Como posso ter mais dinheiro? Como mudar de vida? Como ganhar mais? Estas são perguntas que, não raro, nos colocamos. Regra geral, não saímos da formulação da pergunta. Falta-nos um ponto de partida para tornar o desejo de progredir numa realidade. As nossas vidas entram na chamada “corrida do rato”, ou seja, trabalhamos para pagar contas, sem tirar outro proveito das benesses que o dinheiro nos pode trazer.
Ariana Nunes, educadora financeira, é autora do livro “Multiplique o seu dinheiro” (edição Marcador), manual com dicas de educação financeira, ensinamentos dos especialistas e histórias que nos revelam como seguir o caminho que concretiza os nossos objetivos.
Na vida de Ariana também entraram realidades como o desemprego. Momento de superação e de oportunidades para a fundadora do canal de literacia financeira “Renda Maior”.
À conversa com a autora percebemos como também nos pode ser aberta a porta da liberdade financeira, como se comporta um "cérebro milionário" e como há sentido na expressão “dinheiro parado é dinheiro morto”.
À frase tantas vezes repetida, “o dinheiro não traz a felicidade” responde-nos Ariana: “com o dinheiro, poderá ter mais tempo para fazer o que gosta, junto de quem gosta. O dinheiro dá-nos a capacidade de termos o poder de escolha”. Contudo, há que saber geri-lo bem.
Ariana, antes de nos debruçarmos nalgumas questões que leva para o seu livro, gostaria que, sucintamente, nos descrevesse o seu percurso. Em que momento se tornou uma investidora?
Tive um percurso comum, estudei até aos 21 anos, tirei a licenciatura de Geografia e Planeamento na Universidade do Minho e quando acabei, deparei-me com o início de uma crise financeira que já tinha começado nos Estados Unidos. Ainda ingressei no Mestrado de Sistemas de Informação Geográfica mas, rapidamente, percebi que queria trabalhar e que estava apenas a adiar a minha entrada no mercado de trabalho. Foi quando tomei a decisão de ir para o Porto, trabalhar no que havia, tendo começado a trabalhar na área de apoio ao cliente de faturação de uma grande empresa de telecomunicações.
Durante esses anos, apercebi-me da como era a gestão financeira dos portugueses e como faziam para cumprir ou não com as suas obrigações, ouvindo várias histórias difíceis e outras, apenas desculpas que levavam aos incumprimentos e dívidas. Posteriormente, trabalhei em áreas muito complementares nas outras empresas, que me deram muito conhecimento de psicologia financeira como a área do contencioso, dos cartões de crédito e por fim, trabalhando num banco de crédito.
Há um momento em que faz de um desaire um ponto de viragem na sua vida…
Quando passei pelo desemprego decidi procurar soluções financeiras diferentes. Aprendi com a leitura de livros de investimento e de educação financeira. Foi quando comecei a lidar com o dinheiro de uma maneira diferente, poupando e investindo uma percentagem dos meus rendimentos, tendo uma boa organização e propósito. Tudo começou a mudar a partir daí, tendo cada vez mais dinheiro que, por sua vez, gerava mais ainda mais dinheiro, conseguindo com isso, alcançar uma boa segurança financeira. Por isso, criei o projeto Renda Maior no Youtube, para ir falando sobre estes temas tão importantes e que tanto impacto têm na nossa vida.
A Ariana consegue identificar as razões para tantas vezes chegarmos a adultos sem literacia financeira?
Na minha opinião isso acontece porque os assuntos e temas ligados à educação financeira, como as finanças pessoais e os investimentos têm pouca atenção no nosso país e ainda são pouco difundidos, principalmente nas escolas. Não podemos encontrar culpa nas gerações anteriores, pois não tinham acesso à informação como temos atualmente.
No seu livro refere-se ao “cérebro milionário”. Como o descreve?
Alguém que pode ter pouco dinheiro na conta, mas pensa como um bom gestor, tomando as melhores decisões financeiras na sua vida.
Quando passei pelo desemprego decidi procurar soluções financeiras diferentes. Aprendi com a leitura de livros de investimento e de educação financeira.
O “cérebro milionário” rejeita afirmações como “o dinheiro não traz felicidade”?
Sim, vai rejeitar a ideia, porque sabe que o dinheiro é um meio e não um fim e que a felicidade é algo que envolve vários tópicos. Com o dinheiro, poderá ter mais tempo para fazer o que gosta, junto de quem gosta. O dinheiro dá-nos a capacidade de termos o poder de escolha.
Para sermos bons investidores temos de ser bons poupadores?
Por norma, está diretamente ligado. As pessoas organizadas, que dominam as emoções, vão conseguir dessa forma, ter melhores desempenhos como investidores.
Um pequeno poupador pode tornar-se num grande investidor?
Com disciplina e vontade, poderá ser um bom investidor. Ser um grande investidor envolve, na minha ótica, ter outro tipo de rendimentos mais elevados ou até mesmo uma posição profissional como gestor financeiro numa instituição financeira. Um exemplo de um grande investidor para mim é o americano Warren Buffett.
“Dinheiro parado é dinheiro morto”. Concorda com a afirmação?
Sim, por causa da inflação. Dessa forma, vamos estar a perder o nosso poder de compra ao longo do tempo.
O que é a “corrida dos ratos”? De que modo é um entrave à nossa superação?
A “corrida dos ratos” é uma expressão criada por Robert Kiyosaki no seu livro “Pai Rico, Pai Pobre”, que retrata a vida financeira de muitas pessoas que vão ganhando salários maiores ao longo dos tempos e com isso, aumentam também o seu estilo de vida e as suas despesas. Significa, de uma forma resumida, quanto mais ganham, mais gastam sem nunca conseguirem sair desse cenário, independentemente se ganham muito ou pouco, pois trabalham para no fim para pagar contas.
Imaginemos que o leitor se encontra neste ciclo. A renda mensal é baixa, cobre as despesas, mas a custo, tem um ou dois créditos. Há como quebrar este ciclo e tornar esta pessoa numa investidora?
Sim, falo disso no meu livro, pois existem estratégias que com sacrifício e foco, fazem com que se saia desse cenário. Por exemplo, procurar uma renda-extra ou um trabalho nas folgas - durante um período de tempo -, começar a poupar no que se puder para criar uma reserva de emergência financeira, pagando depois as dívidas - com amortizações extra - e quando se livrar das dívidas pequenas, possa então começar a ter condições para investir.
Devemos procurar conhecimento em primeiro lugar, conhecimento esse que vai desde as bases financeiras até aos produtos atuais que estão no mercado.
Muito dinheiro pode ser um dissabor quando não o sabemos gerir. Que perguntas devemos fazer quando queremos investir?
Devemos procurar conhecimento em primeiro lugar, conhecimento esse que vai desde as bases financeiras até aos produtos atuais que estão no mercado. Perceber quais são as melhores estratégias para o nosso perfil de investidor e que estejam de acordo com os nossos rendimentos e objetivos.
No seguimento da pergunta anterior, que respostas tem a Ariana para essas questões?
As respostas vão diferir de pessoa para pessoa, pois esta jornada é pessoal. Em alternativa, quem não consegue ou não quer procurar essas respostas por si, pode sempre contratar os serviços de profissionais financeiros qualificados, fazendo diretamente a subscrição de produtos que tenham gestores de patrimónios, tais como os fundos de investimento.
O crédito é uma ferramenta que nos permite alcançar bens materiais antes inalcançáveis. Mas, será que estamos perante uma ferramenta perigosa a ganharmos autonomia financeira?
Existem dívidas boas, como a do crédito à habitação, pois através dessa forma alavancada, conseguimos comprar imóveis que custam muito dinheiro e, depois, existem as dívidas más, tais como os créditos para consumo que não nos trazem nenhum retorno (sem ser o emocional). Por isso, há que perceber como se podem usar os créditos para gerar mais dinheiro e não para se ter mais despesas extra. Como tudo, existem pessoas que conseguem perceber isso e outras que não, daí a importância da literacia financeira em Portugal.
Para sermos bem-sucedidos financeiramente temos de saber “destralhar”?
No meu caso, ajudou. Com a venda de bens e artigos que não usava, consegui fomentar a minha reserva de emergência. É uma forma de nos livrarmos das “tralhas” que não usamos, convertendo-se assim em dinheiro e que em muitas situações é bastante mais útil.
Não parece um contrassenso “destralharmos” quando, na realidade, associamos o sucesso aos bens materiais? Ou a mensagem que a Ariana leva para o seu livro é outra?
No meu livro explico que o sucesso não é medido pelo que temos e sim, pelo impacto que criamos à nossa volta. O sucesso não é o carro, a mansão ou a conta bancária recheada, isso é apenas a ostentação e que para mim, deve ser algo a ser ignorado.
O Santo Graal do investidor é quando alcança a independência financeira? Do que se trata esta independência?
Ao alcançarmos um certo patamar financeiro, que muda de pessoa para pessoa, através dos investimentos, vamos ter um maior “poder de escolha”. Vamos conseguir escolher o que queremos fazer, onde queremos trabalhar e até em certas situações, podemos dizer “não” se nos apetecer. Haverá uma maior qualidade de vida, que não está disponível para a maior parte da população, e isso, tem o nome de independência financeira. No meu livro falo de como se pode alcançar a liberdade financeira na realidade portuguesa, porém o mais importante (e que já cria uma mudança estrutural nas nossas vidas) é conseguir, pelo menos, a segurança financeira, que é algo que já nos coloca muito à frente financeiramente da maioria das pessoas em Portugal.
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