Como já tivemos a oportunidade de abordar em publicações anteriores, vivemos na era da tecnologia, onde a interação com pessoas do outro lado do globo se tornou quase tão fácil como a interação com pessoas do nosso círculo social imediato. As redes sociais tornaram-se, efetivamente, parte normal da nossa vida quotidiana.
Não fará sentido falarmos do uso das redes sociais sem primeiro reconhecer que estas trazem, na realidade, imensas mais-valias: permitem-nos satisfazer as nossas necessidades de socialização e experimentar com a nossa identidade, facilitando a comunicação e conexão com os outros. No entanto, do ponto de vista psicológico, é já reconhecido que muitos de nós utiliza redes sociais em excesso, o que pode trazer consequências adversas à nossa saúde mental. O uso excessivo das redes sociais tem sido atribuído a sentimentos de solidão e sintomas depressivos, tais como baixa autoestima e reduzida satisfação com a vida. Associado ao facto de que muitos de nós ficam “perdidos” nas redes sociais (a nível mundial, os adultos passam mais de duas horas e meia nas redes sociais, por dia), este uso pode trazer consequências devastadoras para o nosso bem-estar psicológico.
Mas como podemos reduzir o tempo que passamos nas redes sociais? Como tornar esta utilização mais saudável? Certo é que é mais fácil reconhecer a necessidade de reduzir do que concretizá-la, mas há estratégias que podem ser adotadas para gerir e minimizar o impacto das redes sociais, permitindo construir uma relação mais saudável com estas e beneficiar, essencialmente, dos seus aspetos positivos.
- Definir um objetivo geral: em primeiro lugar, é importante determinar o que se quer obter do uso das redes sociais. Por exemplo, se for “conectar com outras pessoas, sem substituir as relações cara-a-cara”, poderá ser útil escrever esse objetivo num papel, caderno ou lembrete, facilmente acessível. Se estiver tentado/a a usar as redes sociais desnecessariamente, poderá relembrar esse objetivo e manter o foco.
- Iniciar um registo do consumo digital: escrever, num documento, o tempo despendido nas redes sociais e registar quais as plataformas mais usadas e como se sente depois. No final de uma semana, conseguirá partir para uma análise mais clara do tempo passado nas redes sociais e do modo como estas afetam o seu bem-estar (por exemplo, conseguirá perceber o que deixou de fazer para seu crescimento pessoal).
- Definir metas e limites específicos: se quiser reduzir o tempo passado nas redes sociais, poderá estipular limites. Definir uma meta de uma hora de utilização por dia, consecutiva ou dividida em sessões de 20 minutos, será um bom ponto de partida. Se quiser reduzir o tempo passado a ver vídeos em redes sociais como o TikTok ou Instagram, estipular um número máximo de vídeos a ver poderá funcionar. Se tiver dificuldades em manter essas metas, desligar as notificações do telemóvel, ou até mesmo colocá-lo numa divisão da casa diferente, poderá ser útil. Atualmente, alguns telemóveis já estão equipados com funcionalidades que limitam a utilização de aplicações e que planeiam períodos longe destas.
- “Limpar” o feed: não havendo um limite das páginas ou pessoas que podemos seguir, não são raras as vezes que nos deparamos com publicações que nos fazem pensar “porque é que estou a seguir esta pessoa/página?”. Deixar de seguir contas que não nos beneficiam (por exemplo, de influencers, onde padrões de beleza irrealistas são frequentes, ou a publicidade aparentemente silenciosa é uma constante) permitir-nos-á reduzir o impacto que as redes sociais podem ter na nossa autoestima.
- Encontrar um substituto às redes-sociais: se as redes sociais ocupam um espaço significativo do seu dia, será importante definir atividades substitutas. Fazer uma lista de atividades que gosta e procurar realizá-las irá diminuir a vontade de regressar ao telemóvel.
- Definir zonas livres de redes-sociais: em casa, estipular que o uso das redes sociais é proibido no quarto, casa-de-banho ou mesa de jantar diminuirá o uso desnecessário destas tecnologias. Se alargar estas regras a toda a família, decerto construirá um ambiente familiar mais interativo e dinâmico.
- Dificultar o acesso às aplicações: manter os dados móveis ou WiFi desligado ou eliminar as aplicações que lhe consomem mais tempo poderá ser útil.
- Fazer “pausas” das redes sociais: definir um dia em que não acederá, de todo, às redes sociais (por exemplo, definir que, às segundas-feiras, não irá utilizar estas redes) levará a que se sinta mais presente e focado/a.
Todas estas estratégias poderão contribuir para minimizar a utilização desnecessária das redes sociais, permitindo-nos usufruir, no tempo limitado que passamos nestas, das suas regalias, em vez de perdermos tempo em páginas desnecessárias e, muitas vezes, nocivas para o nosso bem-estar e autoestima.
A incapacidade de implementar, sozinho/a, estas estratégias poderá justificar a procura de ajuda especializada, onde estes planos poderão ser implementados de forma faseada, ajustada ao nível de dependência de cada um e monitorizada.
Se sente que o uso das redes sociais está a pôr em causa o seu bem-estar psicológico, procure ajuda. Não está sozinho/a.
Um artigo dos psicólogos clínicos Mariana Moniz e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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