Vivemos em tempos onde, independentemente da profissão desempenhada, existe uma enorme exigência de rapidez e eficácia, muitas vezes ao custo da saúde mental dos profissionais.
Em Portugal, o stress e saúde mental custou, em 2022, cerca de 5,3 mil milhões de euros às empresas portuguesas. A dimensão destes custos torna evidente que a problemática da saúde mental e stress no trabalho deve ser mais discutida e refletida.
Certo é que algumas profissões são mais exigentes do que outras, devido a diferentes realidades, desafios e tarefas. No entanto, existem fatores comuns a diversas áreas profissionais, que contribuem para superiores níveis de stress ocupacional, designadamente:
- Condições físicas desadequadas (por exemplo, espaços pouco ventilados, ruidosos e pouco seguros);
- Sobrecarga e subcarga de trabalho;
- Horários alongados;
- Rendimentos baixos;
- Pouco controlo sob o trabalho;
- Medo de perder o emprego;
- Não progressão na carreira;
- Sobreposição de cargos ou cargos pouco claros;
- Incapacidade de gerir a vida familiar e a vida laboral.
Estes fatores, entre outros, contribuem, assim, para níveis elevados de stress, o que se repercute no próprio trabalho desempenhado, uma vez que estão associados a uma maior taxa de absentismo e abandono laboral.
Por outro lado, apesar de estes fatores estarem presentes em muitas profissões, nem todas as pessoas têm níveis de stress ocupacional elevados ou patológicos. Isto deve-se ao facto de estas deterem fatores protetores, entre os quais a existência de estratégias adequadas para lidar com stress e a existência de uma rede familiar e social que proporciona segurança e apoio.
As consequências do stress ocupacional incluem uma maior probabilidade de ter problemas físicos (como, por exemplo, problemas gastrointestinais, hipertensão arterial, flutuações de peso), psicológicos (tais como irritabilidade, frustração, depressão e ansiedade) e comportamentais (como, a título de exemplo, o consumo de tabaco, álcool e drogas). O stress ocupacional, se não intervencionado, pode constituir uma primeira fase de problemas psicológicos mais nocivos, como é o caso do burnout.
Mas como podemos identificar o stress ocupacional? E como o poderemos evitar? Alguns passos podem ser adotados para gerir e monitorizar os níveis de stress no trabalho:
- Monitorizar os stressores: o registo, num diário, das situações no trabalho que mais provocam stress e do modo como normalmente se responde a estas poderá ser útil para identificar os principais stressores. É importante escrever os pensamentos, sentimentos e informação acerca do ambiente profissional (incluindo interações com colegas ou chefias e desafios que vão surgindo), de modo a identificar padrões de stress no trabalho.
- Desenvolver estratégias eficazes para gerir o stress: adotar estratégias adequadas para lidar com stress é fundamental para garantir que este não se intensifica. Em vez de beber álcool, fazer atividades físicas ou partilhar as preocupações com superiores, familiares e/ou amigos pode ser um importante passo.
- Estabelecer limites: saber separar a vida familiar da vida profissional é fulcral para evitar que o stress impactue diversas áreas da vida da pessoa. Estabelecer limites claros, não trazendo os problemas do trabalho para casa, nem os problemas de casa para o trabalho, é imperativo para evitar o stress ocupacional.
- Tire um tempo para si: saber “desligar” do trabalho, através de um tempo livre em que não se fala, pensa ou se realiza atividades relacionadas com o trabalho é fundamental para “recarregar” os recursos internos da pessoa e prepará-la para um novo dia.
Para além destes passos, a adoção de estratégias de relaxamento (por exemplo, técnicas de meditação e mindfulness) pode surgir como uma ferramenta importante para combater o stress e evitá-lo.
Se sente que o stress ocupacional já faz parte da sua vida e se sente que não o consegue combater, procure ajuda. Não está sozinho(a).
Um artigo dos psicólogos clínicos Mariana Moniz e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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