"Não me devo sentir deprimido porque não sou um profissional da linha da frente". “Não tenho o direito a queixar-me”. “Tenho que ser produtivo”. “Devo apenas sentir-me grato por me pedirem para ficar em casa".
A positividade tóxica é o incentivo extremo a uma mentalidade exclusivamente positiva, algo que parece estar disseminado na cultura Instagram. Nas redes sociais, somos atingidos por várias citações motivacionais que nos dizem para "persistir" ou "continuar a sorrir". Também nos pedem para escolher se queremos ser felizes ou deprimidos. Este tipo de declarações reforçam o estigma da doença mental e do sofrimento psicológico.
É claro que a positividade é algo bom para se ter na vida, mas devemos reconhecer que não se trata de ser feliz 24 horas por dia, 7 dias por semana. É impossível. No mundo de hoje existe uma espécie de aversão a emoções negativas. Esquecemos que todos os sentimentos são válidos e nos tornam inteiros, vivos, reais e, no fundo, humanos. Ajudam-nos a construir relações honestas com os outros, dão-nos a oportunidade de conhecer pessoas ou de ter oportunidades que não teríamos se permanecêssemos positivos todo o tempo.
Que abordagens devemos evitar?
- Minimizar experiências das pessoas afirmando que "está tudo na cabeça delas".
- Comparar as experiências de alguém, em vez de as validar.
- Envergonhar outros por expressarem emoções negativas (raiva, frustração ou tristeza).
- Ensinar as crianças (especialmente rapazes) que não se deve chorar.
A positividade tóxica pode ter um impacto psicológico negativo em pessoas, incluindo o facto de não serem autênticas, de não processarem inteiramente os sentimentos e de evitarem a validação das experiências emocionais, sendo envergonhados ou castigados por terem pensamentos negativos.
É, assim, importante falar-se em validação, isto é, quando reconhece e identifica as experiências de uma pessoa (ou as suas próprias) como compreensíveis e aceitáveis. Isso não significa necessariamente concordar com a experiência ou sentimento, mas apenas reconhecer que esta pode ser a verdade da pessoa, por enquanto. A validação é também ver a pessoa e aceitá-la como ela é. É bom quando alguém nos reconhece e diz "Vejo que se sente impotente", "Parece que está a ter um dia difícil" ou "O que está a sentir é normal". Estes são exemplos de declarações de validação. Por sua vez, a empatia surge quando se compreende e se partilha o mesmo sentimento com a outra pessoa.
Em vez disto… | Ofereça o seguinte… |
Pensa positivo! | Compreendo que neste momento seja difícil sentirmo-nos felizes. Estou aqui para ti! |
Não sejas negativo! | É normal sentirmo-nos negativos de vez em quando. O que posso fazer hoje que ajude? |
Não te preocupes com isso! | Isto deve ser extremamente difícil para ti. O que precisas neste momento? |
Nunca desistas! | Parece-me que estás a sentir-te em baixo. Vamos perceber o que está a correr mal e fazer algumas mudanças. |
Eu não deixaria que isso me incomodasse. | Compreendo como te sentes. Não há problema em reconheceres os teus sentimentos e aceitá-los. O que gostarias de fazer neste momento? |
Todos nós temos dias e momentos em que simplesmente não conseguimos ser positivos. Esses dias e esses momentos não só são aceitáveis, como fazem parte da vida e, em particular, de uma época pandémica recente.
Seja gentil, nunca se sabe o que os outros estão a passar.
- Amigos e familiares não se podem reunir pessoalmente para funerais, velórios e outras formas de lidar tipicamente com a perda.
- Outros são pressionados pelas suas situações pessoais.
- Há pessoas que estão presas em países onde não vivem.
- Nem todos têm grande acesso à Internet em casa.
- Algumas pessoas estão a viver relações tóxicas e violentas de anos.
- Algumas pessoas não lidam bem com as mudanças.
Pergunte sobre o bem-estar dos outros, de preferência com cuidado, e esteja preparado para ajudar. Mas não o faça de uma forma toxicamente positiva. A autenticidade nas relações vai levá-lo muito mais longe.
As explicações são dos psicólogos Mauro Paulino e Rodrigo Dumas-Diniz da MIND - Psicologia Clínica e Forense.
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