é fácil ser feliz, difícil é sermos fáceis
Cristina Nogueira Fonseca, esta sexta-feira, falou sobre felicidade no Book 2.0. É possível sermos verdadeiramente felizes?
A tragédia que seria não ser possível. É. Para uns é mais fácil que para outros, até porque a ciência nos alerta para questões directamente ligadas com vulnerabilidades familiares (depressões por exemplo), mas também nos fala sobre comportamentos que estão correlacionados com a promoção de uma sensação de plenitude, bem-estar e satisfação com a vida, tais como rir, fazer desporto, fomentar relações baseadas no apoio e confiança.
Sem ser simplista, eu diria que é fácil ser feliz, difícil é sermos fáceis. Tendemos a desvalorizar os conselhos básicos, fazer desporto, estar com pessoas que amamos, ler, dedicarmo-nos a hobbies, desvalorizamos por “não termos tempo” e precisamos de encontrar soluções mais imediatas. Para sermos verdadeiramente felizes temos de estar dispostos a ter tempo para isso.
Porque não chamamos de felicidade a todos os estados contrários àqueles em que nos sentimos infelizes?
E como é que sabemos se somos mesmo felizes? Podemos ser felizes sem o perceber?
Costumo dizer que mesmo quando estou miseravelmente infeliz, sou uma pessoa feliz. Porque não chamamos de felicidade a todos os estados contrários àqueles em que nos sentimos infelizes? Se a felicidade é o contrário da infelicidade então quando eu não estou infeliz, posso dizer que estou feliz?
O que define cada um de nós como felicidade? Um estado de êxtase e alegria? Um alinhamento perfeito entre tudo o que gostaríamos de ter e o que temos? A felicidade é uma reação neuro química, que se edifica em cima das nossas crenças, se eu acreditar que para ser feliz tenho de atingir certos objetivos, não me considerarei feliz até lá chegar, por outro lado, se eu acreditar que para ser feliz me basta ser autossuficiente, ou me basta abrir os olhos a cada manhã e sentir que tenho saúde, então, posso ser mais feliz todos os dias.
O José Luís Peixoto tem uma frase que fala sobre a sorte grande que é estarmos despertos para a nossa felicidade. É isso que temos de fazer mais.
É possível aprendermos a ser mais felizes? Sim
E qual é o papel de uma happyologist numa comunidade ou sociedade? O que é que faz no dia a dia e quem pode recorrer aos seus serviços?
Eu pego na ciência e tento trazê-la para a vida diária dos meus clientes. Numa altura em que vivemos de clichés e gurus de autoajuda, procuro que a minha voz seja informada e consciente, sem achismos e com evidências.
Nessa missão trabalho com empresas, escolas e autarquias e desenhamos em comunidade projetos e planos estratégicos que têm como foco melhorar a qualidade de vida das pessoas através da implementação de medidas, políticas e construção de culturas positivas e saudáveis e também através do fortalecimento de competências individuais para a felicidade e para o bem-estar. É possível aprendermos a ser mais felizes? Sim. Tal como quando queremos aprender a tocar piano, requer treino, requer prática.
a morte do meu avô ajudou-me a encontrar o meu propósito de vida
Como é que chegou a esta profissão ainda tão pouco falada?
Quando o meu avô faleceu, a minha avó entrou numa depressão profunda, um ciclo de tristeza compreensível e expectável, a medicação fazia o seu efeito, (os antidepressivos não são comprimidos da felicidade) mas não era suficiente. Queria ajudar a minha avó, queria que ela voltasse a ser feliz, e comecei a estudar os temas da neurociência, do bem-estar, da felicidade e da psicologia, como vinha de uma licenciatura em sociologia, a área da psicologia positiva parecia-me um salto óbvio e assim foi, tornou-se a minha segunda paixão.
Ao procurar melhorar a vida da minha avó, melhorei em muito a minha também, costumo dizer que a morte do meu avô ajudou-me a encontrar o meu propósito de vida.
o relatório da saúde mental dos portugueses apresenta-nos uma urgência de ação
A Cristina fundou a empresa Happytown, que é a primeira consultora portuguesa especializada em Felicidade Corporativa e Pública. Como é que tem corrido o projeto? Há muita procura ou ainda se desvaloriza a felicidade quer nas empresas como nas comunidades?
Começámos em 2016, altura em que este assunto ainda era muito pouco respeitado ou tido como válido dentro das organizações. Continuamos ainda hoje a ter o desafio de esclarecer alguns decisores para a seriedade destes temas que vão para além das festas e dos espaços de trabalho cool, que a felicidade nas empresas tem de assentar numa cultura de respeito onde a empatia tem de ser o compasso. Não existem empresas felizes, isso é marketing, estratégia para atrair talento, para valorizar marca, existem sim pessoas felizes, motivadas, interessadas e alinhadas com a missão da empresa e os gestores têm o poder de elevar as suas pessoas ou o poder de as destruir. As organizações são organismos vivos, que têm o potencial de edificar ou destruir o bem-estar dos seus colaboradores. É isto que continuamos a trabalhar com os nossos clientes, mais especificamente com as suas lideranças, sentimos o mercado mais desperto, mas também com uma maior necessidade que em 2016, o relatório da saúde mental dos portugueses apresenta-nos uma urgência de ação. Já não se trata do que as empresas ganham em investir nestes temas, mas sim do que vão perder se não o fizerem.
A nossa felicidade depende só de nós
Tendo em conta a importância da felicidade corporativa e da pública, podemos concluir que a nossa felicidade não depende só de nós?
A nossa felicidade depende só de nós, mas o nosso contexto influencia bastante, mas também depende de nós escolher o contexto, ficar ou sair, portanto, eu diria que depende sempre de nós. O que para muitos pode ser assustador e para outros libertador. Para mim seria trágico se não dependesse de mim, quero essa responsabilidade.
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