Com frequência, ouvimos pais a dizer aos seus filhos que “deviam ser agradecidos”, forçando-os, de seguida, a dizer um “obrigado” mal-amanhado. No entanto, a investigação reforça a necessidade de cultivar a gratidão nas crianças, não desta forma, mas através de bons exemplos por parte dos adultos, e de encorajamentos para notarem nas ações bondosas à sua volta.

É importante constatar que a gratidão vai muito além de um simples “obrigado” e cujo poder pode impactar positivamente o nosso bem-estar. Num estudo feito, em 2003, por Robert Emmons, professor na Universidade da Califórnia, e seus colaboradores foi pedido a grupos de pessoas que escrevessem uma lista de: a) inconveniências; b) coisas que estavam gratos, ou c) eventos diários. Neste estudo, os participantes que foram atribuídos à tarefa da lista de gratidão experienciaram maior felicidade, prazer e entusiasmo que os restantes. Vários outros estudos têm assinalado vários impactos positivos da gratidão, não só na saúde emocional, relações interpessoais e românticas, satisfação com a vida, mas também na saúde física, impactando de forma positiva o sono, a pressão sanguínea e até os biomarcadores de risco para doenças cardiovasculares.

Para ajudar os seus filhos a colher estes e outros benefícios desta prática, importa dar os passos na direção certa. Para isso, temos sugestões para o ajudar:

1) Seja um exemplo. A frase “faz o que eu digo, não faças o que eu faço” pouco ou nada funciona. Em vez de apenas dizer ao seu filho que deve ser agradecido, deve mostrar o que isso é na prática. Um estudo de 2017, feito pelo investigador americano William Rothenberg e sua equipa, verificou que pais agradecidos tendem a criar filhos agradecidos. Um outro estudo publicado na revista Emotion, em 2024, concluiu que a prática da gratidão por parte dos pais nas suas vidas (em geral) é promotor de bem-estar dos pais e de um melhor funcionamento familiar.

2) Procure. Toda a gente tem algo pelo qual se possa sentir agradecido e, por vezes, a parte mais difícil está em encontrá-lo. Para que o consiga fazer, tem de treinar a procura à sua volta. Experimente olhar em redor e perguntar “que coisas fazem a minha vida melhor?” ou “o que tenho, que, para mim, é importante ter na minha vida?”. Partilhe com o seu filho o que encontra e que tais aspetos fomentam em si, enquanto adulto, a sentir gratidão.

3) Faça do pouco muito. Quando o seu filho tiver uma atitude carinhosa, enfatize a sua gratidão. Por exemplo, quando o seu filho fizer um desenho, pode responder-lhe dizendo “Uau! Esforçaste-te tanto para fazer este desenho para mim, obrigado!”, ou quando lhe expressar carinho, pode dizer algo como “este abraço/ beijinho é tão bom!”. Pode também mostrar gratidão junto do seu filho, simplesmente contando e partilhando com ele momentos de alegria do seu dia, ou expressando o quão bem está a ser a atividade, comida, ou conversa que estão a ter no momento.

4) Questione os seus filhos sobre como se sentem quando recebem algo especial ou fizeram algo que gostam. Estas são oportunidades importantes de explorar com o seu filho as suas emoções e ajudá-los a identificar e expressar gratidão por aquilo que têm. Por vezes, as crianças podem não ser capaz de expressar a sua gratidão, por falta de consciência daquilo que sentem, pelo que é importante treinar essa consciência com perguntas simples e abertas.

5) Ajuste as suas expetativas. Algumas famílias conseguem encontrar formas de estimular a gratidão diariamente, fazendo, por exemplo, jogos à hora de jantar em que os membros têm de partilhar algo pelo qual se sintam gratos. Apesar de poderem ser excelentes estratégias, todas as famílias são diferentes e não há problema se esse tipo de estratégia não resultar. O facto de não terem uma rotina diária, ou um agradecimento intenso frequente, não significa que esteja a fazer um mau trabalho.

6) Procure perceber o que se passa. É frustrante quando damos o nosso melhor e sentimos que isso não é reconhecido e é tomado por garantido. É comum os pais sentirem isso em determinada medida. Nesses momentos, é importante ir além da frustração e zanga, e explorar de forma curiosa a experiência do seu filho. Em vez de o repreender, dizendo que é ingrato, experimente perguntar-lhe como é que ele está, ou o que se tem passado na sua vida nos últimos tempos. Frequentemente, o seu filho pode estar tão enredado em algo, que a sua atenção ao restante se torna limitada.

A gratidão fica-lhe bem e encontrá-la é uma capacidade que está ao seu alcance treinar. Caso sinta que tem dificuldade em fazê-lo, pode recorrer a estratégias como começar a escrever um diário de gratidão, no qual, diariamente lista apenas uma coisa pela qual se sente grato (podendo aumentar gradualmente esse número, à medida que se tornar mais fácil). Uma versão desta estratégia para os mais novos poderá ser “a caixa da gratidão”. Nesta, a criança, com ajuda dos adultos, pode escrever ou desenhar num post-it colorido algo pelo qual está grata (desde coisas relacionadas com a família, casa, brinquedos, como também as suas relações e escola). Quando devidamente utilizada, este tipo de estratégia não só ajuda a cultivar a gratidão, como ajuda a desenvolver a comunicação entre pais e filhos.

Pode começar a desenvolver a sua gratidão hoje mesmo. Nós, por exemplo, estamos gratos por poder escrever este texto e o mesmo estar a ser lido por si. Obrigado e boas festas!