As separações convidam a que se questione a si próprio e à sua realidade. Em paralelo, a nostalgia pode revelar-se impetuosa, as memórias difíceis de abandonar e nunca será fácil dizer adeus àqueles que nos fizeram sentir profundamente ligados e esperançosos. Neste seguimento, são várias as razões pelas quais um término de relação se revela difícil de superar:

  1. A existência de um ganho secundário inconsciente ou uma necessidade que precisa de ser satisfeita, como por exemplo, a ambição/expectativa de um futuro a dois e todos os planos que isso envolve;
  2. A possibilidade de que a outra pessoa esteja a enviar sinais contraditórios que alimentem a esperança ou que a leitura desses sinais esteja distorcida por questões emocionais;
  3. A ausência de forma de manter a concentração noutras questões, para além da vida relacional.

Embora as três razões acima sejam válidas, um conceito psicológico menos conhecido que pode estar a dificultar a progressão chama-se Efeito Zeigarnik, com base no nome de Bluma Zeigarnik, psicóloga soviética. Este efeito demonstrou ter repercussões na nossa perceção de término, tornando difícil evitar situações dolorosas e pode ser definido como a tendência psicológica para recordar uma tarefa incompleta mais prontamente do que uma tarefa completa.

Como se aplica isto às relações? A principal consequência do Efeito Zeigarnik nas relações é a dificuldade em ultrapassar a rejeição ou o fim. Isto manifesta-se tipicamente em duas situações: nas separações ou num amor não correspondido (e rejeição desse amor). Por vezes, é possível superar rapidamente a rejeição quando, por exemplo, existe um investimento emocional limitado ou quando as necessidades primárias foram satisfeitas. O Efeito Zeigarnik é mais significativo quando estamos emocionalmente investidos, no resultado de um envolvimento, e sentimos que há algo que ainda está por acabar. E por que razão é tão difícil afastar-se, apesar de saber que não vai funcionar? A situação inacabada cria tensão psicológica. Primeiro, é fundamental compreender que é menos provável aceitar a rejeição de outra pessoa, enquanto sentir que há assuntos inacabados. Desde que acredite que não obteve o resultado desejado, considerará que o objetivo foi interrompido sem o seu consentimento ou controlo. A consequência desta perceção é que começa a experienciar a dissonância cognitiva, uma forma de stresse psicológico experimentada por uma pessoa que detém duas ou mais crenças, ideias ou valores contraditórios em simultâneo.

Tanto nas separações como no amor não correspondido, a dissonância resulta de desejos contraditórios de avançar versus terminar o que começou. Embora saiba intuitivamente que deve aceitar a rejeição e seguir em frente, outra parte igualmente convincente acredita que não deve desistir e prosseguir o término da sua intenção original. Esta experiência de tensão psicológica é particularmente angustiante e difícil de libertar. Pode tornar-se inviável concentrar-se em tarefas básicas, enquanto tenta desesperadamente conciliar o melhor rumo de ação. Enquanto num minuto quer seguir em frente com a sua vida, quase imediatamente outra voz assegura-lhe que não acabou e que ainda pode obter o resultado que deseja.

Para a relação não correspondida, poderá lembrar-se de detalhes ínfimos sobre as suas interações que levaram à rejeição e, inclusive, onde errou. Pode lembrar-se de todas as experiências positivas que teve com aquela pessoa que contrarie a sua decisão e tentar fazer mais do que isso. Pode dar por si a ter ideias do que fazer de diferente para garantir que a pessoa o vê como uma opção romântica e não como um amigo. Se estava numa relação, poderia lembrar-se durante o período de lua-de-mel em que tudo era perfeito e harmonioso. Pode voltar com afeto a todas as atividades que costumavam fazer juntos e redescobrir as razões pelas quais primeiro se apaixonaram um pelo outro. Algures na sua memória, poderá tropeçar em mudanças cruciais no seu comportamento que tenham mudado a natureza da relação, períodos que desejaria poder visitar novamente e mudar.

Independentemente do seu cenário, é provável que acredite que, dada uma oportunidade, uma simples mudança na estratégia produzirá um resultado diferente. Talvez pudesse demonstrar melhor como pode ser divertido com mais atividades que procuram emoções. Talvez pudesse provar à sua ex-relação que é capaz de se comprometer e de ser menos egoísta. Qualquer que seja a sua proposta, o Efeito Zeigarnik torna-o mais fácil ao combinar uma necessidade psicológica de fechar o ciclo aberto (isto é, causador de tensão) e proeminência na sua memória e facilita-lhe inevitavelmente a memória de tudo o que aconteceu antes como uma oportunidade para alterar o resultado, tudo porque o seu objetivo original foi deixado inacabado sem o seu consentimento.

Tradicionalmente, existem três métodos para resolver a tensão psicológica:

  1. Mudar a sua crença: Aceitar que já não gostam de si e seguir em frente.
  2. Obter novas informações: Adquirir mais conhecimentos que guiarão numa direção, ou seja, continuar a perseguir até ser novamente rejeitado ou mudar de ideias.
  3. Reduzir a importância do cenário, por considerar que tem outras coisas para fazer e mais mundo para conhecer.

A segunda opção é o que nos leva a continuar a perder tempo com as pessoas que não nos querem. Em vez de tomar uma decisão firme e avançar, ou de nos concentrarmos em coisas mais importantes como o desenvolvimento pessoal, optamos por procurar provas que provem que ainda há esperança, apesar de termos sido rejeitados.

A solução para responder a esta pergunta reside na nossa capacidade de eliminar ideias contraditórias nas nossas cabeças. Lembre-se, a tensão persistirá até obter o resultado desejado, seja qual for a opinião de qualquer julgamento externo e que isso não. Isto é fundamental para compreender como lidar com o Efeito Zeigarnik. Não importa o que alguém lhe diga, nada mudará até que esteja satisfeito por ter resolvido o assunto inacabado. Cabe ressaltar que nenhuma das informações apresentadas pode justificar comunicações indesejadas, seja por mensagens ou telefonemas, seja através de e-mails e redes sociais (Instagram, Facebook, Whatsapp, entre outros), ou outras formas de conduta, incluindo assédio, controlo e até perseguição.