Muito se tem falado de saúde mental e de autocuidado. No entanto, muito nunca é demais porque estas questões, centrais para o nosso bem-estar, são facilmente esquecidas no bulício da atarefada rotina diária.

O conceito de autocuidado foi trazido à luz da ribalta quando começamos todos a necessitar de estratégias para lidar com mudanças profundas que ocorreram nas nossas vidas, a propósito da pandemia. No entanto, há muito que este conceito vinha a ganhar importância, sobretudo associado a profissões ou situações em que o desgaste emocional e a sobrecarga psicológica tinham um papel importante no bem-estar e funcionalidade da pessoa. O autocuidado permite que sejamos mais resilientes nestes desafios, através de estratégias que nos permitem reequilibrar as nossas necessidades emocionais, gerindo a relação dor-prazer, tensão-tranquilidade ou conforto-desconforto, entre algumas outras formulações mais específicas.

Apesar de parecer uma prática complexa, demorada e abstrata, na verdade, o autocuidado, na maior parte das vezes, consiste em voltarmos a pensar no simples, na base das nossas necessidades. Mesmo que quando imaginamos alguém numa prática de autocuidado, nos surja sempre uma imagem de alguém a meditar, num ritual treinado e complexo, o autocuidado começa em pressupostos bem mais simples – ainda que nem sempre fáceis de perceber. Deixo alguns exemplos de questões que nos podem guiar na procura deste autocuidado:

  • Como sinto o meu corpo? Estou confortável? Como posso ficar mais confortável?
  • Tenho fome? Tenho sono? Como posso organizar-me para responder a estas necessidades?
  • De que mais preciso neste momento: silêncio ou interação?
  • Estou confortável no ambiente que me rodeia ou preciso de recarregar energia noutro contexto?
  • Vejo-me a praticar alguma atividade, sistematicamente, em função do meu bem-estar?
  • Se tivesse tempo e energia, como ocuparia o meu tempo de lazer?

Conhecer melhor as nossas necessidades psicológicas e ouvir o nosso corpo ajuda a que mais facilmente consigamos encontrar as estratégias de autocuidado mais adequadas a cada um de nós. E, na maior parte das vezes, não adiantará forçar a estratégia de autocuidado que outra pessoa utiliza: necessidades diferentes, circunstâncias diferentes e pessoas diferentes conduzem inevitavelmente a estratégias diferentes.

Nós não somos recursos inesgotáveis, ainda que muitas vezes isso nos seja exigido e que vivamos as nossas vidas como se assim fosse. Cuide de si para viver mais e melhor, com menos consequências negativas do impacto exigente que a vida nos traz.

Catarina Janeiro - Psicóloga clínica