Por mais que nos digam que as emoções negativas são uma parte essencial do ser humano, quando nos toca a nós senti-las, as coisas mudam de figura. Mas, e se lhe dissesse que a felicidade inclui sentir várias emoções negativas para que consiga ter uma existência plena?
Temos a ideia generalizada de que estar feliz significa não sentir nenhuma emoção negativa. A acrescentar a isto, muitos livros de autoajuda e muitos coaches (sem formação em psicologia) sugerem que sempre que algo negativo esteja a ser sentido ou pensado, devemos simplesmente substituir por pura positividade, pois “pensamentos positivos atraem coisas positivas” e “é muito fácil mudar o que estamos a sentir, basta querer”. Não, não é. Sobretudo, porque a educação emocional da maioria das pessoas é pobre.
Em primeiro lugar, importa salientar que a nossa condição humana pressupõe a experiência de todo o espectro de emoções. Para viver uma vida plena, precisamos de vivenciar todas as emoções, por mais difícil que isso possa parecer num determinado momento. Sem o mau, o bom não seria tão bom quanto parece, porque não seria possível sequer distinguir o que é realmente bom do que é assim-assim. Sentir todos os tipos de emoções mostra que estamos vivos e que nos importamos com o que está a acontecer connosco, na nossa vida, e à nossa volta. As emoções são uma espécie de bússola, fornecendo orientação quando algo está a acontecer e requer a nossa atenção.
Além disso, quanto mais tentamos suprimir ou negar as emoções negativas que sentimos, mais intensas e constantes elas se tornam – como uma dor miudinha e persistente que se intensifica, se não fizermos nada. Quanto mais lhes resistimos, mais elas vão reclamar a nossa atenção, contaminando a nossa mente e o nosso corpo, através de pensamentos ruminativos (i.e., repetitivos) e sintomas físicos.
Importa salientar a importância das emoções no nosso dia a dia: todas as emoções ajudam-nos a sobreviver e a prosperar. Enquanto as emoções positivas nos fazem sentir bem e sinalizam quando as coisas estão bem, as emoções negativas fazem-nos sentir desconfortáveis, e surgem para nos alertar que algo está errado e que necessita da nossa atenção e ação.
Eis algumas dicas de como evitar ser dominado(a) pelas emoções negativas e como tirar o máximo proveito delas:
1. Ao perceber uma emoção negativa, tome consciência dela. Não lute, não resista, não a negue. Observe-a sem julgamento. Veja-a de uma perspetiva racional. Simplesmente perceba o que é: uma emoção desagradável que lhe está a gerar uma resposta fisiológica – note o que está a acontecer no seu corpo.
2. Dê um rótulo à emoção negativa que sente. Ao dar um nome (tristeza, raiva, frustração, culpa), sabe com o que está a lidar. No entanto, muitas pessoas sentem dificuldades em nomear o que estão a sentir, sendo útil procurar ajuda profissional. Quando nomeamos bem as emoções e descobrimos o que estamos a sentir, conseguimos fazer um trabalho de mudança estruturado.
3. Diga “eu sinto-me frustrado(a)” em vez de “eu sou frustrado(a)”. O que estamos a sentir não nos define enquanto pessoas e ao fazer esta distinção, estamos a criar uma separação entre nós e a emoção negativa. A grande diferença é que estamos a reforçar mentalmente que a emoção que estamos a vivenciar é passageira e não uma parte permanente da nossa identidade.
4. Pergunte o que é que o(a) está a deixar assim. Lembre-se do que lhe disse acima: as emoções sinalizam algo que requerem a nossa atenção e ação. Explorar a razão por trás da emoção negativa torna mais fácil a sua gestão. Isso pode não ser possível no momento se parecer muito avassalador, mas deve ser feito. Se tiver dificuldades, não hesite em procurar ajuda.
5. Lembre-se de que a felicidade não é a ausência de emoções negativas, mas a sua capacidade de lidar com elas. Ser capaz de reconhecê-las é o primeiro passo para lidar com elas. Depois, a ação para a sua resolução, trará a paz que deseja. As emoções são as suas aliadas. Em vez de fugir delas, perceba o que lhe estão a dizer.
6. Procure ajuda profissional sempre que experiencia emoções intensas e que não consegue resolver sozinho(a). Não procure uma fórmula mágica em livros de autoajuda porque nenhum atende às suas necessidades especificas e a generalização de “protocolos” aumenta mais a experiência de emoções negativas. As suas idiossincrasias importam. Não está sozinho(a) nesta jornada.
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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