 2020, mas a pandemia viral de COVID-19 atrasou o processo. Apesar das restrições, noutras zonas da Europa, têm-se registado progressos.
Em Berlim, a startup alemã T-knife está a desenvolver novas terapêuticas com células T. Os resultados das experiências laboratoriais com ratos são promissores. "O sistema imunitário deles não tolera antígenos de tumores humanos, encara-os como um vírus ou um patogénio. Podemos, assim, gerar uma resposta imunitária forte nos animais quando os imunizarmos com eles", explica Elisa Kieback, diretora-executiva da companhia, que está a desenvolver um tratamento para o mieloma que pretende testar ainda em 2021.
A norueguesa Zelluna Immunotherapy, que conseguiu um financiamento de 7,5 milhões de euros em junho do ano passado, é outra das empresas tecnológicas que têm vindo a conseguir avanços científicos nesta área. A companhia holandesa Gadeta, também ela uma startup, está a trabalhar com a norte-americana Kite Pharma no desenvolvimento de uma inovadora terapêutica contra o mieloma múltiplo, um cancro com origem nos plasmócitos da medula óssea. A fase de testes está a ser preparada há já vários meses.
A britânica TC BioPharm e a alemã Medigene, à semelhança da Enara Bio, a empresa que estabeleceu uma parceria com a Universidade de Cardiff e que está a trabalhar com Andrew Sewell, também estão confiantes com o que têm atualmente em mãos. "O desafio maior é perceber como é que os tumores escapam às imunoterapias para conseguir ultrapassar esta dificuldade nos diferentes tipos de tumores. Mas acho que vamos conseguir tratar todos os cancros nos próximos 25 anos", admite Elisa Kieback.
Comentários